Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sugestões, suposições e falhas

Um artigo de capa publicado há pouco menos de duas semanas no New York Times gerou uma enxurrada de e-mails acusando o jornal de colaborar com os esforços do governo Bush para aumentar a hostilidade contra o Irã. O artigo, assinado pelo experiente jornalista Michael Gordon, afirmava que um tipo particularmente letal de bombas usadas em ataques a tropas americanas no Iraque ‘era supostamente fornecido pelo Irã’. A fonte para tal citação era ninguém menos que o segundo homem no comando do Exército dos EUA no Iraque, general Raymond Odierno.

Muitos leitores lembraram a questionável cobertura do NYTimes pré-guerra do Iraque, sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein, e afirmaram que o artigo seguia a mesma linha. ‘Já vi este filme antes e não gostei’, desabafou o leitor Frank J. Schmitz. O tema já havia sido debatido pelo ombudsman anterior, Byron Calame, em fevereiro deste ano.

Para o ombudsman atual, o diário não está seguindo o mesmo caminho. Hoyt revisou tudo o que o jornal publicou sobre o Irã em 2007 e notou que o NYTimes apresentou uma cobertura eficiente em assuntos importantes, como o polêmico programa nuclear do presidente Mahmoud Ahmadinejad. No entanto, há assuntos delicados e políticos que não só o NYTimes, mas qualquer outra organização de mídia, deve ter cuidado ao tratar. É necessário manter a credibilidade das fontes e avaliar o contexto de cada assunto.

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Segundo os leitores, em um período de crescente tensão entre o Irã e o Ocidente, o artigo falhou ao sugerir que o Irã era a fonte das bombas. Na verdade, as provas desta afirmação foram expostas em um artigo publicado em março, assinado por Gordon e Scott Shane. ‘Eu parto do princípio que os leitores têm acompanhado nossa cobertura nos últimos meses’, diz Gordon. Para Hoyt, supor que os leitores têm conhecimento de informações passadas não é razoável. ‘O quanto repórteres e editores devem presumir que os leitores sabem?’, questiona. A melhor solução, diz o ombudsman, é que o diário encontre maneiras de recapitular fatos importantes sem ter que, necessariamente, reproduzir artigos anteriores.

Gordon foi um dos responsáveis pela cobertura pré-guerra do Iraque, classificada pelo próprio NYTimes como de ‘credibilidade insuficiente’. Hoyt diz que é importante levar em conta, no entanto, que ele fazia parte de uma equipe, tem muito tempo de experiência como correspondente militar e já escreveu dois livros sobre o assunto, um sobre a Guerra do Golfo e outro sobre a guerra do Iraque.