Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ricardo Kotscho

‘Penei para encontrar um bloco de anotações em casa, peguei um trânsito danado de tarde de sexta-feira chuvosa em São Paulo, a caminho da minha primeira entrevista deste ano, mas valeu a pena. De bermudas, camiseta regata e chinelos, encontrei bem tranqüilo o velho amigo em seu apartamento da Vila Mariana, um bairro de classe média da zona sul de São Paulo.

Nem parecia que estava às vésperas de enfrentar um julgamento na Câmara dos Deputados, que vai decidir seu destino político na próxima quarta-feira, dia 23, e pode deixá-lo sem mandato até 2013, depois de quarenta anos de vida pública.

Acabou sendo, na verdade, mais uma conversa do que uma entrevista formal com José Dirceu de Oliveira e Silva, mais conhecido como Zé Dirceu, ex-líder estudantil, ex-guerrilheiro, ex-presidente do PT, ex-ministro chefe da Casa Civil, que vai completar 60 anos no próximo mês de março.

Entre um ato e outro de solidariedade que vem recebendo nos últimos dias – quinta, no Rio; sexta, em São Paulo; sábado, em Belo Horizonte – Zé passou a tarde no apartamento, atendendo a telefonemas, conversando com a mulher, Maria Rita, dando uma olhada na correspondência e fazendo um balanço do que aconteceu nestes últimos seis meses em que ele se viu no centro do furacão da maior crise enfrentada pelo governo Lula.

Por maiores que sejam as evidências, engana-se quem imagina que ele já tenha jogado a toalha. ‘Muitos acreditam, até o presidente Lula, que é muito difícil eu não ser cassado, mas eu ainda não perdi as esperanças. Por que? Porque sou inocente. Está havendo, nestas últimas semanas, uma mudança na opinião pública e na sociedade em relação à minha pessoa. Percebo isso pelo apoio que recebo nas ruas, nos aeroportos, nos atos públicos’.

Otimista, procura mostrar confiança no seu próprio destino, qualquer que seja o resultado de quarta-feira, e no futuro do país. Revela que alertou o presidente Lula, em duas ocasiões, no começo deste ano, sobre a iminência de uma grave crise política motivada pela falta de maioria do governo na Câmara e no Senado. Defende a recandidatura de Lula, mas não se recusa a arriscar possíveis outros nomes do PT e da base aliada para a disputa da sucessão presidencial.

Nostálgico, gosta também de falar do passado. Lembra da sua estréia na vida política, em 1965, quando, a convite de Luiz Travassos, seu colega na Faculdade de Direito da PUC paulista, entrou de cabeça na campanha pela revogação do Decreto-Lei 477 da ditadura, que acabou com a UNE e os centros acadêmicos.

Conheci Zé Dirceu dois anos depois, quando já era presidente da União Estadual dos Estudantes e eu estava começando no ‘Estadão’, que já não gostava dele. Eram dias de batalha campal na rua Maria Antonia, com Zé e Travassos de um lado, comandando as tropas da esquerda contra a ditadura, e do outro a turma do Mackenzie, reduto do Comando de Caça aos Comunistas. Todo dia ele reclamava da cobertura e eu era obrigado a explicar a ele que quem manda em jornal é o dono, não o repórter.

Somos amigos desde esta época, apesar de muitos arranca-rabos – e quem que conviveu com a polêmica figura não os teve? Trabalhamos juntos em três campanhas presidenciais de Lula (1989, 1994 e 2002) e nos primeiros dois anos de governo. Na primeira campanha, tivemos uma discussão mais feia. Lula iria se encontrar no comitê de campanha com Fernando Gabeira, um dos nomes cotados para ser seu vice. ‘Quem foi o fdp que avisou a imprensa? Esse encontro não era para ser divulgado, porra’, vociferou meu amigo.

‘Fui eu’, respondi-lhe, singelamente, na frente de um batalhão de repórteres. Ninguém tinha me avisado de que se tratava de uma reunião reservada e, na minha função de assessor do candidato, achei que devia chamar a imprensa. Afinal, era pago para isso. Mais tarde, em particular, desafiei o Zé, brincando: ‘Olha, companheiro, você não pode falar assim comigo e, além de tudo, não pode me mandar embora, nem me expulsar do PT’.

Secretário-geral do partido na época e um dos coordenadores da campanha, ele sentiu-se desafiado pelo desabusado assessor e queria saber ‘como assim?’, qual a razão desta segurança toda. ‘É porque eu sou diretor do sindicato dos jornalistas e, portanto, tenho imunidade, não posso ser demitido. E não posso ser expulso do PT porque nunca entrei no partido’.

***

Lembramos dessas e outras histórias durante as nossas conversas de sexta-feira. Abaixo, um resumo, em forma de pingue-pongue, como falavam os repórteres de antigamente, que nunca saiam de casa sem um bloco de anotações.

A pergunta que todo mundo está-se fazendo: afinal, o que aconteceu? O que aconteceu com você, o governo, o PT e o país nos últimos seis meses?

A oposição aproveitou-se de graves denúncias feitas pelo Roberto Jefferson para iniciar um movimento com o objetivo de desestabilizar o governo e inviabilizar a reeleição do presidente Lula, que era dada como certa àquela altura. O quadro se agravou com a descoberta do financiamento ilegal do PT através do esquema de Marcos Valério, que já tinha sido usado pelo PSDB, em 1998. Isso foi possível porque o governo vinha há vários meses sem maioria na Câmara e no Senado. Investigações necessárias se transformaram num instrumento da oposição contra o governo. Revelou-se também a crise do sistema político partidário e eleitoral do país. Presidente sem maioria acaba levando a oposição à tentação de antecipar a sucessão presidencial. Evidentemente, nada disso significa esconder nossos erros ou a necessidade de se apurar as denúncias de corrupção na administração pública federal.

E agora? É possível prever como estarão você, o governo, o PT e o país daqui a um ano, quando teremos eleições gerais?

Tenho certeza de que o país estará melhor no ano que vem porque o PT e o governo estão tirando uma grande lição desta crise. Há uma segurança hoje no crescimento econômico e a população terá a oportunidade de julgar não só o governo, mas também o comportamento da oposição. O PT renovado ainda será o principal ator da eleição de 2006. Cassado ou não, estarei, como cidadão, fazendo o que sempre fiz: política.

Nos seus piores pressentimentos, antes de estourar a crise em maio, você poderia imaginar que chegaria ao final do ano fora do governo, ameaçado de cassação e com setores da oposição pedindo o impeachment do presidente Lula?

Eu tinha, sim, um pressentimento de que haveria uma grave crise e que o presidente Lula poderia sofrer um processo de impeachment. E disse isso ao presidente. Por duas vezes, em fevereiro e maio, pedi ao chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que marcasse uma audiência para que eu pudesse conversar a sós com Lula na primeira hora da manhã. Alertei o presidente de que, depois do caso Valdomiro Diniz e do que estavam fazendo com o Henrique Meirelles, publicando até o contrato de casamento do presidente do Banco Central, era um sério risco ficar sem maioria nas duas casas do Congresso. Poderíamos sofrer um processo de desestabilização. Era preciso fazer logo a reforma ministerial, aumentar a participação do PMDB, um assunto que já vinha sendo discutido desde o final do ano anterior e só foi resolvido em julho, já em meio à crise. Ele concordava comigo, mas o tempo foi passando… Por duas vezes, em novembro de 2004 e abril deste ano, pensei em sair do governo. Falei sobre isso com o presidente, mas sofri muitas pressões de outros ministros, do PT e das bancadas para ficar.

