O Estado de S.Paulo deu um passo decisivo na segunda-feira (11/8) para uma reversão na atitude da imprensa brasileira com relação à violência na região da Palestina. O Estadão tomou partido da paz.
Era isso que faltava. A neutralidade do noticiário sobre um conflito é sempre positiva, bem-vinda. Mas a neutralidade estática é omissão, não resulta – dá em nada. Não basta ser acrítico, é preciso assumir uma posição crítica, proativa: a única possível é acionar a dinâmica da paz.
A entrevista com o historiador carioca Michel Gherman pode ser o gatilho para tirar o dedo do gatilho. O destaque, a extensão, e, sobretudo, a credibilidade de quem veiculou o documento são fundamentais – o Estadão tem uma história mais do que secular de opções inequívocas. Mas a força, concisão, clareza e generosidade de quem emitiu estas ideias podem criar uma reversão na comunidade judaica brasileira legitimamente comprometida com a defesa do Estado de Israel, porém erroneamente induzida a apoiar os erros do seu governo e da coalização direitista-fundamentalista que o inspira.
A diáspora judaica precisa compenetrar-se do importante papel que lhe está reservado no estabelecimento de uma via de duas mãos entre a sociedade israelense – permanentemente ameaçada de aniquilação por seus inimigos – e a comunidade internacional que garantiu e materializou o sonho do Estado de Israel por meio da Resolução 181 da ONU, de novembro de 1947.
Desfeitos os guetos, agora é preciso acabar com a mentalidade do bunker. Gherman oferece um caminho: “‘Não podemos aceitar a ideia de que um lado é menos humano que o outro’”.
Ambos merecem a paz.
Erro crasso
A decisão de entidades judaicas do Rio Grande do Sul de considerar o governador Tarso Genro como persona non grata é obscurantista, fraticida, despótica e antidemocrática.
É um escárnio aos judeus que defendem a partilha da Palestina em dois estados e legitimou a criação do Estado de Israel. Aqueles que são pró-Israel, por coerência, são igualmente pró-Estado Árabe da Palestina. São entidades nacionais gêmeas, uma nascida e a outra ainda não. Tarso Genro, filho de mãe judia, não pode ser banido, assim como a comunidade de Amsterdam não poderia excomungar Bento Spinoza, um dos precursores do Iluminismo (1656).