Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rumo ao arquivo morto

A corrupção voltou a ocupar as manchetes dos jornais, em parte por conta do relatório da Polícia Federal a respeito do escândalo chamado de ‘mensalão’, publicado pela revista Época neste final de semana.


De repente, como um tsunami, uma sucessão de reportagens e comentários lembra o cenário de cinco anos atrás, quando não havia outro tema na imprensa. No entanto, faltaram referências ao maior de todos os escândalos, aquele que representa a ação criminosa de maior envergadura já praticada no Brasil, que deveria ser o caso mais chocante justamente por não se transformar em escândalo.


Trata-se do caso Banestado.


Foi ali que se manifestaram pela primeira vez, de forma sistêmica e organizada, os esquemas de desvio e lavagem de dinheiro em larga escala e grandes volumes, envolvendo quase uma centena de operadores contumazes e um número ainda desconhecido de beneficiários. Foi também no caso Banestado que se caracterizou a relação entre fraudes financeiras e o sistema eleitoral como parte do negócio político, aceita e praticada de forma generalizada.


O chamado ‘mensalão’, se provadas suas evidências, seria mais uma dessas operações.


Reforma política?


Sem qualquer resultado prático no caso original do Banestado, cuja análise revela a fragilidade do sistema judiciário brasileiro, não há como esperar uma satisfação total à opinião pública como resultado da nova onda em torno do ‘mensalão’. O arquivo morto parece ser o destino de todos os processos que ameaçam o cerne do sistema.


O novo relatório da Polícia Federal sobre o ‘mensalão’ serve mais à imprensa do que à Justiça. A Folha de S.Paulo afirma, na edição de segunda-feira (4/4), que o material dificilmente será incorporado ao processo que corre no SupremoTritunal Federal.


Se o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, admitir as novas peças, terá de abrir agenda para as manifestações de todos os réus, o que poderá aumentar as chances de passar o prazo de prescrição e acabar não havendo a punição de ninguém. Como já alertou o Estado de S.Paulo há uma semana, o crime de formação de quadrilha prescreve em agosto.


Enquanto isso, não se fala em reforma política, nasce mais um partido de conveniência e tudo continua como dantes.