Na sexta-feira (24/7), acessei a Folha Ilustrada e deparei com um comentário muito interessante a respeito da série Som e Fúria, que teve nesse mesmo dia o seu fim. O texto ‘Som & Fúria é sucesso de crítica, mas fracasso em matemática’. De James Cimino é um dos melhores textos que já li. Inteligente e direto, expondo um ponto de vista que usa de argumentos plausíveis. Ele fala sobre qualidade e ibope. O primeiro sobrava e o outro faltava. Nesse período, Som e Fúria não tinha grande audiência, perdendo até para os filmes da Record.
É importante lembrar do seu tema:
Uma adaptação da série canadense Slings and Arrows, que mostra os desafios de um grupo de teatro shakespeariano para manter a qualidade artística de seu trabalho em contraste com as exigências comerciais e de público. Com ironia e bom humor, questões pessoais e profissionais entram em conflito, criando tramas e dramas entre atores, diretores e patrocinadores (Poltrona TV, texto na íntegra aqui).
O plano era de 12 episódios. Claro que poderia ser prolongado, afinal tudo se prolonga, mas em função dos números baixos, a idéia parece ter ficado para trás. Afinal, menos de dez pontos: nada de público massivo. Aliás, de acordo com seu texto, o público não entendia a proposta da série. Não entendia a linguagem, ou simplesmente não entendia nada. Muitos abandonaram no primeiro capítulo. Uma experiência que diz ter comprovado ao usar o twitter, logo depois de assistir à estréia da série e ver o que estavam comentando.
Receita rápida para o sucesso
Mas o questionamento de James Cimino é:
‘As TVs têm apenas que buscar produzir e reproduzir aquilo que o público maciço supostamente espera ver?’
Sim. Por que somente o maciço?
Não pode haver segmentação? Isso soa estranho, afinal não é somente uma classe social que assiste TV. E, por mais que citem a TV a cabo como ambiente certo para segmentação, nem todo mundo pode ter acesso a ela.
As pessoas que não podem pagar por esse serviço não merecem um pouco de qualidade?
Todos os bons programas têm que ser segregados para a madrugada?
Muita gente já deve ter percebido que os melhores programas e filmes são sempre jogados nesses horários. Parece complô. Quem busca qualidade parece ser obrigado a ter insônia.
Por que tudo tem se seguir o mesmo padrão, como se fosse uma receita rápida e prática para o sucesso?
Forma de salvação
No caso da TV, ter a maioria é sinônimo de dinheiro. Mas maioria é sinônimo de qualidade?
Para as emissoras brasileiras, sim. Talvez para elas seja caro demais arriscar, embora certamente um pouco de qualidade faça falta. Então, azar o nosso.
Que venham os reality shows, os programas de humor pasteurizados e tudo o mais que seja a moda. Todos eles recheados de potrancas e popuzudas, pancadão, duplas sertanejas, e bandas de axé.
Hora de usar a famosa tecla on/off e congestionar a internet como forma de salvação. Talvez porque lá simplesmente não somos a maioria. Perfeito? Não, mas certamente melhor do que a alienação institucionalizada.
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Jornalista, criadora do blog Limão em Limonada, São José do Barreiro, SP