O jornal O Estado de S.Paulo anuncia, em minúscula nota no primeiro caderno, que os 2.102 jovens que se inscreveram no 20º Curso Estado de Jornalismo começam neste domingo (2/8) a primeira etapa do processo de seleção, devendo até o dia 16/8 ser conhecidos os 60 pré-classificados. Mais informações podem ser obtidas no site do curso.
O leitor curioso vai até o site, pois imagina que, agora que conseguiram eliminar a obrigatoriedade do diploma específico para o exercício do jornalismo, os jornais tratarão de ampliar as fontes para seleção de seus profissionais, certo?
Errado: o Curso Estado de Jornalismo, também chamado de Escola de Focas, é só para recém-formados de faculdades de Jornalismo ou alunos do último ano ou último semestre de… Jornalismo.
Sem exclusividade
A decisão do Supremo Tribunal Federal eliminando a obrigatoriedade do diploma para exercício do jornalismo foi tomada no dia 17 de junho, ou seja, mais de quarenta dias antes do fim das inscrições para o curso do Estadão. Embora o site ainda postasse até sexta-feira (31/7) informações sobre como se inscrever, as inscrições podiam ser feitas somente até o final de junho.
Ora, se a questão do diploma era tão importante, se era um caso de defesa do amplo direito de expressão, por que o jornal não estendeu o prazo de inscrição logo após a decisão do STF, para democratizar o acesso à tão desejada profissão?
Por que não fez qualquer gesto para abrir a possibilidade de estudantes ou recém-formados em faculdades de Direito, de Economia, de Enfermagem ou de Moda participarem do processo de seleção?
Se o jornalismo não é mais exclusividade de jornalistas diplomados, como sustentar a manutenção da exclusividade diante de eventuais processos judiciais de estudantes de outras áreas impedidos de concorrer?
Direito negado
A direção do jornal pode alegar que não houve tempo para alterar as regras. Tal alegação pode ser discutida em juízo.
O jornal também pode alegar que, tratando-se de um processo de seleção para um curso privado, ninguém tem nada a ver com isso.
O jornal só não consegue explicar a incoerência de haver se empenhado tanto para acabar com a exigência do diploma de jornalismo, alegando razões tão nobres como os direitos humanos, e depois negar esse direito aos estudantes ou recém-formados de outras especialidades que querem ser chamados de jornalistas.