No dia da sua posse na Casa Civil, você relembrou as lutas de várias gerações para que fosse possível aquele momento da chegada do PT e de Lula ao poder. Diante do quadro atual, que esperanças restam para as novas gerações e em torno de que bandeiras é possível mobilizar de novo a população?

Eu acredito que se pode e se deve mobilizar a população, principalmente os jovens. Ainda temos uma longa jornada pela frente na luta contra a pobreza, em defesa do meio ambiente, por mudanças na educação, a necessidade de fazermos a reforma política. Pela minha experiência de vida, nas diferentes fases vividas pelo Brasil, e vendo as lutas de partidos de esquerda em outros países, penso que não se pode julgar o PT por esses erros de agora, mas por toda a sua história. Seria como julgar a Igreja toda pela Inquisição. Para mim, nem os sonhos, nem as esperanças acabaram.

Às vésperas do teu julgamento pela Câmara, como você se sente? Em que tem pensado nos poucos momentos em que fica sozinho?

Eu me sinto profundamente reconfortado pelo apoio que venho recebendo. Evidentemente, estou triste, mas não amargurado, por tudo o que aconteceu. E eu tenho feito uma reflexão profunda sobre os erros que nós cometemos e como posso ajudar a superar esta situação. Minha vida pessoal não mudou. Faço exercícios todos os dias, acabei de ler ‘A Aventura de Miguel Líttin Clandestino no Chile’, de Gabriel Garcia Marques (a história de um cineasta que consegue escapar do fuzilamento nos anos Pinochet) e agora estou lendo ‘O Diário de Nina’, de Nina Lugovskaia (o terror stalinista nos cadernos de uma menina soviética). Já li mais de dez livros nesta crise. Vejo filmes em casa, vou à Câmara, cuido da minha defesa. E durmo razoavelmente bem para a situação que estou vivendo.

O que você pretende argumentar em seu discurso do dia 23 para convencer a Câmara de que é inocente e por isso não deve ser cassado?

Trata-se, como todo mundo sabe, de um julgamento político. Não há provas contra mim. Ao contrário, as CPIs estão chegando á conclusão de que não houve compra de votos e que eu não tive participação nos empréstimos concedidos ao PT. Minha vida foi devassada e nada se provou contra mim. Tentaram envolver até minha família e meus amigos, e nada ficou provado. Muitos políticos e até familiares de vários deputados, inclusive de partidos de oposição, já mudaram de opinião.

Você já disse que não abandonará a vida política. Mas, caso seja cassado, de que forma se dará a sua participação?

Quero participar do debate político nacional indo a debates, escrevendo, fazendo palestras, ajudando o PT, atuando junto aos movimentos sociais e às ONGs, como sempre fiz.

Qual foi o maior acerto e o maior erro do governo Lula? E qual foi o maior acerto e o maior erro do ministro José Dirceu?

O maior erro do governo foi não ter feito a reforma política e administrativa logo no início do mandato. O maior acerto está na política externa. O meu maior erro foi não ter saído do governo antes desta crise. E o maior acerto foi ter ido para o governo. A vida é assim…

Você já disse que o presidente Lula deve se candidatar à reeleição para defender a sua biografia, o governo e o PT. Mas, caso ele não se recandidate, quais são os outros nomes mais prováveis no campo do PT e da base aliada?

No PT, o ministro Palocci, a Marta Suplicy e o Aloísio Mercadante, que são nomes nacionais. Na base aliada, o vice José Alencar, o ministro Ciro Gomes e o governador Roberto Requião.

Quais são os teus planos de vôo daqui para a frente? Você já encarou vários personagens que atendem pelo nome de José Dirceu. Qual o papel que você reserva para si mesmo daqui para a frente?

Um militante político, agora com quase 60 anos, com menos cabelos e que passou uma grande experiência na vida, ajudando a eleger o presidente da República e participando do seu governo. Mais humilde, mais maduro, espero… Mas, ao mesmo tempo, com a mesma paixão.

***

Já estava na hora de ir para o ato na Câmara Municipal. As conversas param por aqui. Quem quiser saber mais, pode escrever para o endereço dep.josedirceu@camara.gov.br. Zé Dirceu costuma responder aos e-mails que recebe. Se vai ter mais ou menos tempo para se dedicar à correspondência, na quarta-feira todos vão saber.

Se o seu fio de esperança arrebentar, ele já sabe o que vai fazer primeiro: passar alguns dias em alguma praia distante para ditar ao jornalista e escritor Fernando Morais suas memórias de trinta meses de governo. Mas, se depender do seu ânimo, o celebrado biógrafo ainda terá que esperar por um bom tempo.

Quarenta anos depois, Zé Dirceu não quer sair de cena. Como a política é, acima de tudo, a arte da representação, ele habituou-se aos palcos da política e reluta em voltar ao anonimato da sua juventude em Santa Rita do Passa Quatro, na divisa de Minas com São Paulo.’



Carlos Chaparro

‘A crise atinge o jornalismo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/11/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Sob as pressões dos embates políticos, em crises como a que aí está, o jornalismo deve ser tão ousado na investigação quanto prudente na divulgação. Para que não dê status de verdade a informações que não pode confirmar. E para que não corra o risco de devorar-se a si próprio, destruindo a sua confiabilidade, como linguagem, método e processo.

1. Das duas, uma…

O ministro Antônio Palocci Filho falou: ‘Amo a democracia, defendo a liberdade de imprensa, mas peço a todos, pelo bem da democracia e respeito às autoridades, que façamos as investigações com base nos critérios da lei (…)’. Depois, no subtexto de uma frase de efeito, garantiu que a imprensa mentiu: ‘Não há recursos de Cuba, nem de Angola, nem das Farc na campanha do presidente Lula. (…)’.

Ora, se a imprensa mentiu, e com a mentira feriu a honra de alguém (no caso, a dele próprio, ministro Palocci) e vilipendiou o princípio constitucional da presunção de inocência, direito ao qual também o ministro tem direito, deve então ser processada. Das duas, uma: ou as denúncias são verdadeiras e, por sua gravidade, devem resultar em penas para o ministro; ou elas são falsas, e o ministro tem direito a elevados reparos, por graves danos morais. Deveria, portanto, processar quem disse ou insinuou que ele estaria envolvido em escabrosas histórias de ilegalidades eleitorais – histórias que fizeram o sucesso de algumas edições das principais revistas brasileiras.

Mas o ministro Palocci não processa, embora se declare atingido na honra pelas supostas mentiras. Por que, então, o ministro não processa as revistas, os jornais e os jornalistas que, segundo ele, mentiram à sociedade? Resposta dele próprio: para não criar constrangimentos ao exercício da liberdade de imprensa, que tanto ama.

Discordo do ministro. Essa não é maneira adequada de proteger a liberdade de imprensa, que, aliás, não é lá grande coisa como direito cívico. Liberdade de imprensa é um princípio liberal banhado na filosofia do ‘laissez-faire’ e da livre concorrência, para garantir aos donos dos jornais a liberdade de noticiar ou deixar de noticiar, sem interferências externas e sem balizamentos de responsabilidade social.

