O debate do dia 5 de agosto entre os candidatos à presidência José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), na Rede Bandeirantes, não teve brilho nem faíscas. As farpas enviadas por Plínio contra os adversários despertaram a nostalgia de quem assistiu, em outros tempos, aos combates verbais em que Jânio Quadros, Maluf, Brizola, Mário Covas, Lula e Collor disputavam eleitores.
Possíveis acordos entre as equipes de Dilma e Serra se encarregaram de evitar desgastes mútuos, garantindo alto índice de tédio. Não se fale em dossiês, e não se falará do pedágio nas estradas de São Paulo. Não se acuse o PT de envolvimento com as Farc e não será esmiuçado o desempenho do PSDB paulista no campo educacional. Ora, o que sobrou? A falta de conteúdo vibrante acabou chamando a atenção para as formas linguísticas, as muletas verbais, os anacolutos, as frases truncadas, como na matéria especial da revista Veja desta semana (edição nº 2177): nós falamos mal, mas você pode fazer melhor.
O pouco tempo disponível para desenvolver o discurso justifica, em parte, os escorregões de Serra, Dilma e Marina. Em parte, somente, porque Plínio, em iguais condições, foi contundente e claro, e talvez tenha sido o que mais se beneficiou com o embate.
Lances literários
O debate sem debate, conforme Eliane Cantanhêde (Folha de S.Paulo, 08/08), deveu boa parte de sua insipidez à ausência de ousadias retóricas. Mas houve uma ou outra tentativa. Dentre as quais, o momento em que Marina mediu as palavras e declamou um poema. Na última estrofe, porém, em busca de uma rima, ou por humildade mal compreendida, a senadora poeta esboçou em verso o possível resultado das eleições (Dilma em primeiro lugar, Marina em último):
‘Dado, meu pequeno Dado
Que Dilma, Serra, Plínio ou Marina
Ajude a mudar a sina
De tantos Dados jogados.’
No começo do debate, quando Ricardo Boechat perguntou qual dos três itens receberia imediata atenção do futuro presidente – segurança, educação ou saúde –, José Serra incorreu em infeliz metáfora:
‘Saúde, educação e segurança são como três órgãos do corpo humano: coração, fígado (é…), intestinos.’
Se grandes jornais, como o Correio Braziliense (5/8), O Globo (6/8) e o Estado de S.Paulo (7/8) ocultaram essa falha é porque realmente não foi um achado poético… Ou teria sido uma charada?
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br