Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sandra Sato

‘O novo diretor de Justiça e Classificação Indicativa do Ministério da Justiça, o advogado José Eduardo Romão, de 30 anos, assumiu o cargo com a tarefa de manter um contato mais próximo com as emissoras de televisão e a sociedade civil. Romão substituiu Mozart Rodrigues Silva, demitido do cargo depois de publicar portaria no Diário Oficial reclassificando os programas Cidade Alerta, da Record, e Brasil Urgente, da Bandeirantes, para depois das 21 horas.

Programas ao vivo e de cunho jornalístico, em princípio, são de responsabilidade do apresentador. Eventualmente até podem ser classificados, mas o ex-diretor não consultou a secretária de Justiça, Claudia Chagas, a quem era subordinado diretamente, antes de assinar a portaria impondo novo horário para os programas.

O novo diretor não planeja, num primeiro momento, mudar a classificação de programas ao vivo. ‘É um tema que divide muito’, justifica. A missão principal é restaurar o debate com as emissoras sobre qualidade e ética na programação. Romão antecipa que não começará do zero a discussão com as emissoras. Pretende aproveitar projetos já em discussão no Congresso, como o do deputado Orlando Fantazzini (PT-SP). A auto-regulamentação, que chegou a ser tentada no governo anterior incumbindo as próprias emissoras de produzirem um código de ética, está afastada.

Ofício

Romão revela que tem preferência por TVs públicas e programas de qualidade com caráter educativo, artístico e cultural, exatamente como determina a Constituição. No entanto, assiste a todo tipo de programa por causa do cargo que ocupa. ‘Assisto também aos programas de baixa qualidade por dever de ofício.’ O advogado é especialista em direitos humanos e na gestão do ex-prefeito de Belo Horizonte e hoje ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, ele trabalhou com mediação comunitária em área de favelamento. Atuou também no Ministério da Educação na análise de pedidos de abertura de cursos superiores.

A secretária Claudia convidou Romão para sua equipe para ampliar o canal de comunicação com as emissoras e os movimentos que lutam pela qualidade na TV e também para modernizar a burocracia da diretoria.

Além de classificar programas, a diretoria analisa pedidos de criação de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e de entidades de utilidade pública. Com aval da diretoria, tais entidades passam a gozar de isenções fiscais. Hoje, há 2 mil Oscips e 22 mil entidades de utilidade pública. Romão quer apresentar ao governo proposta de projeto de lei definindo o papel destas instituições na relação com o Estado. Romão pretende produzir grande diagnóstico do atual papel das entidades e discutir uma agenda positiva. ‘Queremos uma via de mão dupla; hoje o governo só recebe e atende demandas.’’



TV E SEXO
Daniel Castro

‘Canal produz série sobre o sexo no Brasil’, copyright Folha de S. Paulo, 22/02/04

‘Maior canal pago de sexo do país, com 150 mil assinantes (que pagam R$ 18 para vê-lo), o Sexy Hot, da Globosat, estréia em 30 de março o ‘Zona Quente’, ‘o primeiro programa de comportamento sexual brasileiro explícito’, segundo o produtor André Sztajn.

‘Zona Quente’ será semanal e terá a missão de aumentar em 20% o público do Sexy Hot. Em São Paulo, estão sendo produzidas reportagens sobre casas de suingue e indústria nacional de filmes pornôs. No Rio, o assunto são as termas. O programa vai misturar reportagens com depoimentos e dicas, tipo posições sexuais. ‘Tudo sob o ponto de vista nacional’, diz Sztajn.’



REALITY SHOWS
Dayanne Mikevis

‘Espanhóis comem jacaré em ‘reality show’’, copyright Folha de S. Paulo, 22/02/04

‘O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) vetou, na quinta-feira, o uso de animais silvestres no ‘reality show’ espanhol ‘La Selva de los Famosos’.

Uma participante eliminada revelou, no domingo passado, que um jacaré foi comido pelos concorrentes. No site do programa (www.antena3tv.com/laselva/), um vídeo mostrava uma tarântula sendo assada pelos integrantes na última quinta-feira.

O órgão informou, por meio de uma nota, que um pedido para o uso de mais de 20 animais vivos foi indeferido antes do início da gravações, em janeiro, por promover a captura de várias espécies silvestres, além de não exibir nenhum conteúdo educacional.

As tomadas são realizadas em um hotel próximo a Iranduba (25 km de Manaus), que deve ser visitado pelo Ibama para averiguação das denúncias.

Segundo o órgão, a produção é apenas autorizada a utilizar animais empalhados. A direção do programa no Brasil não foi localizada, mas, segundo o

Ibama, os responsáveis haviam declarado à imprensa que tinham o apoio do órgão e do governo do Amazonas.

‘La Selva de los Famosos’ é veiculada pelo canal Antena 3, que é aberto e privado. A atração levou 16 participantes para a floresta. O grupo é formado por modelos, cantores, ex-candidatas a Miss Universo, uma ex-apresentadora de programa infantil, um comediante, atletas e um toureiro.

