Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Só papa

Não há dúvida: João Paulo 2º foi uma das grandes personalidades de nossa época. Como papa, comandou por mais de um quarto de século uma das principais religiões do mundo. Tinha imenso charme e conhecia tudo de comunicação. Mas temos de colocar o tema em debate: será que não publicamos papa demais?


Jornais, revistas e TV ficaram cansativos. O rádio, menos: deu muita notícia, muita entrevista, mas não se envolveu numa cobertura extensiva, exaustiva. Mas, de qualquer modo, foi suficiente para saber que, no conclave, ‘quem entra papa sai cardeal’ – frase repetida umas vinte vezes por dia. Houve alguns ‘povo fala’ que tratavam a eleição do papa como um grande Big Brother: o sujeito de algum grotão perdido do Brasil ou do mundo foi ouvido e disse quem era seu candidato.


Mas é preciso compreender: como preencher tanto tempo e tanto espaço sem falar bobagem? Aí vem o presidente da República e dá apoio ao cardeal brasileiro, como se o comando da Igreja Católica fosse uma espécie de Copa do Mundo, como se o apoio de um leigo tivesse algum valor real. E vem o próprio cardeal do Rio criticar a religiosidade do presidente da República, como se isso tivesse alguma importância num país em que a Igreja é oficialmente separada do Estado.


É difícil, no calor da cobertura, discutir o controle do espaço e do tempo a ela destinados. Mas é tema para entrar na nossa pauta. Primeiro, porque espaço e tempo custam dinheiro e encarecem nossos produtos. E, em segundo, quantas pessoas conseguem acompanhar tanta notícia sobre um só assunto?