Mas essa é outra discussão. O registro que importa fazer, aqui, é este: ao optar por não recorrer agora à Justiça, para os reparos a que, a seu ver, teria direito, o ministro deixa-nos à vontade para trabalhar com a hipótese de que tudo é verdadeiro – o que dele se diz e o que em relação a ele se insinua.

No mínimo, resta-nos a dúvida: afinal, o que a Veja publicou é falso ou verdadeiro?

2. Sob fogo cruzado

Se a questão fosse colocada aos editores da Veja, a pergunta teria de ser formulada de outra maneira – assim: ‘Vocês têm a certeza de que a campanha de Lula recebeu dólares de Fidel, e que Antônio Palocci sabia disso?’

Quando, oito ou nove anos atrás, a Folha de S. Paulo divulgou, sem investigações de aferição, aquela gravação clandestina feita pelo ‘senhor X’, a partir da qual, em manchetes de primeira página, se fez o indiciamento público do falecido Sérgio Mota – o Serjão de FHC -, acusado de ser o estrategista da reeleição, na operação de compra de votos de congressistas, tive a oportunidade de perguntar ao ombudsman do jornal, Mário Victor dos Santos, se Fernando Rodrigues, o repórter da matéria, tinha a certeza de que Serjão era culpado. E ele me disse, sem hesitações nem meias palavras: ‘Não’.

Essa seria também a provável resposta dos editores da Veja, se lhes fizéssemos a pergunta sugerida dois parágrafos atrás: Vocês têm a certeza de que a campanha de Lula recebeu dólares de Fidel e das Farc, e que Antônio Palocci sabia disso?

Casos como estes fazem parte de um cenário em que o jornalismo fica fortemente pressionado pelas emoções dos conflitos, sob fogo cruzado de fontes empenhadas em lutas pelo poder. E são fontes competentes no uso da mídia, em táticas que incluem revelações em ‘off’, com elevado potencial de escândalo.

Sob tais pressões, há que ter ousadia na investigação e prudência na divulgação. O jornalismo não pode criar para si próprio o risco de jogar no lixo a confiabilidade da linguagem. Mas é isso que se faz, quando se renuncia à responsabilidade ética pelo que se divulga. Além do mais, todos sabemos que a divulgação jornalística apressada ajuda os culpados a se livrarem das provas.

Em crises políticas como esta que atravessamos, desenrolada no espaço público do jornalismo, a desgraça maior é o uso e abuso do artifício de plantar dúvidas, para colher vitórias. Que os sujeitos sociais e políticos em confronto façam isso, vá lá… Mas algo tem de ser questionado quando a imprensa entre nesse jogo, ou até voluntariamente contribui para ele, ao substituir a precisão de fatos e dados pela insinuação de revelações em ‘off’, dando status de verdade a informações que não pode confirmar. Quando assim é, o jornalismo devora-se a si próprio, entrando nos labirintos da especulação, em que, tão ocultas quanto certas fontes, se tornam as intenções de certos jornalistas.

É inaceitável que, por causa do sucesso imediato, se sacrifique no jornalismo o cuidado de investigar antes de divulgar. Com isso se sacrifica, também, a virtude da asseveração, característica essencial da linguagem jornalística. Para asseverar, é preciso investigar, investigar, investigar – com independência, honestidade, coragem e perseverança.

Jornalismo socialmente responsável é aquele que, na convicção profissional de quem o faz, só divulga hoje o que poderá ser confirmado amanhã. Se não for assim, estaremos destruindo a base sobre a qual assenta o sucesso social e cultural do jornalismo: a sua confiabilidade, como linguagem, método e processo.’



Reinaldo Azevedo

‘Clóvis Rossi e os ‘perfeitos idiotas’’, copyright Primeira Leitura (www.primeiraleitura.com.br), 21/11/05

‘Clóvis Rossi, veterano repórter e colunista da Folha, anda incomodado com o uso da palavra ‘bolchevique’ para aludir ao PT. Segundo ele, em texto publicado no domingo (clique aqui para ler íntegra), nem seu pai, ‘que morreu faz 36 anos, usava mais [a palavra], por obsoleta’. Seria prudente que Rossi desse uma chance a si mesmo e considerasse que seu pai pode ter-se equivocado. Morto o homem, então, em 1969, o tema do ‘bolchevismo’ tinha importância literalmente ‘cruel’ no Brasil e no mundo naquele ano e suas cercanias, para trás e para a frente.

A Revolução Chinesa é de 1949; a Guerra da Coréia se deu entre 1950 e 1953; a Revolução Cubana ocorreu em 1959; o conflito no Vietnã se entende por toda a década de 60 (a rigor, durante todo o pós-Guerra) e vai até 1975; Guevara morreu em 1967; as ditaduras comunistas e corruptas de Angola e Moçambique se estabeleceram em 1975, na esteira da Revolução dos Cravos de Portugal (1974); a guerrilha do Araguaia teve início em 1967 (e não depois do AI-5, em 1968, conforme se mente por aí)… O golpe no Chile é de 1973… Com colorações nativas e circunstâncias locais, que se confundiam, muitas vezes, com guerra de libertação nacional e luta anticolonial, o bolchevismo estava no centro de todos esses eventos. Eu não sei por que o pai de Rossi já não empregava o termo ‘bolchevique’. Sei é que seu filho, que, felizmente, lhe sobreviveu, não deveria pôr tal palavra no índex ainda hoje.

Entendo que o articulista apelou a um recurso retórico para nos convocar para um debate mais moderno. Eu, certamente, não sou o modelo de modernidade ideológica que o contentaria, tenho certeza (quase nunca concordamos), mas me parece bobagem contestar aqueles de quem discordamos impondo-lhes pechas e dando um peteleco nos fatos. Ou ele diz o que entende por ‘bolchevique’ (dispensando-se de tentar calar seus adversários teóricos com a autoridade paterna) e o que entendem aqueles a quem critica, evidenciando, então, a disjuntiva alheia entre conceito e realidade, ou está apenas abusando de um truque boboca: quem não concorda com ele é mais antigo do que seu pai.

Num dado momento de seu artigo, o principal articulista de política do maior jornal do país escreve o seguinte: ‘Como o leitor inteligente terá dificuldade em ligar o nome à pessoa, informo que, para a direita raivosa, bolcheviques são os petistas, com exceção, claro, de Antonio Palocci. Antes fossem. Pelo menos teriam um projeto de país. Bom ou mau, ganharam a eleição e teriam o direito de implementá-lo, como ocorre nas democracias.’

Com efeito, viva a democracia!, que garante a todo homem o direito de escrever o que lhe dá na telha, incluindo o que vai acima. O articulista diz qual é seu principal adversário: ‘a direita raivosa’. Definido o fantasma, tudo o que estiver do lado de cá da ‘direita raivosa’ é mais aceitável. Ele diz com todas as letras que preferiria que os petistas fossem, de fato, bolcheviques. Porque, diz, ao menos, ‘teriam um projeto de país’. Ora, de posse do projeto, segundo se lê acima, ‘teriam o direito de implementá-lo, como ocorre nas democracias’. Esse pronome ‘lo’, que aparece na frase, um objeto direto, está no lugar da palavra ‘projeto’, e o ‘projeto’ é o bolchevismo. Rossi está nos dizendo que alguém pode ganhar nas urnas o direito de instaurar uma ditadura. Como assim?