O jogo consiste em duas fases. Na primeira, às quartas e aos domingos, ocorrem nomeações e expulsões entre integrantes de duas equipes. Na segunda fase, segue o entra-e-sai, mas o público, que não vota na primeira, dá sua opinião, e a competição passa a ser individual. Enquanto isso, participantes são submetidos a provas e têm de buscar alimento.

O local é descrito no site do programa como ‘um entorno hostil cheio de ameaças’. Ainda diz que ‘a fauna que povoa o rio Amazonas e seus arredores é composta por piranhas, enguias elétricas, raias venenosas, jacarés, sucuris e morcegos-vampiros’.

O programa é uma mistura de ‘Casa dos Artistas’, que foi veiculado pelo SBT, com o global ‘No Limite’. Não é a primeira vez que um ‘reality show’ é gravado na região. O norte-americano ‘Survivor’ utilizou a mesma locação.

Essa é a terceira edição do programa ‘La Selva de los Famosos’. Segundo o site da atração, uma escola será construída com dinheiro doado pela emissora. O centro educacional deverá ser erguido no bairro Itaqui Bacanga, em São Luís, no Maranhão.’



Camila Viegas

‘Para especialista, ‘só talento salva formato’’, copyright Folha de S. Paulo, 22/02/04

‘A fusão de esporte com o formato do ‘reality show’ deve pontuar o próximo grande investimento da televisão norte-americana no gênero. A produção será feita pelos estúdios da DreamWorks, conduzida por Jeffrey Katzenberg e Mark Burnett, e pelo ator Sylvester Stallone.

O programa será protagonizado somente por boxeadores amadores. Segundo a revista ‘Hollywood Reporter’, serão mostrados os treinos e as histórias pessoais de cada participante.

O papel de Stallone ainda não está definido, mas as regras serão semelhantes às de ‘Survivor’ e ‘No Limite’, em que dois grupos competem entre si e o perdedor vota pela eliminação de um de seus membros.

Para Tony Kornheiser, colunista do jornal ‘Washington Post’ e da rádio e TV ESPN, ‘isso já deveria ter sido pensado antes’, já que o gênero pega emprestado muitas características do esporte. ‘Todos os ‘reality shows’, assim como os esportes, têm prêmio, tática, sacrifício, trapaça, perdedor, vencedor e bola pra frente’, resume ele, que também é autor de ‘I’m Back for More Cash’ (Voltei para Buscar Mais Dinheiro).

Há duas semanas, ele recomendou a seus leitores assistir a ‘American Idol’ e a ‘The Bachelorette’, já que o Super Bowl -a final de futebol americano- já tinha chegado ao fim: ‘A melhor coisa dos ‘reality shows’ é que eles já começam com as eliminatórias. É isso que a gente quer ver, algum perdedor ser tocado para fora. O corte. Isso é puro esporte’. ‘Nunca vi ‘reality shows’ brasileiros, mas acredito que ‘Big Brother Brasil’ e a ‘Casa dos Artistas’ já devam estar cansando. Mesmo que as pessoas sejam diferentes, a gente já viu tudo’, diz.

Fórmula de sucesso

Os americanos são obcecados por esporte. Eles inventaram o basquete, o beisebol e o futebol americano, e a maioria torce por um time profissional e outro amador de cada categoria. Isso também se reflete nos programas: grande parte do público conhece os participantes de seus ‘reality shows’ favoritos pelo nome.

Tanto atletas quanto os participantes de ‘reality shows’ competem para vencer. ‘Eles não pensam na humilhação do perdedor e sabem que o público quer a perfeição. O torcedor não perdoa quando um atleta falha num momento decisivo.’

Mas, segundo Kornheiser, o que salva o esporte é o talento. ‘É por isso que lá as regras podem ser sempre as mesmas. Sem talento individual, a órmula cansa’, explica. Por isso as regras de um ‘reality show’ têm de mudar para se manter popular. Atualmente nos EUA estão no ar uma competição por um emprego em uma empresa de Donald Trump (‘The Apprentice’), dicas de beleza, moda e gastronomia de cinco gays para mudar o visual de um heterossexual (‘Queer Eye for the Straight Guy’), um internato de auto-ajuda (‘Starting Over’) etc.

Para Kornheiser, a solução para a longevidade é talento. ‘American Idol’, por ser uma competição musical e mostrar novos cantores a cada edição, não satura o público. É por isso que o ‘reality show’ de boxe da DreamWorks com Sylvester Stallone tem grandes chances de sucesso.’

E, como a vida também imita a arte, a carreira de Tony Kornheiser será transformada em comédia de situação pelo canal aberto CBS. O ator escolhido para interpretá-lo é Jason Alexander, o George do extinto ‘Seinfeld’.’