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As matérias publicadas em torno dessa questão eram mais ou menos assim, como se o ministro Nelson Jobim tivesse feito uma interferência no Parlamento e, portanto, a partir disso, atrapalhado o processo punitivo, criando um ambiente de execução sumária que não é admissível num país democrático. A partir daquele momento nós resolvemos reagir. Isso gerou um ambiente muito tenso no PT. Nós achamos que a criminalização em abstrato de uma comunidade é inaceitável. Ao invés de atacarem setores ou pessoas do PT, o partido estava sendo incriminado e criminalizado, então resolvemos reagir duramente, eu diria até não tão duramente como fomos tratados durante um certo período. Agora, é necessário ressaltar que a nota parte do pressuposto do reconhecimento de erros graves que o partido cometeu e os declara publicamente, prometendo corrigi-los. Portanto, não é somente uma resposta a esse processo.**
Se o PT não reagisse como reagiu, nós estaríamos corroborando uma espécie de criminalização abstrata que está sendo feita contra o partido, a ponto de hoje se estabelecer uma identidade na sociedade de que o PT é um partido de corruptos. É isso que está restando além das denúncias corretas, das afirmativas que nós assumimos e das autocríticas públicas que estamos fazendo. Agradecemos inclusive à mídia por ter apresentado publicamente questões-chave para corrigirmos no futuro. Agora, tem determinado momento em que esse debate se aliena e passa a ser um debate sobre a cultura política da sociedade.**
Assim como o PT não é inatacável, não era o dono da verdade, um poço de virtudes e nem o símbolo único da ética, a imprensa também não é um bando de inocentes, não é um conjunto de pessoas desinteressadas, não é um conjunto de pessoas que tenham a mesma visão de pátria. Certamente por dentro dela também existe a sua deficiência, as suas debilidades, os seus problemas.**
A democracia é boa por isso porque ela permite, inclusive, que tudo que isso se diga e que os excessos possam ser corrigidas. Com isso nós não estamos fazendo nenhum apelo a qualquer tipo de auto-censura, mas nós temos o direito de fazer um debate, de diálogo, até o momento em que sejamos chamados novamente a ter uma resposta mais enérgica.**
Há algumas metáforas ali que foram desnecessárias. Em momento de emoção, em momento de tensão mais dura, posso até assumir a responsabilidade em relação a essas metáforas. Quando se fala, por exemplo, em golpismo midiático não está se acusando a mídia de preparar um golpe contra o partido, o que se quer dizer com essa metáfora é que ela está sendo usada pela oposição para destruir o PT. Talvez a nota não tenha sido bem clara.**
O PT não está se inocentando quando faz críticas a determinados comportamentos relacionados às acusações que está sofrendo. O PT cometeu graves erros, o PT se apresentava de maneira equivocada, como se fosse um poço de virtude. Tanto o PT – como a mídia e qualquer ator da sociedade – reproduz as grandezas, as misérias, os erros e equívocos de toda a sociedade. Nós temos que aproveitar essa oportunidade, inclusive, para recompormos o partido, refundarmos o partido, e estabelecermos um diálogo com a sociedade que não é somente de resposta agressiva como foi essa nota. Acho que essa nota foi necessária porque chamou a atenção de determinados setores da sociedade que estavam dialogando conosco, um ‘partido de corruptos’ – nós temos erros, mas uma comunidade não pode ser agrupada de maneira abstrata e colocada em erro.**
O PT vai sair melhor dessa crise, os demais partidos sairão melhores dessa crise, as instituições democráticas sairão mais fortalecidas e nós daremos mais um passo naquilo que chamo arrojadamente de revolução democrática no Brasil. A taxa de caixa dois na próxima campanha será próxima de zero porque todos os partidos vão ter cuidado ao apresentar suas contas, para que não tenham furo. Em segundo lugar: o debate político que está se travando hoje, não é a corrupção de um partido é, na verdade, a permeabilidade das instituições republicanas a vícios e a ilegalidades.**
O PT vai perder voto nas próximas eleições, quem sabe vai perder 5%, 10%, 15% dos votos, mas vai sair fortalecido porque vai ter que regenerar os seus estilos de direção, sua forma de controle, a relação com a sua base militante – inclusive as formas de decidir politicamente a comissão executiva para um trabalho mais coletivo, mais ordenado e menos aparelhista.**
Esta resolução unânime do PT foi unanimidade muito bem recebida na base do partido, que precisava de uma resposta num momento de circo bastante extenso a que nós estávamos sendo submetidos e que, em última análise, continua. Porém, num diálogo mais qualificado, com um respeito mútuo mais expressamente colocado na sociedade.