Ele que me perdoe, mas tudo indica que seu pai não sabia o que era bolchevismo, e ele tampouco sabe – por menos que goste da ‘direita raivosa’. O seu ‘antes fosse’, que traduz a sua aceitação, retórica que seja, do bolchevismo, implica exatamente o quê? Quando ele emprega o termo, refere-se apenas àquela facção da Revolução Russa que acabou se tornando hegemônica na base do golpe ou, como fazemos os que acusamos o bolchevismo petista, alude a um modo de fazer política que expropria indivíduos de sua moralidade para transferi-la a um partido, segundo uma utopia que se quer socialista?

Segundo o jornalista, ‘o problema do PT está longe de ser o de ter ocupado o aparelho de Estado para implantar o socialismo. Ocupou-o para dar vazão ao apetite pessoal, político e eleitoral de seus quadros. Ou, pior, para fazer negócios. Exatamente como a direita o fez, desde as capitanias hereditárias. O problema do PT não está em ser diferente, pela esquerda. Está em ser igual, pela direita.’

No trecho acima, Rossi encarna o melhor espírito da mídia e do jornalismo político que ajudaram, querendo ou não, a eleger Lula e que se frustram com seu governo. E também expressa um desejo que me deixa assustado: boa parte da crítica política queria um presidente mais à esquerda. Não espanta que sejam tantos os que, no Brasil, escrevem sobre Chávez com descarada simpatia. Não me lembro, de memória, de nada que Rossi tenha escrito a respeito do ‘Hugo Al Carajo Chávez’. Mas posso apostar que deve estar entre aqueles que sustentam que, até agora, o homem fez tudo dentro do mais estrito ritual democrático.

O meu entendimento sobre o PT é, obviamente, outro. É certo que eu e Rossi temos visões distintas sobre o bolchevismo, o socialismo, a esquerda e a direita. Eu jamais escreveria que preferiria um PT genuinamente bolchevique a este que está aí. Eu, não! Até hoje, não entendo por que as democracias permitem o funcionamento de partidos, comunistas ou fascistas, cuja intenção declarada, caso cheguem ao poder, é destruir a democracia. Não faço acordo com quem quer me ferrar. Por princípio. Mas Rossi, tudo indica, acha o bolchevismo menos deletério do que o atual comportamento do PT, ‘de direita’.

Antes que ele se bata de frente com os ‘idiotas’, como classifica os que pensam o que ele não pensa, afirma que essa tal direita governa o país ‘desde as capitanias hereditárias’. Bem, ele está fazendo um pouco de literatura, só que ruim. Sabe que ‘direita’ e ‘esquerda’, com o sentido em que emprega, são termos do fim do século 18. Até porque, convenha-se, estivesse fazendo só metáfora – opondo ‘progressistas’ a ‘reacionários’ -, foram os ‘progressistas’ (a esquerda?) que fizeram as grandes navegações. Os ‘conservadores’ eram contra. Recomendo a Rossi a leitura do Canto IV de Os Lusíadas, de Camões, em que aparece o Velho do Restelo… Conservadorismo é aquilo! Ainda que ilustradíssimo.

Em seguida, o articulista faz uma coisa muito feia quando se vive de argumentar, que é o nosso caso. Escreve: ‘Só o mais perfeito idiota acha hoje que o governo do PT ameaça o capitalismo, ameaça a propriedade privada, ameaça o sistema financeiro. Ao contrário. O governo do PT apenas reforçou o pior do capitalismo: caixa dois, rentismo, parasitismo do Estado, compadrio. Nem sequer mudaram todos os compadres. Vide Roberto Jefferson, que era compadre do governo anterior e continuou compadre do governo atual, até o rompimento em típica briga de compadres mafiosos.’

Ora, se todos os que discordam de Rossi não ‘perfeitos idiotas’, ele escreveria apenas para aqueles que não são: os que concordam com ele. É o mais legítimo modelo petista de argumentação. Para o PT, o mundo se divide entre os ‘bons’ (eles) e os ‘maus’ (os outros); os ‘progressistas’ (eles) e os ‘reacionários’ (os outros); os ‘santos’ (eles) e os ‘demônios’ (os outros). Não é por acaso que José Dirceu comparou o partido à Igreja Católica – segundo entendi, virtuoso mesmo no crime. O articulista faz o mesmo: há os que pensam como ele (os inteligentes) e os ‘perfeitos idiotas’ (aqueles de quem ele discorda).

Não vou cair no seu jogo retórico, porque acho que Rossi escreve com autoridade, sim, mas não com informação histórica ou científica – refiro-me à ciência social. Autoridade e sabedoria não são a mesma coisa (olhem como sou ‘esquerdista’ às vezes…). Se ele se debruçar sobre a boa literatura a respeito do eurocomunismo, por exemplo, verá que é perfeitamente possível travar uma luta contínua e pertinaz contra os valores da democracia sem, no entanto, chocar-se com a economia de mercado. Das três, uma: ou Rossi não conhece a obra de Gramsci; ou conhece e a considera irrelevante para o debate; ou conhece e quer impedir seus leitores de conhecê-la.

Os que, a exemplo deste escriba – e não só eu -, acusamos o caráter bolchevista do PT não inferimos, em momento nenhum, que o partido quer eliminar a propriedade privada ou entrar em choque com o sistema financeiro internacional. A luta da esquerda assumiu, hoje em dia, outro caráter. É absolutamente possível, e até corriqueiro, criar mecanismos para minar a democracia representativa ou torná-la irrelevante – buscando impedir, na prática, a alternância de poder -, dentro dos marcos mais gerais da economia de mercado. E era exatamente isso o que o PT vinha fazendo. Sob o olhar cúmplice de boa parte da mídia, incluindo aqueles que, como Rossi, achavam que o problema de Lula era esquerdismo de menos e não esquerdismo demais.

Bem, a esta altura, os textos que todos escrevemos, os jornalistas de política, são a nossa obra, não é mesmo? Referindo-me ao estupendo trabalho de Renata Lo Prete, da Folha, observo que não precisei que Roberto Jefferson botasse a boca no trombone para concluir que estávamos expostos ao risco de uma desconstituição do regime democrático – o que não quer dizer ‘ditadura socialista com o fim da propriedade privada’. Quando aquilo tudo veio à tona, na mais fantástica contribuição dada à democracia brasileira (por Jefferson e por Renata; ela há de me perdoar essa companhia ocasional), muitos de nós já havíamos escrito muita coisa. Exponho à prova dos noves os meus textos e os de Primeira Leitura sobre o PT e o seu caráter. Isso quando 80% dos brasileiros aprovavam o desempenho de Lula. Jefferson emprestou narrativa e circunstância à dissertação que muitos fazíamos. Em política, você pode ser engolido pelos fatos e pode entendê-los dentro de uma cadeia de causalidades – abrindo-se, sempre, para o inesperado e o acidente, é claro. Mas há mais método do que desordem. Para quem tem método.

