Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rosental Calmon Alves

‘Como cidadão brasileiro e como jornalista, esse episódio me deixa profundamente preocupado com a visão que este governo tem da imprensa e do seu papel numa democracia. Este caso mostra um lado autoritário e insensato que eu totalmente desconhecia na história do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores. Ao contrário, por atributos opostos a esta visão, o presidente vinha despontando como um dos grandes líderes mundiais, com uma enorme autoridade moral que agora se vê seriamente maculada, não por uma pouco fundamentada matéria sobre seus hábitos alcoólicos, mas por uma pouco sóbria atitude de Estado.

Conheço o Larry Rohter há quase 25 anos, desde que nos encontrávamos freqüentemente na coberturas das ditaduras militares do Cone Sul, quando ele trabalhava para a ‘Newsweek’. O Larry é meu amigo e um dos melhores correspondentes internacionais que conheço. Mais do que isso, ele é um amante do Brasil, profundo conhecedor do país, de sua cultura e de sua história. Casado com uma brasileira/portuguesa/americana, fala português muito bem e é um grande expert em música popular brasileira.

Quando li a matéria dele, não gostei. Achei fraca, com poucas fontes e uma conclusão muito séria para tão pouca investigação, enfim, desproporcional ao esforço investido em apurá-la.

Acho que ele errou, principalmente pelo exagero. Mas é óbvio que ele não inventou nada, que foi muito cuidadoso no texto em que tentava descrever o clima político e o uso dessa questão do hábito da bebida pelos inimigos políticos do presidente. Não moro no Brasil, portanto não acompanho o clima político e não sei o quanto há de verdade na matéria a esse respeito. Mas é óbvio que ele estava refletindo algo concreto, a começar pelas menções feitas pela própria imprensa brasileira, seja para acusar o presidente, seja para defendê-lo.

A resposta do governo a este lamentável incidente foi ainda mais desproporcional que a própria matéria publicada pelo ‘Times’. Matar o mensageiro não resolve o problema da mensagem. A expulsão de um jornalista estrangeiro por desagradar a um governo ou mesmo a um presidente é uma atitude que combina mais com ditaduras e com repúblicas de banana. Se a matéria e tão absurda, tão leviana, tão inverossímil, tão irresponsável como diz o governo, ela morreria por ela mesma. Se a falta do correspondente foi tão grave, há recursos legais possíveis tanto na democracia brasileira quanto na democracia americana para lidar com esse tipo de caso.

Na minha carreira de correspondente, lembro do Itamaraty fazendo gestões para evitar que a ditadura do general Alfredo Stroessner me expulsasse do Paraguai na véspera da visita do general João Figueiredo. E não era porque o Itamaraty estivesse me apoiando e achando boas as minhas matérias sobre a ditadura paraguaia, mas porque naquela época tínhamos lá diplomatas competentes que sabiam que minha expulsão causaria mais problemas para as duas ditaduras – a brasileira e a paraguaia – que as minhas matérias. Também me lembro de um governo fraco e moribundo, já tomado pelos esquadrões da morte e por militares genocidas mas ainda chefiado por Isabelita Perón, que expulsou da Argentina o correspondente brasileiro Wálder de Goes.

A expulsão do Larry vai para a lista dos atentados à liberdade de imprensa neste ano, colocando o presidente Lula na companhia de truculentos inimigos do jornalismo livre e independente. Esta injustiça com a História, a performance e a honra do presidente Lula deve encontrar culpados entre seus assessores e na alta hierarquia do governo, inclusive no Itamaraty. Se tudo o que o correspondente escreveu é mentira, esse episódio seria esquecido em poucos dias. Mas a violenta atitude de expulsar do país um jornalista honesto, por mais que ele tenha errado nesta matéria, não será jamais esquecida. E seguramente encontrará um lugar nos livros sobre a história deste governo.

Que pena!

ROSENTAL CALMON ALVES é professor titular da cátedra Knight de Jornalismo e diretor do Knight Center for Journalism in the Americas na Faculdade de Jornalismo da Universidade do Texas, em Austin (EUA).’



