Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rio, encantos e encruzilhadas

Nasceu “maravilhosa”, muito antes do hino composto em 1935. A fama, como sempre, foi também uma maldição: se a cidade é maravilhosa não precisa ser preservada nem cuidada. Bastava o título e os privilégios de Capital Federal. Despojada deles em 1960, o Rio de Janeiro perdeu todos os protagonismos: o centro econômico foi definitivamente arrebatado por São Paulo e o político transferido gradualmente para Brasília.

Distanciado dos vetores econômico e político, o Rio manteve por alguns poucos anos mais a relevância cultural e midiática. Hoje, nem isso.

Nos últimos trinta anos o Rio conseguiu sobreviver a uma sucessão de governos desastrosos, graças aos seus encantos mil e, sobretudo, à condição de maravilhosa, encantada, incomparável.

A escolha como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é, de certa forma, um presente de grego – a cidade ainda não definiu nem amadureceu a sua vocação, mas está sendo obrigada a investir pesadamente numa direção que não se sabe se será definitiva.

Uma coisa é certa: cidades precisam ser amadas, isso mesmo, amadas. Maravilhosas ou não, precisam ser entendidas, sentidas, ouvidas, ajudadas e, principalmente, protegidas daqueles que só querem a sua formosura esquecidos da sua maneira de ser.

O Rio de Janeiro é a capital da sátira, da irreverência e da crítica, não é à toa que o Observatório é seu filho. (Alberto Dines)