Rossi não precisa acreditar em mim. Não precisa do concurso dessa gente desprezível da ‘direita’ – tão desprezível que ele prefere o bolchevismo e sua impressionante lista de crimes contra a humanidade. Que leia um comunista como Slavoj Zizek, que explica como as esquerdas, mundo afora, aderiram ao mercadismo e ao multicultaralismo para impor a sua agenda. O pensador, claro, discorda dessa estratégia e a vê como rendição. É possível que Rossi até concorde com ele – menos na suposição de que há uma estratégia, contraproducente que seja. O ponto que interessa é outro: não há contradição entre adotar um modelo autoritário – ou totalitário, como o chinês – e operar segundo as regras de mercado. Era o que o PT estava fazendo até aquela entrevista.

Dizer que os males do partido no poder, desde sempre, são os da direita é adesão simplista e simplória às teses do petismo: haveria uma pureza pregressa e original no partido, conspurcada na sua marcha rumo ao poder. Deixou-se contaminar pelo jogo que se jogava desde as capitanias hereditárias. Não! O mal principal do PT está na sua própria constituição: não acredita da democracia representativa; sobrepõe a autoridade do partido à institucionalidade do Estado de Direito; entende que o crime cometido em nome de uma causa é menos grave do que aquele cometido por cupidez. É bolchevismo aggiornado.

O chato é que parece que Rossi acha o mesmo. Quando ele diz um ‘antes fosse’ para a hipótese de um PT bolchevique, tem de admitir que ela traz consigo uma penca de crimes, que passam, então, a ser aceitáveis e preferíveis à adesão ao mercadismo. São? Para o articulista, feio, de fato, são ‘o caixa dois, o rentismo, o compadrio’, males que ele associa à ‘direita’. O corolário é este: o PT, partido de esquerda, chegou ao poder; uma vez lá, cometeu um monte de crimes; os seus crimes são todos de direita – o que faz supor que as virtudes são todas de esquerda. Entenderam? A história contada por Rossi listaria os desastres do governo Lula no passivo da… direita! As virtudes, ontologicamente de esquerda, infelizmente, não teriam sido postas em prática. Remete à história de que o socialismo era humano, o problema estava no ‘socialismo real’. Para o jornalista, o PT é bom, o problema está no ‘petismo real’. É como se o Lula que temos fosse uma usurpação do Lula ideal.

Rossi, em seguida, se atrapalha ao atribuir um caráter de ‘robin-hoodismo’ social-democrata aos ‘mencheviques’. A confusão se explica, embora não se justifique, pelo fato de o partido que originou tanto bolcheviques quanto mencheviques se chamar ‘social-democrata’, o que, na Rússia pré-revolucionária e revolucionária, nada tinha a ver com o que se conheceu depois por ‘social-democracia’. Aliás, nos Cadernos do Cárcere, Gramsci aproveita para dar fôlego à empulhação stalinista e desce o sarrafo em Trotsky (para defender Stálin), apontando o que restou de ‘menchevismo’ nele, o que seria justificação para a sua eliminação dos quadros dirigentes. Via no ‘menchevismo’ trotskista um corte bonapartista, em oposição, justamente, àquela vontade da ‘maioria’ de que os bolcheviques sempre se sentiram a própria encarnação.

Escreve Rossi, concluindo, que ‘o problema do PT foi ter conservado intacto o pior que havia e há na pátria’ e encerra: ‘Podem, pois, os pais dormir em paz que o PT não vai comer suas criancinhas. Nem delas cuidar’. A recomendação é digna de alguém que escreve para idiotas. Não conheço ninguém que tema um PT que come criancinhas. Deve-se é tomar cuidado com um partido que come instituições, aí, sim.

Se Rossi se interessar por estudar com afinco a configuração de um partido que ‘busca se impor como o novo ‘imperativo categórico’, com o poder de definir ‘o que é virtuoso e o que é criminoso’ segundo as suas necessidades, verá que esse Moderno Príncipe é perfeitamente conciliável com a economia de mercado e com a preservação da propriedade privada. Ele não come crianças, mas liberdades públicas, institucionalidade.

Quanto à acusação de que ‘o problema do PT é ter conservado intacto o pior que havia e há na pátria’, bem, resta-me dizer que ele reproduz, com outras palavras, a entrevista do presidente Lula na França. Lá, o Apedeuta disse um solene ‘fizemos o que todo mundo faz’. A síntese de Rossi não difere da de Lula. Talvez o jornalista empreste à constatação um viés crítico; no petista, fica-se entre o fatalismo e o cinismo. E, no entanto, os dois estão errados.

O PT não ‘conservou o pior’, mas, se me permitem, ‘piorou o pior’. A compra de partidos políticos, com porteira fechada, com toda a manada que há dentro, é inédita. E desafio Rossi a me demonstrar o contrário. O aparelhamento do Estado, em todas as suas franjas, do Instituto Nacional do Câncer aos fundos de pensão, passando pelos Três Poderes da República e pelo Ministério Público, é inédita. E desafio Rossi a me demonstrar o contrário. A moral do duplipensar orwelliano – chamando, quando interessa, o ‘crime’ de ‘virtude’, e vice-versa – como método é inédita. E desafio Rossi a me demonstrar o contrário. São, bem entendido, ineditismos para os padrões nativos. Não o são nem do ponto de vista teórico nem do ponto de vista prático. E esses males, aos quais se associaram os outros – caixa dois, rentismo, parasitismo do Estado -, queira o jornalista ou não, são práticas herdadas do bolchevismo petista, sim senhor.

Eu, na condição de ‘perfeito idiota’, topo opor a bibliografia com a qual lido à bibliografia com a qual Rossi, o perfeito iluminado, lida. Ele poderia tentar, com a dele, me provar que as forças sociais que hoje denunciam o ‘golpe’ contra Lula – CUT, MST, ONGs e assemelhados – estão a serviço ‘da direita’, e eu poderia tentar lhe provar, com a minha, que estão a serviço da esquerda. Ainda que essa esquerda pague os juros reais mais altos do mundo e seja tratada como bibelô pelo FMI.

Conclusão

Este texto requer esta emenda. Se Lula e o PT, no fim das contas, estão executando o ‘programa’ da direita, por que essa tal ‘direita’, então, não fica na dela, comemorando a realização de sua agenda? Qual é o sentido moral do texto de Rossi? Ele está querendo dizer ‘aos perfeitos idiotas’ – que, por direitistas, são, então, maus, rentistas e calculistas – que eles são sabem defender os seus próprios interesses?

Eu, que detesto a esquerda, que discordo de Rossi, que integro, ainda que não queira, o grupo dos ‘direitistas’ desprezíveis, não estaria, desta feita, percebendo o que só me faz bem – ainda que esteja no poder desde as capitanias hereditárias? Rossi, pelo visto, se oferece para ser o iluminista dos ‘perfeitos idiotas’. Lula é nosso aliado, avisa Voltaire, e a gente nem percebeu. Desse jeito, a gente ainda acaba entregando a rapadura. Ainda bem que o articulista nos advertiu a tempo. Reacionários de todo o Brasil, unamo-nos! A esquerda vem por aí, com PSDB e PFL na vanguarda, para ameaçar o nosso, sei lá, ‘direitista’ talvez…

E, para arremate dos arremates: não há uma só frente de investigação contra o governo Lula que não tenha origem no exclusivismo moral de que o partido se julgava dotado para fazer o que lhe desse na telha em nome da causa. Aquilo a que Rossi chama programa ‘de direita’ é, hoje, o único e já bambo pilar em que se sustenta o governo Lula.’



