Jean Baudrillard, pensador francês falecido em 2007, afirmava categoricamente que a chamada Guerra do Golfo (1991) não existiu. Para ele, o que a TV americana mostrou, em especial a CNN e Peter Arnett, foi um grande vídeo-game. À luz dos fatos, a investida militar dos americanos no Iraque durou menos de um mês. Ela se resumiu a um intenso bombardeio aéreo sobre a cidade de Bagdá, o qual o Pentágono chamou de ‘Operação Tempestade no Deserto’, um bombardeio ‘cirúrgico’ que preservou a patrimônio histórico/cultural da cidade. Depois de alguns dias, a infantaria se encarregou de fazer o resto da ‘limpeza’. Ao todo, apenas 36 soldados americanos morreram no ‘conflito’. Para Baudrillard, a Guerra do Golfo não aconteceu e nunca existiu, pelo menos nos moldes convencionais. Foi uma criação da mídia.
O jornalista Cláudio Abramo, falecido em 1987, fez a cobertura da Guerra Civil espanhola. Relatou uma Barcelona maltrapilha, nos escombros. Descreveu um povo sem esperança, famélico, sem emprego. Informou sobre um país à beira do caos e da desgraça. [Nota da Redação: Cláudio Abramo nasceu em 1923; é improvável que tenha sido correspondente de guerra dos 13 aos 16 anos de idade.] O norte-americano John Reed, em seu relato jornalístico Os 10 dias que abalaram o mundo, descreveu a Moscou czarista e efervescente nos bastidores, pouco antes da Revolução Russa de 1917. Euclides da Cunha, num português neologista quase indecifrável, relatou o homem Antônio Conselheiro na pele de um messias em Canudos e a investida covarde e genocida das tropas brasileiras. Muito mais passional que Abramo, Reed e Euclides fez Edgar Peréa, da Rádio Caracol, da Colômbia, que, num olimpo de histeria e felicidade, chorou o gol do atacante Rincón no último minuto contra a Alemanha. Gol este que classificou a Colômbia para a fase seguinte da Copa 90 de futebol.
Mentiras, notícias e verdades
Cada um à sua maneira ou estilo, esses jornalistas buscaram ser fiéis ao máximo ao que viram e ouviram. Trataram de se ‘distanciar’ daqueles fatos para buscar a tal da isenção e imparcialidade. É claro que Edgar Peréa, se pudesse, pularia da cabine de rádio para abraçar Rincón, mas traduziu no melhor estilo latino a alegria de um povo que experimentava depois de muito tempo as emoções de uma Copa do Mundo. Nenhum dos quatro citados plantou coisas, inventou ou distorceu fatos.
Na sexta-feira (27/11), a Folha de S.Paulo publicou artigo de César Benjamin, ex-assessor do presidente Lula desde os tempos da fundação do PT. Benjamin relatou no artigo que Lula comentou em 1994 que teria violentado um jovem no período em que esteve preso durante a ditadura. A estapafúrdia história depois foi desmentida, nada mais era do que uma das incontáveis brincadeiras de Lula. A Folha, portanto, que sequer se deu ao trabalho de pesquisar o assunto ou levantar e ouvir outras fontes, plantou uma notícia, deu crédito a uma história sem pé nem cabeça, irresponsável, delirante.
Que instituição é essa que deveria traduzir o que de fato está acontecendo hoje, mas que dá crédito a uma mentira de quase 30 anos? Veja e Estadão foram a reboque no embuste. O Globo, felizmente, ignorou a história publicada na Folha. E pensar que estamos ainda em 2009. Ano que vem será um ano dramático para imprensa brasileira: Mentiras transformadas em notícias; notícias transformadas em verdades.
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Jornalista, Belo Horizonte, MG