COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
O comunicador Odebrecht.
‘O comprometimento dos presidentes e CEOs das empresas com a política, estratégia e planejamento das ações de relacionamento é descrito pelos manuais como o estado da arte na comunicação empresarial. Profissionais experientes da área sabem que, sem o envolvimento da alta direção, a tarefa dos comunicadores é inglória e ineficaz.
Infelizmente, não são muitas as empresas brasileiras comandadas por presidentes-comunicadores. Alguns exemplos históricos foram Edson Vaz Musa, presidente da Rhodia, nos anos 1980, e Rolim Adolfo Amaro, da Tam, nos anos 1990, ambos reconhecidos pela sociedade e pela imprensa por sua capacidade de estabelecer vínculos diferenciados com clientes, empregados, comunidades, professores e jornalistas.
Quase na contramão dos exemplos mediáticos citados, mas embasado em uma experiência empresarial singular, Norberto Odebrecht, da Organização Odebrecht, também fincou o seu nome nessa galeria. Ao longo de seis décadas, o empresário consolidou um modelo de negócios regulado pela negociação, pelo alinhamento na Comunicação e, acima de tudo, pela confiança recíproca entre os públicos de sua corporação.
Norberto é um exemplo que coloca por terra o mito da dicotomia entre homens de ação e pensadores. Em meio às alegrias e às adversidades, a partir dos anos 1940, foi escrevendo e divulgando a sua visão de empresa e da atividade de empresário. Mais tarde, em 1983, esse conjunto de princípios, conceitos e critérios dando unidade ética e cultural à atuação de sua Organização foi transformado no livro intitulado Sobreviver, Crescer e Perpetuar.
Nele, Norberto sistematizou o que chamou de Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), adotada como filosofia da empresa, e que delineia o ideário e o modelo organizacional e a visão de vida de seu fundador. É nas reflexões contidas nesta obra que gerações de empregados buscam orientação e inspiração para construir uma empresa que visa ter, até 2010, faturamento anual superior a US$ 15 bilhões.
Os fundamentos da TEO combinam as diversas referências sócio-culturais e religiosas da formação do empresário, permeada pela rigidez luterana, pela determinação germânica e pela flexibilidade baiana, terra adotada na infância, quando ainda só sabia falar alemão. Aos 14 anos, começou a trabalhar como pedreiro na construtora do pai. Conviver com os peões, respirar nuvens de cal, cimento e areia e ficar ensurdecido com o som das britadeiras foi tão importante para a sua formação quanto as aulas de filosofia do pastor Arnold, seu preceptor na infância.
O resultado de uma formação tão rica está consolidado num dos reconhecidos tesouros da melhor filosofia empresarial. Sua base é a convicção de que o Ser Humano é capaz de desenvolver-se; de melhorar a si mesmo, humanizando-se por meio do trabalho e constituindo-se no princípio, meio e fim de tudo o que existe na Sociedade. O recado direto do empresário às futuras gerações é que não se separa geração de conhecimento da geração de riqueza. Ser empresário, para Norberto, não é apenas uma escolha profissional, um mero exercício de um tipo de atividade ou ocupação no mundo do trabalho. É uma ‘atitude básica diante da vida, uma opção por tornar-se fonte de atos geradores de riqueza material e moral’.
Norberto recorre ainda a filósofos da Antiguidade, do Renascimento e da Era Moderna para afirmar que uma organização não pode estar calcada em relações de dependência, subordinação ou autoridade, mas sim de interdependência. ‘Um Ser Humano precisa de outro Ser Humano. Todos são Parceiros’. A máxima ‘a pedra atrai a Terra, assim como a Terra atrai a pedra’, formulada por Galileu Galilei no campo da física, foi transposta por ele para o meio social, para concluir que a hierarquia, ‘se existir e for útil, deve funcionar como uma convenção para melhor organizar as partes de um Todo Organizado Vivo’.
A trajetória do empresário Norberto Odebrecht lembra em muito a ótica de Joseph Campbell sobre a formação do herói mítico, aquele personagem que vive uma jornada repleta de obstáculos, ultrapassa-os e dela traz contribuições para a sua comunidade. No caso de Norberto, a comunidade não se restringiu a Bahia, onde nasceu a empresa, mas ultrapassou as fronteiras do Brasil, da América do Sul, América do Norte, África, Europa e Ásia. Aqueles que conhecem o homem que é Norberto Odebrecht sabem que ele por certo não veste a carapuça de herói. Mas herói é pura percepção que ultrapassa a singularidade de um querer.
O fundador e o seu livro são marcos referenciais da comunicação empresarial da Odebrecht. Um dos grandes méritos da obra é ter sido elaborada a partir da criação e das atividades da empresa. O mais comum no ambiente corporativo são as reflexões aparecerem depois do sucesso ou fracasso da organização. Por esse jogo interessante entre o criador e a sua obra, os novos comunicadores empresariais deveriam se debruçar sobre a história da comunicação empresarial da Odebrecht como fonte de bom aprendizado. É uma forma de absorver o ensinamento adaptado por Norberto do pensamento do filósofo italiano Sêneca: ‘Só existem ventos favoráveis para quem sabe aonde vai’.’
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.