Clóvis Rossi

‘Bolcheviques’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/05

‘O primitivismo do debate público tupiniquim fez ressuscitar uma palavra (bolcheviques) que nem meu pai, que já morreu faz 36 anos, usava mais, por obsoleta.

Como o leitor inteligente terá dificuldade em ligar o nome à pessoa, informo que, para a direita raivosa, bolcheviques são os petistas, com exceção, claro, de Antonio Palocci.

Antes fossem. Pelo menos teriam um projeto de país. Bom ou mau, ganharam a eleição e teriam o direito de implementá-lo, como ocorre nas democracias.

O problema do PT está longe de ser o de ter ocupado o aparelho de Estado para implantar o socialismo. Ocupou-o para dar vazão ao apetite pessoal, político e eleitoral de seus quadros.

Ou, pior, para fazer negócios. Exatamente como a direita o fez, desde as capitanias hereditárias.

O problema do PT não está em ser diferente, pela esquerda. Está em ser igual, pela direita.

Só o mais perfeito idiota acha hoje que o governo do PT ameaça o capitalismo, ameaça a propriedade privada, ameaça o sistema financeiro. Ao contrário. O governo do PT apenas reforçou o pior do capitalismo: caixa dois, rentismo, parasitismo do Estado, compadrio.

Nem sequer mudaram todos os compadres. Vide Roberto Jefferson, que era compadre do governo anterior e continuou compadre do governo atual, até o rompimento em típica briga de compadres mafiosos.

O problema do PT não é o de ser bolchevique. É o fato de nem sequer ter sido capaz de ser menchevique, no sentido de aplicar o ‘robin-hoodismo’ social-democrata de tirar algo dos que têm demais para dar à massa que pouco ou nada tem.

O problema do PT não é o de ter feito a mudança prometida, ainda que a mudança pudesse ter sido para pior. O problema do PT foi ter conservado intacto o pior que havia e há na pátria.

Podem, pois, os pais dormir em paz que o PT não vai comer suas criancinhas. Nem delas cuidar.’



Luiz Paulo Horta

‘A mosca azul’, copyright O Globo, 20/11/05

‘Numa entrevista recente ao ‘Jornal do Brasil’, entre uma e outra marretada na imprensa – esporte que ele aprecia -, Caetano Veloso diz coisas sensatas: que votou no atual presidente meio a contragosto, mas que o Brasil precisava eleger Lula: ‘Precisava botar isso pra fora, senão ficaria ingovernável. A esquerda criaria problema, diria que tudo era política econômica entreguista, de direita.’

Faz sentido. Por conta do mandato que já vai bem adiantado, vários mitos foram desfeitos: 1) o de que era fácil arranjar uma política econômica ‘alternativa’ à do governo anterior; 2) o de que era pura conversa do governo a crise da Previdência; 3) o de que era fácil aumentar salários do funcionalismo. Caímos na real, essa é que é a verdade.

Pelo lado político, o PT recebeu uma valente esfrega. Não adianta pensar como os Bornhausen – que por 30 anos ‘ficaremos livres dessa gente’. Assim como o próprio Lula, o PT tem o seu lugar na política moderna do Brasil. Ruim com ele, pior sem ele. Mas suas carências e seu ranço autoritário ficaram expostos de modo patético.

Essa vertente autoritária tem muito a ver com uma linha de esquerda marxista, ortodoxa. São pessoas que pensam no poder o tempo todo, e, paradoxalmente, têm a maior dificuldade para lidar com o poder.

Não que a direita seja santa. Figuras como o cardeal Richelieu ou o chanceler Bismarck poderiam dar a Lula lições de duplicidade, de prática da ‘realpolitik’. Mas eles não eram ingênuos em relação ao poder.

‘O poder corrompe; e o poder absoluto corrompe absolutamente.’ Quem foi que disse isso? É a mais pura verdade. Já nos tempos bíblicos era assim. O rei Salomão era o mais sábio dos homens: vinha gente dos confins da Arábia – como a rainha de Sabá – para assistir aos seus julgamentos. Ele tinha o apoio explícito do Altíssimo, e livros inteiros da Bíblia lhe são atribuídos. Mas o poder lhe virou a cabeça (alguns dizem que foram as suas 700 mulheres). E ele ‘agiu mal diante do Senhor’. Por culpa dele, a ainda jovem monarquia israelita entrou num declínio irreparável.

Se foi assim com Salomão, que dizer do homem comum, do político que se deixa morder pela mosca varejeira do poder?

Uma certa esquerda ortodoxa embarcou de olhos fechados nessa aventura. Valia tudo para derrotar o capitalismo, para chegar ao poder e conservá-lo. A geografia mental do marxismo colabora para isso.

Lembro de um livro que fez furor lá pelos anos 60: a ‘História da Riqueza do Homem’, de Leo Huberman. Todo mundo leu, na minha geração. Era muito bem escrito, mas simplificava a História. Tudo, absolutamente tudo, era explicado pela economia.

Daí se tira uma espécie de satisfação intelectual: é como se, de repente, você passasse a dispor das chaves da História (e é essa História achatada que ainda se ensina nas nossas universidades).

Ora, se a História é uma espécie de física darwiniana, desprovida de valores, de crenças, de mitos, de imaginação; se o que importa é conquistar o poder e mantê-lo a qualquer custo, o caminho fica aberto para o surgimento de uma fauna de grandes predadores.

Também naqueles anos 60 fazia sucesso a ‘moda Mao’. Era mais que uma moda: era a crença de que, enquanto os soviéticos ‘amoleciam’ numa espécie de aburguesamento socialista, do lado chinês se praticava o verdadeiro socialismo. E Mao era o profeta dessa religião leiga.

No Ocidente sofisticado, ninguém reclamou, ninguém estranhou, quando a ‘moda Mao’ se tornou o mais deslavado culto à personalidade de que se tenha notícia. Ninguém achou estranho que a juventude chinesa só tivesse como leitura o ‘Livro Vermelho dos Pensamentos do Presidente Mao’. Era, diziam, o socialismo em marcha.

Sabemos agora o que estava por trás disso: totalitarismo e incompetência. Só no chamado ‘Grande Salto para a Frente’, inventado por Mao, calcula-se que tenham morrido de fome uns 30 milhões de chineses.

Não há a menor hipótese, aqui, de que sejamos confrontados com o Livrinho Verde-Amarelo dos Pensamentos do Presidente Lula. O ‘Nosso Guia’ (como diz o Elio Gaspari) não é dado a livrinhos nem livrões; e o vírus autoritário do PT foi duramente exposto pela crise que estamos vivendo.

Mas o presidente, já em campanha pela reeleição, poderia meditar um pouco sobre o que aconteceu nos últimos tempos. O poder pelo poder não é um bom caminho. No final, só traz amarguras.

LUIZ PAULO HORTA é jornalista.’