Eduardo Matarazzo Suplicy

‘Em defesa do presidente e da liberdade’, copyright O Globo, 14/05/04

‘Diante da reportagem publicada no ‘New York Times’, no último dia 9, ofensiva ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao povo brasileiro, os senadores e os deputados federais das Comissões de Relações Exteriores do Senado e da Câmara dos Deputados aprovaram um requerimento manifestando a sua solidariedade ao presidente. Temos a convicção de que a matéria não reflete a verdade dos fatos. Sugerimos, também, ao governo não suspender o visto de permanência no país do jornalista responsável por ela. Entretanto, avaliamos ser imprescindível que o jornal corrija a informação publicada. Os membros do Congresso Nacional colocam-se à disposição para testemunhar sobre a conduta séria e responsável que o presidente Lula tem mantido no seu governo e em toda a sua biografia pública e privada.

O requerimento será votado assim que a pauta do Congresso for liberada. Compreendo o sentimento do presidente Lula ao se sentir ferido com a matéria, caracterizada, ao que parece, pela vontade de minar a força de uma das mais expressivas lideranças populares da História da América Latina. Em nenhum momento a notícia ressaltou os méritos de quem, nascido de família humilde no interior de Pernambuco, tendo vivido a saga comum a tantos brasileiros que, quando menino, seguiu para o estado de São Paulo em busca de melhores oportunidades de vida, dotado de extraordinária garra, conseguiu superar todos os obstáculos e ser eleito presidente da República com o apoio de 53 milhões de votos, representando 62% dos eleitores brasileiros.

Quero aqui transmitir um apelo público ao diretor responsável do ‘New York Times’, Arthur Ochs Sulzberger Jr., e ao próprio jornalista Larry Rohter. A expectativa do presidente Lula é de que façam a devida retificação sobre o teor da reportagem e que retifiquem as impropriedades nela contidas. Esta também é a opinião do Congresso Nacional. Estamos conscientes da importância do jornal que tem como lema ‘Todas as notícias próprias para serem publicadas’, por isso a necessidade da correção da matéria. Estou certo de que o bom senso poderá levar o ‘New York Times’ a tomar uma decisão de respeito ao povo brasileiro e à própria liberdade de imprensa.

É preciso fazer justiça ao presidente Lula e ao mesmo tempo contribuir para a defesa da liberdade de expressão e de imprensa. Conheço o presidente Lula desde os anos setenta, tendo tido muitos momentos de convivência intensa, antes e depois de ele ter assumido a chefia do Estado. Trata-se de pessoa que vem se dedicando com extraordinário esmero e seriedade para transformar o Brasil numa nação justa.

O Superior Tribunal de Justiça concedeu habeas-corpus garantindo que o sr. Larry Rohter não tenha o seu visto de permanência no Brasil negado. Há que se considerar que é casado com brasileira e que tem filhos brasileiros. Por isso, considero importante que ele reavalie o quanto sua matéria foi injusta para com o presidente e ofensiva para a pátria de sua família. Ao basear-se em fontes que têm tido o propósito de se opor e enfraquecer o presidente e ao desconsiderar o depoimento daqueles que, mesmo sendo seus opositores, têm opinião inteiramente diferente, como o demonstrou o requerimento aprovado pelos parlamentares de todos os partidos, a matéria do sr. Larry está muito distante de fazer jus à tradição e à vontade de bem informar os leitores do ‘New York Times’.

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY é senador (PT-SP).’



Luiz Weis

‘Um talho na face do governo’, copyright O Estado de S. Paulo, 15/05/04

‘Primeiro, um registro pessoal. Nos piores tempos do regime militar, eu resistia a abrir os jornais – porque sabia o que me esperava. Na quarta-feira, tive a mesma relutância em ler o noticiário sobre a expulsão do correspondente do New York Times Larry Rohter.

Nem em pesadelo poderia prever que a prepotência da ditadura ressurgiria no governo cujo partido nasceu da luta pela redemocratização do País. Agora, as suas principais figuras justificam um atentado à liberdade de expressão com a mesma desfaçatez dos porta-vozes do autoritarismo quando tentavam justificar as suas violências.

Seria ofensiva a mera sugestão de que o governo Lula baniria um jornalista por ter escrito uma reportagem que deixou o presidente ‘invocado’, como ele disse dias atrás, em outro contexto. Mesmo que a reportagem tivesse caído feito ‘uma bomba’ no Planalto, segundo o colunista Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo.

Mas o PT no poder não se proibiu de ofender os seus professados compromissos democráticos. E ainda ofendeu a inteligência alheia com a teoria – que vai marcar para sempre a biografia dos seus autores – de que o presidente apenas ‘reagiu à altura’ de uma calúnia. Como se não existissem tribunais a que pudesse recorrer para castigar o caluniador.

