Uma das mais antigas publicações sobre música (com ênfase no rock) está entrando em nova fase. A edição mais recente da revista Rock Press chegou às bancas com páginas coloridas, talvez para deixar de lado de forma definitiva o rótulo de fanzine, muitas vezes usado de forma pejorativa por seus críticos.
Segundo sua proprietária, Claudia Reitberger, a Rock Press nasceu movida pela insatisfação de não encontrar nada que a agradasse. Com o então marido, Robson, com a cara e a coragem lançou a publicação em 1996. Sua longevidade é algo de admirar, uma vez que várias revistas do mesmo segmento são lançadas, duram pouco e logo somem sem deixar vestígios.
Nessa entrevista, por e-mail, Claudia Reitberger fala das dificuldades de tocar uma revista independente. Para ela, tudo seria mais fácil com uma maior entrada de dinheiro, gerando um efeito-cascata positivo. ‘Se você tem grana alta, vai ter uma tiragem dos sonhos, e a distribuição conseqüentemente melhora. E uma coisa puxa a outra – mais vendas, mais divulgação, mais anunciantes e assim vai’, diz.
‘Fazemos permuta de valores’, conta, sobre a remuneração de colaboradores. Ela explica como a revista se protege de picaretagens: ‘As matérias são acompanhadas de pertinho com cada um’, afirma. Mas assume que, mesmo com todo o cuidado, nem mesmo a Rock Press está livre dessa praga. E analisa seus concorrentes: ‘Os que apenas fabricam publicações, os engravatados mentais, os burocratas, têm sua estrutura de grande empresa no apoio, mas não existe alma – e muitas vezes nem conhecimento de causa – no que fazem’.
Conte um pouco da história da Rock Press.
Claudia Reitberger – Pegou pesado logo de cara, isso daria um livro! O tesão surgiu do fato de não encontrar nada nas bancas que me satisfizesse em termos de revista de rock. Na pratica, fomos (Robson, meu marido na época e atual amigo e sócio) à luta e fizemos. Abrimos uma editora, fizemos uma boneca, corremos atrás de anunciantes, e voilà!
Quais as dificuldades enfrentadas para se manter uma revista de música sem a estrutura operacional de uma grande editora?
C. R. – A dificuldade de qualquer firma basicamente: grana. Deveria ser criado um curso para anunciantes no Brasil. A maioria não tem noção do conceito alma do negocio. Distribuição também pega um pouco – é possível um sistema mais inteligente, mas um dia chegam lá. Basicamente, grana. Se você tem grana alta, vai ter uma tiragem dos sonhos, e a distribuição conseqüentemente melhora. E uma coisa puxa a outra – mais vendas, mais divulgação, mais anunciantes e assim vai.
Uma coisa que se repara em publicações desse tipo é a ausência de anúncios que não sejam de gravadoras. Como você explicaria esse fenômeno?
C. R. – Bem, nós temos bastante anúncios que não são de gravadoras. Talvez tenhamos menos do que em outros tempos. no momento o mercado esta bem retraído, e as lojas pequenas cortam o que acham supérfluo – quando deveria ser o contrario – você divulga, aparece, vende mais. Se você checar as revistas de música/rock verá que a maioria dos anúncios é de não-gravadoras.
Como a Rock Press lida com a questão da remuneração de seus colaboradores?
C. R. – Todo colaborador tem direito a espaço na revista – como uma permuta de valores. Essa é a solução no momento. Mas todos que colaboram o fazem cientes – não existe trabalho escravo. Estamos trabalhando para a remuneração existir em cash o mais rápido possível.
Qual a análise que você faz das outras revistas de música existentes no mercado?
C. R. – Óbvio, há coisas muito boas e algumas fracas. Mas somos todos bravos amantes seja de musica, rock, jornalismo, o que for, pois tem que ter punch pra permanecer, insistir, prosseguir:) Os que apenas fabricam publicações, os engravatados mentais, os burocratas, têm sua estrutura de grande empresa no apoio, mas não existe alma – e muitas vezes nem conhecimento de causa – no que fazem. Pode parecer idealismo babaca, mas se o cara não faz o que gosta e não se diverte, o resultado é chocho e o sujeito é um infeliz.
Virou rotina na área musical a pratica da picaretagem jornalística (invenção de entrevistas etc.). Que mecanismos a Rock Press mantém para não ser pega de surpresa quanto a isso?
C. R. – Virou rotina acho um pouco forte, são casos isolados. De qualquer modo, eu conheço meu pessoal, conheço o estilo de cada um, nada passa pelo crivo da redação. É perceptível quando algo soa, digamos, estranho. Entrevistas feitas via gravadoras são checadas antes, durante e depois pelas próprias assessoras, em geral. Entrevistas cavadas diretamente com bandas ou selos gringos passam praticamente sempre por mim, de um modo ou de outro. (Suspeito que até possa ter acontecido na RP, no passado, em algum momento, mas as pessoas queimadas estão longe) As matérias são acompanhadas de pertinho com cada um; realmente, putz, tem de ser um psicopata legal para realizar a coisa de modo a não deixar escapar o mau cheiro.
Quais são os projetos da Rock Press para o futuro?
C. R. – Melhorar sempre – crescer, em todos os sentidos, e ser fiel ao seu intento, que é encher de informação, informação, informação as páginas agora coloridas da revista; seguir fazendo um trabalho de quem gosta e conhece para quem gosta e conhece ou quer conhecer mesmo.
******
Colaborador dos sítios LabPop, Ruídos, Papo de Bola e do sítio da Rádio Brasil 2000 FM-SP; blog pessoal (http://onzenet.blogspot.com)