Folha de S. Paulo

‘Lula diz que será candidato e finalmente defende Palocci’, copyright Folha de S. Paulo, 19/11/05

‘Em entrevista a emissoras de rádio ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, num lapso admitido por ele mesmo, que será candidato à reeleição em 2006. ‘Vou, sim, disputar as eleições.’

Colocando-se como a figura ‘mais democrática’ do país, o presidente aproveitou a entrevista para finalmente demonstrar em público seu apoio ao ministro Antonio Palocci (Fazenda), alvo de denúncias de corrupção por ex-aliados e de pressões, vindas principalmente da colega Dilma Rousseff (Casa Civil), por mudanças na política econômica.

‘Se vocês querem que eu diga, eu vou repetir aqui: o Palocci é e vai continuar sendo o meu ministro da Fazenda.’

O apoio explícito a Palocci, aguardado desde a semana passada, incluiu uma ampla defesa do modelo econômico, chamado por Lula de ‘exitoso’. ‘O papel do Palocci é tentar segurar o máximo [a liberação de recursos] porque ele sabe que, se não segurar, a vaca vai para o brejo.’

Lula, porém, ao longo de uma hora e 45 minutos, equilibrou-se entre Palocci e Dilma, ora elogiando o ministro, ora defendendo a ministra. Ao mesmo tempo em que fez os primeiros elogios enfáticos ao titular da Fazenda desde o mais recente ciclo da crise, ficou do lado de Dilma na questão do ajuste fiscal. Como ele mesmo disse na entrevista, sua tática é ‘tensionar’ seus auxiliares.

Ao comentar as ‘divergências’ entre os dois, o presidente disse que elas surgiram ‘por conta de uma tese, que não é política de governo’ -o mesmo argumento usado pela ministra da Casa Civil quando desancou o plano de ajuste fiscal de longo prazo estudado pela Fazenda e pelo Planejamento. Segundo Lula, o governo irá ‘consertar para melhor a política econômica’.

Ontem, o presidente respondeu a perguntas de nove representantes de emissoras de rádio de oito Estados. Foi a primeira de uma série de três entrevistas que dará nas próximas duas semanas a rádios de todas as regiões do país.

Na entrevista, Lula voltou a alfinetar setores da imprensa, atacou o viés político das CPIs, disse não acreditar no ‘mensalão’, criticou FHC e reiterou não haver motivos para cassar o deputado e ex-ministro José Dirceu. Ainda disse que não ia responder a quem ameaçou surrá-lo, porque isso é ‘baixar o nível’.

REELEIÇÃO À ‘Rádio Metrópole’, da Bahia, Lula primeiro buscou demonstrar indecisão sobre sua candidatura à reeleição. ‘Se eu tiver de decidir, vai ser lá para março, ou abril ou maio, não vai ser agora. E, para eu decidir, estou levando muitas coisas em consideração.’

Depois, porém, ao falar de Bolsa Família, agricultura familiar, Luz para Todos, ProUni e biodiesel, caiu em contradição e admitiu que disputará a corrida por mais quatro anos no Planalto. ‘São com essas armas [os programas federais] que, se eu tiver de ser candidato, vou para uma eleição. Adoro um debate, gosto de polêmica e é bonito porque o povo vai se politizando, o povo vai ensinando a gente. É assim que eu penso, meu querido Mário [Kertész, radialista]. E vou, sim, disputar as eleições.’

O tema da reeleição voltou na etapa final das perguntas, quando o deputado federal e radialista Sandes Júnior (PP-GO), da Rádio Terra FM, disse que iria ‘colaborar’ com o presidente pedindo que Lula desse ‘uma resposta bem clara’ sobre o tema. ‘Se, em vez de dizer ‘se for para a disputa’ eu disse ‘eu vou para a disputa’, eu cometi um lapso’, falou o presidente. A seguir, agradeceu a pergunta do parlamentar.

Sobre a disputa do ano que vem, Lula afirmou que tem ‘material de sobra’ para mostrar na campanha e sinalizou estar pronto para a disputa: ‘A única coisa que não me assusta é o embate político, porque eu não vou ser vidraça porque sou presidente. Eu já fui vidraça a vida inteira porque contra mim teve, possivelmente, o maior preconceito já estabelecido na política nacional e eu enfrentei essa situação e vou enfrentar. E vamos enfrentar fazendo coisas, e eu quero comparar o nosso governo com os outros governos’.

DILMA x PALOCCI O presidente foi questionado, logo no início da entrevista, sobre os embates públicos entre Dilma e Palocci. Tentou minimizar a polêmica. ‘Na medida em que você exerce a democracia na sua plenitude, é normal que dois ministros, enquanto você não tem uma decisão de governo, mas uma decisão apenas desse ou daquele ministro, tenham divergências.’

E disse que não se preocupa com tais divergências, pois as considera ‘salutares’. ‘Tenho absoluta confiança de que os dois são companheiros da maior lealdade e do maior compromisso com o povo brasileiro.’

À ‘Rádio Gaúcha’ Lula explicou o papel de ‘tesoureiro’ do ministro e deixou em aberto o que seria da política econômica sem a presença de Palocci no cargo. ‘O papel do Palocci é o papel de qualquer tesoureiro, de qualquer pessoa responsável pelas finanças em qualquer lugar do mundo, o papel do Palocci é tentar segurar o máximo porque ele sabe que, se não segurar, a ‘vaca vai para o brejo’.’

Lula defendeu a ida de Palocci ao Congresso, caso seja convocado por alguma CPI: ‘A minha tese é de que quem não deve não teme’. E cravou a presença de Palocci até o final de seu mandato. ‘Então, essas coisas [dados da economia] têm muito a ver com o meu companheiro ministro Palocci, que continua tendo de mim toda a consideração que eu tinha antes, tenho agora e vou ter depois. E, se vocês querem que eu diga, eu vou repetir aqui: o Palocci é e vai continuar sendo o meu ministro da Fazenda.’

IMPRENSA

Ontem, o presidente criticou o destaque dado na imprensa ao fato de, anteontem, ter elogiado Dilma Rousseff em discurso e não ter citado Palocci. ‘É uma coisa totalmente maluca porque o Palocci é um ministro extremamente importante para o governo, a Dilma é uma ministra extremamente importante para o governo.’ E, à rádio ‘Jornal do Commercio’, voltou a insinuar sua desconfiança em setores da imprensa. ‘Todos nós, aqui, vocês como jornalistas devem ler pelo menos dez jornais por dia, dez revistas, e é importante que a gente leia, leia, leia, leia, e a gente vai fazendo avaliação para ver quem está querendo apurar, quem está falando coisa séria, quem está contando mentira, quem está apenas querendo fazer política, porque nós temos que ter a capacidade de interpretar aquilo que a gente lê e não acreditar, a priori, naquilo que a gente lê.’

POLÍTICA ECONÔMICA Em meio aos elogios a Palocci, Lula também enalteceu diferentes dados da economia do país. ‘O dado concreto é que a política econômica do nosso governo tem sido muito exitosa e eu tenho orgulho de defender a política econômica e tenho orgulho de dizer que nós trabalhamos, todo santo dia, com a certeza de que nós vamos consertar para melhor a política econômica’.

