Karl Rove, estrategista político e amigo de George W. Bush, testemunhou pela quinta vez diante de um grande júri federal, na quarta-feira (26/4), sobre o vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame. As razões específicas para mais um depoimento de Rove não foram explicadas, mas sua volta ao tribunal renova as atenções da imprensa americana sobre o já antigo caso.
A identidade secreta de Valerie foi publicada por um colunista em julho de 2003, acredita-se que em represália às críticas feitas pouco tempo antes por seu marido, o diplomata Joseph Wilson, à administração Bush. O promotor especial Patrick Fitzgerald conduz as investigações para tentar descobrir, dentro do governo, o responsável pelo vazamento da informação confidencial à imprensa – o que constitui crime.
Diversos jornalistas foram intimados a colaborar com o inquérito, o que causou polêmica na mídia americana e levou à prisão da então repórter do New York Times Judith Miller. Após três meses de cadeia, a jornalista finalmente revelou sua fonte confidencial – Lewis Libby, então chefe de Gabinete do vice-presidente dos EUA –, mas o caso continuou sem respostas completas. Libby foi, até agora, o único indiciado da história, por obstrução à Justiça e falso testemunho; ele aguarda julgamento, marcado para o início de 2007. O papel de Rove, que muitos críticos acreditam estar envolvido no vazamento, continua desconhecido.
O estrategista político havia comparecido pela última vez diante do grande júri em outubro do ano passado. Seu advogado, Robert D. Luskin, insistia em dizer, desde então, que seu cliente não é uma figura importante no inquérito e será inocentado. O testemunho desta semana vem em um momento politicamente sensível para Rove, que perdeu parte de suas funções na Casa Branca, na semana passada, em meio a uma ‘reforma’ interna para tentar melhorar a popularidade de Bush.
Fitzgerald não comenta sobre o papel de Rove, afirmando publicamente que apenas continua a explorar questões relevantes para o caso. A Casa Branca também não fez comentários sobre o novo depoimento. Segundo artigo de Anne E. Kornblut no New York Times [27/4/06], não ficou claro se a decisão do novo chefe de Gabinete de Bush, Joshua B. Bolten, de tirar a pasta de políticas públicas das responsabilidades de Rove foi tomada antes do agendamento do testemunho.
O estrategista político passou quatro horas dentro do tribunal, na quarta-feira. Ao sair, também não fez comentários. Seu advogado divulgou uma declaração onde afirma que Rove testemunhou ‘voluntariamente e incondicionalmente’ sobre ‘uma questão’ que surgiu desde seu último depoimento.
Questão misteriosa
A ‘questão’, especula o artigo do Times, pode estar relacionada ao testemunho da ex-repórter da revista Time Viveca Novak, em dezembro. Na ocasião, a jornalista disse a Fitzgerald que poderia ter, sem querer, ajudado Rove em sua defesa, ao ter conversado sobre o assunto com o advogado dele, Luskin. Viveca teve alguns encontros com Luskin em 2004.
Fitzgerald parece continuar interessado em saber por que, no primeiro depoimento ao grande júri, em 2004, Rove escondeu o fato de já ter falado sobre Valerie Plame com algum jornalista. Meses depois, ele mudou sua versão, afirmando ter conversado sobre o assunto com o repórter Matthew Cooper, da Time. Rove alegou que havia esquecido sobre esta conversa quando testemunhou. Em um dos encontros com Luskin, ao ouvir do advogado que Rove não era a fonte de Cooper, Viveca perguntou se ele tinha certeza, pois ela havia ouvido que o papel do estrategista político no caso era bem maior do que ele havia admitido. Ao ser chamada a depor, a jornalista confessou que temia ter ajudado Rove, ao ter dado a ‘dica’ do que sabia para seu advogado.
Desde o indiciamento de Libby, o promotor intimou Viveca e Luskin a falar sobre suas conversas; também foi convocado o jornalista Bob Woodward, do Washington Post, para discutir conversas que teve sobre o assunto com um funcionário governamental – até hoje não identificado publicamente.