Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 18 de junho de 2009
DIPLOMA DESNECESSÁRIO
Felipe Seligman
STF revoga a exigência de diploma para jornalismo
‘O Supremo Tribunal Federal derrubou ontem por 8 votos a 1 a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. O STF julgou que o decreto-lei 972 de 1969, que exige o documento, é incompatível com a Constituição de 1988, que garante a liberdade de expressão e de comunicação.
É a segunda decisão importante na área da comunicação tomada pelo STF neste ano. Em 30 de abril, o tribunal também revogou a Lei de Imprensa, editada em 1967, durante a ditadura, pelas mesmas razões.
O Ministério Público Federal e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo entraram com uma ação contra a obrigatoriedade do diploma e, em 2001, a 16ª Vara de São Paulo anulou a exigência, restabelecida em 2003 pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Em 2006, o processo chegou ao STF e o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar suspendendo a exigência.
Ontem, Mendes, relator da ação, sustentou que ‘um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área’.
O presidente do Supremo disse que o Estado não pode regulamentar a profissão de jornalista, mas que isso não inviabiliza os cursos de jornalismo, já que órgãos de imprensa podem cobrar o diploma, se entenderem que ele é necessário.
O ministro foi acompanhado por Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello.
Lewandowski disse que ‘o jornalismo prescinde de diploma’, pois requer ‘uma sólida cultura, domínio do idioma, formação ética e fidelidade aos fatos’. Já Peluso alegou que o diploma só é necessário em profissões que exigem o domínio de ‘verdades científicas’.
O único que votou a favor do diploma foi Marco Aurélio Mello, que alegou que ‘o jornalista deve ter uma formação básica’.
O tema dividiu as entidades dos jornalistas e dos meios de comunicação: a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) defenderam o diploma; já a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) eram contra.
A Folha sempre criticou a exigência do diploma. No editorial ‘Imprensa no STF’, de abril deste ano, o jornal sustentou a posição de que ‘a obrigatoriedade do diploma afronta a liberdade de expressão, diminui a oferta de informação de qualidade e se reveste de anacronismo na era da internet’.
A advogada Taís Gasparian, que representou a ANJ e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão de São Paulo no caso -e que também advoga para a Folha- disse que ‘os ministros entenderam que a norma não foi recepcionada pela Constituição por conta do livre exercício profissional, mas também porque não foi recepcionada pelas normas que consagram a liberdade de expressão e de livre pensamento’.
Já o advogado da Fenaj, João Roberto Piza Fontes, disse que ‘o diploma não impede ninguém de escrever em jornal’.’
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Entidades celebram fim da ‘camisa-de-força’
‘A decisão do Supremo Tribunal Federal que revogou a obrigatoriedade do diploma de jornalista foi criticada pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa), mas elogiada pela ANJ (Associação Nacional de Jornais) e pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV).
Segundo o diretor do comitê de relações governamentais da ANJ, Paulo Tonet Camargo, não se trata de discutir a importância dos cursos de jornalismo na formação dos profissionais. ‘A ANJ vê a decisão do Supremo como entendimento de que os cursos não são pressupostos para o exercício do jornalismo’, completou. Para Tonet, ‘a decisão consagra no direito o que já acontecia na prática, ou seja, não modifica a situação atual. A ANJ continua prestigiando os cursos de jornalismo e reconhecendo a validade do diploma de jornalismo. Mas o que estava em jogo no Supremo era o diploma como pré-requisito para o exercício da profissão’.
Daniel Pimentel Slaviero, da Abert, disse que a decisão é uma demonstração da liberdade de expressão: ‘Continuamos a entender que o diploma e o desenvolvimento dos cursos de jornalismo continuam sendo importantes, mas a Abert via [a obrigatoriedade do diploma] como uma camisa-de-força’.
Durante a sessão, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, argumentou que ‘essa exigência do diploma na verdade afastava da imprensa políticos e intelectuais que se colocavam contrariamente ao regime vigente [ditadura]… Não fazemos apologia contra a atividade educacional regular, mas não podemos fechar os olhos à capacidade das pessoas de se qualificarem para essa atividade que exige conhecimento multidisciplinar’.
Críticas
O presidente da ABI, Maurício Azêdo, disse que a entidade ‘lamenta [o resultado] e considera que esta decisão expõe os jornalistas a riscos e fragilidades e entra em choque com o texto constitucional’.
Azêdo disse que ‘a ABI espera que as entidades de jornalistas, à frente a Federação Nacional dos Jornalistas, promovam gestões junto às lideranças do Congresso Nacional para restabelecer aquilo que o Supremo está sonegando à sociedade, que é um jornalismo feito com competência técnica e alto sentido cultural e ético’.
‘Foi um desastre [a decisão]. Mas a categoria vai continuar lutando por algum tipo de regulamentação que nos dê dignidade, que hoje [ontem] nos foi furtada’, afirmou Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Fenaj, após o julgamento.
‘Este é um duro golpe na qualidade da informação jornalística e na organização de nossa categoria, mas nem o jornalismo nem o nosso movimento sindical vão acabar, pois temos muito a fazer em defesa do direito da sociedade à informação’, acrescentou Murillo.
Segundo nota da Fenaj em seu site, a decisão ‘pôs fim a uma conquista de 40 anos dos jornalistas e da sociedade brasileira’. A executiva da instituição se reúne hoje para discutir a alteração e traçar estratégias.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
Culpa do mensageiro
‘Na manchete on-line do ‘New York Times’, início da noite, novos protestos ‘enquanto Irã tenta bloquear qualquer cobertura’. Num post do blog Media Decoder, do mesmo ‘NYT’, ‘Amadores tomam a liderança na cobertura’.