Já se escreveu tudo e mais alguma coisa sobre as muitas falhas da matéria de Rohter, a começar do fato de que, ao contrário do que diz o título, o hábito de beber do presidente – ou de bebericar, dependendo de como se traduza o termo ‘tippling’ – não se tornou uma ‘preocupação nacional’.

Os não familiarizados com a rotina das redações não têm a obrigação de saber que, no Times, como em quase todos os jornais e revistas, quem intitula matérias são redatores e editores, não repórteres. Mas os críticos poderiam ter notado que aquelas duas palavras não aparecem no corpo do texto.

O mais perto que delas Rohter chegou foi ao afirmar que ‘alguns concidadãos (de Lula) começaram a se perguntar se a predileção do seu presidente por bebida forte está afetando o seu desempenho no cargo’.

Com razão ou sem, ‘alguns concidadãos’ se fazem, sim, essa pergunta. Quantos são e qual o peso disso, não se sabe. Mas o governo não conseguiu demonstrar que a reportagem é ‘mentirosa’, do que a acusou para cancelar o visto de Rohter.

Ele relatou rumores, não os inventou. Histórias sobre Lula e bebida circulam dentro do governo, no Congresso, nas redações, em conversas de empresários – até em salão de beleza. Podem não preocupar, mas estão na boca do povo.

A matéria menciona, já no segundo dos seus 22 parágrafos, a ‘especulação’ de que o aparente alheamento de Lula pelos problemas do governo ‘pode de alguma forma estar relacionada com o seu apetite pelo álcool’.

Pela vaguidade, a frase deveria ter sido editada ou cortada. O repórter, porém, teve o cuidado de acrescentar que ‘os partidários de Lula negam que ele beba excessivamente’ e de citar a versão oficial que atribui a alegação ‘a uma mistura de preconceito, desinformação e má-fé’. Ele também destacou que poucos políticos e jornalistas aceitam falar abertamente do assunto – pura verdade.

Mas o essencial é que, à parte o fato de só os milicos terem posto para fora do Brasil um jornalista estrangeiro e a insanidade política do ato de Lula, não há como justificar a punição de Rohter pelo trabalho que leva a sua assinatura.

Isto posto, vamos aos prováveis porquês. O primeiro deles é óbvio: William Larry Rohter Junior é um jornalista americano que escreve para um jornal americano. Se ele se chamasse Guillaume Rotherac e escrevesse para o Le Monde de Paris ou Wilhelm Rotherberg e escrevesse para o Die Welt de Berlim, não lhe cassariam o visto.

Gente de peso no governo Lula ou não gosta dos Estados Unidos ou acha que os Estados Unidos são o inimigo externo ideal quando se precisa de um belo bode expiatório – ou as duas coisas. Senão, como explicar a conspiratória peça distribuída pela assessoria do titular da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken?

Vale a pena ler de novo: ‘Indiretamente o artigo pode estar a serviço de posturas de governos centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em questões internas e tentam impor uma visão unilateral sobre questões que, num mundo cada vez mais complexo, exige outra ótica de solução para os conflitos.’

Então tá: a reportagem sobre os ‘hábitos sociais’ de um presidente brasileiro leva combustível para a política externa de Bush, que precisa desmoralizá-lo, tamanha a sua importância (e a de seu país) na ordem universal das coisas.

Quem afirmar que esse tipo de argumento surrealista lembra os do promotor soviético Andrei Vishinsky, quando pedia a pena de morte para as vítimas de Stalin nos infames Processos de Moscou dos anos 1930, não precisa temer que digam que parece que bebeu.

Melhor, só o assombroso assessor especial Frei Betto, no Globo de anteontem:

‘O NYT pretendeu minar a honra e a autoridade de nosso presidente, porque este obrigou a Casa Branca a conter a sua sanha na Venezuela e em Cuba.’

O governo conta com um precedente quando acha que dar uma de rato que ruge para cima dos americanos pega bem e desvia a atenção da brasileirada de coisas como o desemprego e o mínimo de R$ 260. (Não é para isso que se fabricam inimigos externos e se criam bodes expiatórios?) O precedente foi o apoio de muitos à decisão – em nome de uma abstrata reciprocidade – de tratar os americanos que aqui desembarcam como eles nos tratam lá. Agora, não deu outra. Uma pá de gente voltou a cobrir o governo de elogios: estava resgatada a honra nacional agredida pelo gringo.