Como faz em diferentes discursos, falou em exportações, importações, Produto Interno Bruto e geração de empregos. E fez uma projeção: ‘Obviamente que tudo isso vai melhorar na hora em que o juro der sinais de que vai baixar, e, na hora em que o juro baixa, a gente pode ter uma ajustamento na política cambial e a gente vai poder exportar mais e vai poder distribuir mais renda no Brasil’.

DIRCEU Lula afirmou que não tomou conhecimento de suposta declaração de José Dirceu de que o presidente não gosta de resolver problemas do governo. ‘Eu tenho certeza de que ele [Dirceu] não disse.’ A seguir, defendeu o deputado petista, que enfrenta processo de cassação na Câmara. ‘E eu fico me perguntando qual o crime que José Dirceu cometeu. Porque, até agora, se você colocar todas as denúncias contra o José Dirceu em uma prensa, apertar, não vai sair uma gota, porque não tem. Você viu que eu fiz a pergunta no ‘Roda Viva’ a um jornalista: qual é a acusação contra o José Dirceu? Ele não sabia. Até porque quem o acusou foi cassado, porque mentiu ao Congresso Nacional.’’



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‘Em entrevista, Lula discute futebol e comete ato falho’, copyright Folha de S. Paulo, 19/11/05

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem os intervalos das duas horas de entrevista para fumar cigarrilhas, falar de futebol e ser informado sobre dados do governo por meia dúzia de assessores. De prontidão estavam Clara Ant, Míriam Belchior, o chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, e o secretário de Imprensa, André Singer. Nas mãos deles, números das áreas social e econômica, citados pelo presidente ao longo da entrevista.

Num dos intervalos, o presidente foi alertado pelos assessores sobre o deslize que cometera ao dizer que é candidato à reeleição em 2006. Recebeu em mãos uma cópia de uma notícia veiculada numa agência de notícias na internet. ‘Eu não falei isso aqui. Falei?’, questionou aos radialistas, que confirmaram a declaração.

Minutos antes do início da entrevista, o presidente se irritou com assessores por conta do entra-e-sai de pessoas na sala, no terceiro andar do Palácio do Planalto. No primeiro intervalo, voltou a reclamar: não enxergava as placas que identificavam os radialistas.

Comentou com os presentes sobre artigo do deputado Delfim Netto (PMDB-SP). ‘Ele [Delfim] disse que, na área econômica, o nosso governo é melhor em tudo em relação ao passado [FHC]. Só é igual nos juros’, afirmou.

No geral, o clima era de descontração, segundo a Folha apurou. Lula provocou os repórteres gaúchos sobre a disputa entre seu time, o Corinthians, e o Internacional pelo título do Brasileiro. Disse que ‘será inevitável que o Corinthians seja campeão brasileiro neste ano’. A três rodadas do final do campeonato, o Corinthians está três pontos à frente do Internacional.’



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‘‘Mensalão’ não será provado, diz presidente’, copyright Folha de S. Paulo, 19/11/05

‘Assim como fizera em recente entrevista ao programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem não acreditar na existência do ‘mensalão’. E aproveitou para atacar a CPI concluída nesta semana sem a votação do relatório.

‘A CPI do Mensalão vai terminar e eles [parlamentares] não vão provar ‘mensalão’. Entretanto, foi o ‘mensalão’ que criou uma confusão generalizada no Brasil. E por que a CPI não vai provar ‘mensalão’? Porque é humanamente impossível você imaginar que, qualquer que seja um governo, e sobretudo no meu governo, você tenha que chamar deputado para dizer: ‘Olha, você tem que votar porque eu te dou tanto’.’

E completou: ‘Na cabeça do povo brasileiro já existe a idéia do ‘mensalão’. É uma palavra fácil, é uma palavra que todo mundo fala com muita facilidade e está na cabeça do povo. Agora, eu quero é ver quem pôs tirar da cabeça do povo que não tem ‘mensalão’.

Sobre o trabalho das CPIs, Lula disse que, se usadas politicamente, as comissões podem ‘perder a credibilidade’. E atacou o ‘momento’ político: ‘Acredito piamente que nós estamos vivendo um momento em que as insinuações às vezes não têm respaldo no dia seguinte, mas vão ganhando corpo, e vão ganhando corpo e vão ganhando corpo’.

Na entrevista, em resposta à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, o presidente afirmou que defende o encerramento da CPI dos Correios antes de abril. ‘O que nós entendemos é que a CPI dos Correios poderia ser adiada por mais um mês, até dezembro, sei lá. Ora, quando se pede o adiamento até abril, no nosso entendimento tem um componente político muito forte, já dito pelos nossos adversários. O que disseram os nossos adversários do PFL e do PSDB? Que eles querem fazer o governo sangrar até as eleições.’

PT

Questionado pela Rádio Metrópole, Lula disse que o PT, por ser um partido ‘novo’, vai superar a atual crise e ‘renascer’ nas eleições. ‘É verdade que o PT passa por momentos críticos, mas é verdade que a prévia [eleição] do PT demonstrou que o PT tem muito vigor.’ E completou: ‘E é muito importante que aconteçam essas coisas com o PT enquanto o PT é novo. Aqueles que cometeram erros pagarão, e já estão pagando o preço, mas o PT é muito grande, o PT está espraiado por esse território nacional como nunca um partido esteve, nos mais diferentes e nos mais longínquos lugares em que você for, você vai encontrar alguém com a bandeira do PT. Isso, durante a campanha, renasce com um vigor enorme e renasce para defender as políticas que o governo está fazendo.’

FHC

Respondendo às rádios Gaúcha e Itatiaia, esta de Minas Gerais, o presidente atacou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Primeiro, acusou-o de promover uma ‘gastança’ em ano eleitoral. ‘Já tivemos momentos, e muitos momentos na história do Brasil em que, em época de eleição, se fazia uma gastança enorme e, depois, a pessoa ficava no governo, ganhava as eleições e não conseguia governar o segundo mandato porque não conseguia pagar a dívida que tinha contraído para se reeleger.’

Sobre ataques de FHC, que cobrou menos ortodoxia na condução da política econômica, disse: ‘Existem os números de oito anos de mandato dele, e os números de 36 meses meus. E os números falam por si só. (…) Não existe comparação e fico satisfeito que, não sendo presidente, ele pensa de forma mais progressista do que quando exerceu o mandato’.

OPOSIÇÃO

Lula atacou seguidas vezes a oposição. Respondendo à Rede Verdes Mares, disse que ‘tem gente que não se contenta em ver o Brasil dar certo’. Depois, à rádio Jornal do Commercio, disse que, na condição de presidente, possui limites no embate com a oposição. ‘Isso não me permite fazer política rasteira’, falou, sobre as ameaças de surra feitas por congressistas. E lamentou: ‘O presidente da República é acusado e não pode processar um deputado porque ele tem imunidade. Então, não posso responder a esse baixo nível da política nacional’.

Sobre as disputas, disse duvidar da existência de alguém mais ‘democrático’ do que ele. ‘As divergências [no governo e na oposição] nós vamos resolver também. Aliás, eu, em toda a minha vida, eu duvido que tenha alguém mais democrático do que eu.’ E elogiou o governador Aécio Neves (PSDB-MG): ‘Eu acho que o governador Aécio Neves tem sido um governador com comportamento exemplar na relação com o governo federal’.’