O que leva ao segundo porquê – descontado, é claro, o viés autoritário que não perde a hora de subir à tona. Entre a divulgação da matéria e a resposta liberticida do Planalto, assistiu-se a um espetáculo de hipocrisia que não corre o risco de que com ele rivalize tão cedo o do crescimento.

A mídia, a oposição, sindicalistas, celebridades e tutti quanti reagiram com indignação quase sempre retórica ao que por pouco não foi equiparado para consumo público a uma declaração de guerra à pátria amada.

Pessoas que conhecem de longa data os ‘hábitos sociais’ de Lula só faltaram chamá-lo de abstêmio. Rohter foi tratado a golpes de borduna pelos mesmos que se faziam de sonsos ao falar dos prazeres do presidente.

Uns, condescendentes – a palavra certa é outra, mas deixa para lá – com quem veio de tão longe e de tão baixo; outros, preocupados em não balançar o coreto do governo, que continua tão mambembe como o deixou, entre outras coisas, o Waldogate.

Só que o Planalto tomou ao pé da letra a derramada solidariedade a seu titular e acreditou, porque lhe convinha, na imitigada virulência das críticas à reportagem que, se ‘caiu como um bomba’, foi por ter cutucado o esqueleto no armário da família política brasileira.

O resultado foi uma truculência que desfigurou, como um talho de facão, a face exposta do governo Lula.

P. S. – O acordo que, no começo da noite de ontem, parecia ter sido costurado para garantir a permanência do jornalista Larry Rohter no Brasil se deve ao emprenho pessoal do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Não invalida, portanto, o que aqui se escreveu.’



José Meirelles Passose e Chico Oliveira

‘EUA: decisão viola liberdade de imprensa’, copyright O Globo, 13/05/04

‘O governo dos Estados Unidos estranhou a decisão do governo brasileiro de expulsar o correspondente do ‘New York Times’ Larry Rohter. Para os EUA, a expulsão viola a tradicional posição do Brasil em favor da liberdade de imprensa.

– Obviamente o artigo do ‘New York Times’ não representa os pontos de vista do governo dos Estados Unidos. Mas eu diria que a decisão do governo brasileiro de cancelar o visto do jornalista que escreveu o artigo não condiz com o forte compromisso do Brasil com a liberdade de imprensa – disse Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) também condenou a iniciativa, lembrando que a Declaração dos Princípios de Liberdade de Expressão, aprovado em outubro de 2000 pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, diz: ‘Os meios de comunicação social têm o direito de realizar seu trabalho de forma independente. Pressões diretas ou indiretas para silenciar a atividade informativa dos comunicadores sociais são incompatíveis com a liberdade de expressão’.

O Departamento de Estado deixou claro que o incidente não poderia ser caracterizado como o início de uma crise diplomática:

– Nós temos relações muito boas com o presidente Lula e o seu governo – disse Boucher.

Embaixadora considera decisão ‘lamentável’

A embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, considerou lamentável a decisão do governo brasileiro de cancelar o visto do jornalista do ‘New York Times’.

– (A decisão) não é de acordo com a tradição de respeito para com a imprensa livre, que temos visto durante os últimos 20 anos de democracia aqui no Brasil – disse a embaixadora em Porto Alegre, onde ela lançou um escritório virtual voltado para estimular o comércio entre os dois países.

Donna Hrinak também esclareceu por que foi cancelada a audiência com Lula, marcada para ontem pelo Palácio do Planalto, e que, a pedido da embaixadora, foi suspensa, com um pedido de adiamento para a próxima semana. Segundo ela houve uma confusão de datas.

Ao sair do Palácio Piratini, o carro que levava a embaixadora foi atacado com ovos por um grupo de manifestantes do PT e do PSTU, portando faixas contra a Guerra do Iraque. Os vidros estavam fechados e a embaixadora não foi atingida, mas dois ou três ovos atingiram o veículo. Quando o carro já havia se afastado, houve um incidente entre os cerca de 30 manifestantes e policiais militares.’



Ana Paula Scinocca

‘Duda admite arranhão na imagem do governo’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/05/04

‘O publicitário Duda Mendonça, um dos principais responsáveis pela propaganda do governo federal, admitiu ontem que o episódio do jornalista Larry Rohter ‘arranha’ a imagem da administração Luiz Inácio Lula da Silva.

Porém, ressaltou não ter pesquisas que comprovem isso. Duda fez o comentário ao chegar para o último dia da Conferência Eleitoral do PT, que começou na quinta-feira e terminou ontem, em São Paulo. ‘O fato já passou. Arranha, mas não é uma coisa relevante’, disse. Mais tarde, Duda negou que tenha dito que o caso envolvendo o jornalista do New York Times tenha trazido prejuízos ao governo.

No domingo passado, o jornal americano publicou uma reportagem de um de seus correspondentes na América Latina sobre o que considerou uma preocupação nacional sobre supostos excessos que o presidente Lula estaria cometendo ao beber. A reação contra a reportagem foi praticamente unânime. Até mesmo a oposição saiu em defesa de Lula, desqualificando o texto do New York Times.

Quando o governo anunciou a cassação do visto de Larry Rohter a situação mudou. Lula passou a ser duramente atacado por ter reagido de forma autoritária, na visão de seus críticos. Anteontem, o governo voltou atrás, alegando que o jornalista havia se retratado, o que o New York Times contestou em nota oficial.

Para o publicitário do PT, o governo federal tem de mostrar serviço e será julgado apenas no final dos quatro anos de mandato. ‘O governo tem de trabalhar. Tem muita coisa pela frente’, comentou. O marqueteiro disse acreditar que o presidente Lula respondeu à altura ao ser agredido. Duda observou que não era a favor da cassação do visto do jornalista.

Tarso – O ministro da Educação, Tarso Genro, criticou o jornalismo praticado nos Estados Unidos. ‘É um jornalismo ordinariamente muito desqualificado, que se refletiu no conteúdo desta matéria do jornalista que está aqui’, opinou.

‘Ela (a matéria) está à altura do jornalismo que é característico dos Estados Unidos’, disse. ‘É um jornalismo que discute se a sogra do candidato usava biquíni quando era jovem ou se um cidadão, em determinado momento, fumou maconha, mas não tragou.’ Tarso disse também considerar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou uma postura não autoritária ao tratar o assunto. ‘Foi uma postura não autoritária, mas de reação à altura do tipo de jornalismo que é feito nos Estados Unidos’, insistiu ele.’



Eugênia Lopes e James Allen

‘Recuo é aplaudido por parlamentares’, copyright O Estado de S. Paulo, 15/05/04

‘A decisão do governo de recuar na expulsão do repórter Larry Rohter foi comemorada pela maioria dos deputados aliados e da oposição. Até mesmo o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), que defendeu a decisão do presidente Lula de cassar o visto aplaudiu ontem o recuo do governo. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também comemorou o desfecho, em nota divulgada pela Agência Senado.

‘O episódio foi didático. Ficou claro, em primeiro lugar, que é preciso ter muito cuidado com os assuntos relacionados à liberdade de imprensa’, afirmou. ‘O presidente revelou sua justa indignação. O Executivo reagiu; o Legislativo pressionou; e o Judiciário funcionou. E o País, no final, deu uma prova de maturidade’, concluiu.

‘Se o presidente Lula estabeleceu como condição para o jornalista não ter o visto cassado o pedido de desculpas e o jornalista pediu desculpas, acho que acaba sendo o desfecho apropriado’, disse Chinaglia. Para ele, o importante é que Rohter está reconhecendo publicamente que errou.

‘O presidente deixou a raiva de lado e resolveu agir com o seu coração democrático’, festejou Walter Pinheiro (PT-BA), que desde o início criticou a atitude de Lula. Para o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), porém, o estrago na imagem do governo é irreversível. ‘Essas idas e vindas do governo acabam transmitindo para a sociedade uma imagem de indecisão, de fragilidade. Essa decisão até pode ajudar a diminuir no decorrer do tempo o estrago que foi feito. Mas de qualquer forma o resultado é negativo.’

Para o presidente do PPS, Roberto Freire (PE), o governo teve ‘dignidade de reconhecer que cometeu um equívoco’. Avaliação semelhante tem o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) que qualificou de ‘lúcida’ a decisão de Lula. ‘Admitir o erro é sempre importante. Mas o arranhão fica para sempre.’.

O líder do PSDB, Custódio Mattos (MG), espera que o episódio sirva de ‘lição’ para o governo. ‘Mas fica em todos nós a preocupação quanto à qualidade do procedimento de decisão do presidente. Um dia ele acorda invocado e liga para o George Bush (presidente dos EUA), no outro ele acorda invocado e expulsa um jornalista.’’