Christiane Amanpour, estrela da CNN nascida no próprio Irã, foi embora e, chegando a Londres, saudou a ‘democratização’ da informação via internet. A BBC Persian, canal que acaba de estrear, em persa, diz ter recebido, a certa altura, cinco vídeos por minuto transmitidos de celulares nas ruas. Os enviados, sem visto, deixam o país em revoada.
Do ‘NYT’, o próprio editor-chefe, Bill Keller, que havia se transferido a Teerã sem alarde, partiria ontem de volta a Nova York, depois de publicar um longo relato sobre a censura que tomou o país e avançou até sobre o Google. Em suma, no dizer de Keller, o Irã ‘culpou o mensageiro’.
VALE-TUDO
Jon Stewart, do ‘Daily Show’, faz piada da cobertura baseada em Twitter, por CNN e outras, com seus alertas de ‘material sem confirmação’ ou ‘estamos relaxando nosso processo usual’. Diz Stewart que já era assim, antes
‘TWITTER REVOLUTION’, NÃO
Gideon Rachman, colunista de política externa do ‘Financial Times’, não compra a história de que se trata de uma ‘Revolução Twitter’. Diz que, depois de ler diversos ‘tweets’ do Irã, achou excitante, mas ‘o problema é que eu não sei quem são essas pessoas, então é muito difícil julgar a precisão do que é reportado’.
O correspondente do ‘FT’ no Irã foi além e relatou as dificuldades de acesso não só ao Twitter, mas Facebook e YouTube. E afirmou que o ‘papel de liderança na cobertura’ das manifestações, no próprio Irã, é de canais estrangeiros como BBC Persian.
TANTO FAZ
Pelo mundo e por aqui, do UOL ao ‘Jornal Nacional’, o que se destacou da entrevista de Barack Obama à CNBC foi a mosca. Mas ele não apenas falou do pacote financeiro, mas também do Irã, com destaque na BBC, ao menos. Disse ele, ‘É importante entender que as diferenças entre Ahmadinejad e Mousavi podem não ser tão grandes como tem sido divulgado’.
Também sobre cobertura, Obama respondeu que não vem sendo protegido na mídia americana e deu, como argumento, a Fox News, em que não é possível encontrar um só elogio ao seu governo.
PROTECIONISMO JÁ
Foi primeira página no ‘FT’ de papel, ontem, e notícia por toda parte, ‘Decreto ‘Buy Chinese’ levanta tensão no comércio’. A China, a exemplo dos EUA, determinou proteção aos produtos do país que receberam incentivo em seu pacote de estímulo.
Ato contínuo, no blog de José Dirceu e depois outros, ‘é hora de defendermos nossa indústria e, a exemplo dos chineses, tomarmos todas as medidas. Vamos adotar já, e de uma vez, todas as medidas mesmo! Sem medo de patrulhamentos e de restrições ideológicas, como bem fizeram os chineses’.
DIVERSIDADE
Na manchete on-line do estatal ‘China Daily’, ontem, o apoio da cúpula Bric à ‘diversidade monetária’, mais a reportagem expressa ‘China é a favor de um sistema monetário diversificado’.
No editorial ‘O peso do Bric’, por outro lado, o jornal diz que o grupo precisa se desenvolver ‘rapidamente em potência de gasto’, para escapar da desaceleração.
DO LADO ERRADO
‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’, ontem novamente, voltaram a concentrar sua cobertura do final da cúpula Bric nos efeitos sobre o dólar. Diz o primeiro que a moeda ‘resistiu’. Para o segundo, ‘recuou’.
Em editorial, o ‘FT’ voltou a sublinhar as diferenças de Rússia, Índia e China. Sobre o Brasil, ‘está do lado errado do mundo’, não na Ásia.
POR QUÊ?
A nova edição da revista bimestral ‘Atlantic’ destaca ‘Por que a ‘Economist’ tem sucesso enquanto ‘Time’ e ‘Newsweek’ se esvaem’. Em suma, avalia que as duas não se diferenciaram diante da internet’
MÍDIA & POLÍTICA
Clóvis Rossi
Lula culpa o espelho
‘SÃO PAULO – Alguma surpresa com a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez do senador José Sarney? Quem pediu desculpas pelos ‘erros’ cometidos pelo seu partido (na verdade, crimes), mas depois passou a mão na cabeça dos ‘errados’, quem se aliou a Fernando Collor de Mello, único presidente punido por falta de decoro, não poderia deixar de solidarizar-se com Sarney.
O que surpreende é a escandalosa indigência dos argumentos usados por Lula. Primeiro argumento: ‘Ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum’. Que besteira é essa, Deus do céu?
É a versão Lula do ‘sabe com quem está falando?’. Com história ou sem história, todo cidadão tem de ser tratado da mesma maneira. E os que têm história devem comportar-se ainda melhor do que os que não têm. Afinal, para usar um lugar-comum tão ao gosto de Lula, ‘o exemplo vem de cima’.
Segundo argumento: um suposto interesse em ‘enfraquecer o Poder Legislativo’. Outra bobagem sem tamanho. O que enfraquece o Poder Legislativo não são as denúncias, mas os fatos que dão origem às denúncias. Sem eles não haveria denúncias.
O Poder Legislativo, como os demais, só se fortalece se corrige os desmandos e abusos denunciados.
Omissão é que o enfraquece.
Lula, no fundo, revisita a teoria debiloide e safada da conspiração que não houve contra ele.
Houve apenas uma conspiração dos fatos. Tanto que ele foi obrigado a pedir desculpas. Tanto que o procurador-geral da República denunciou toda a cúpula do PT como ‘quadrilha’.
É, enfim, a velha tentação de toda pessoa investida de poder de culpar o espelho pela imagem que ele mostra. A favor de Lula diga-se que ele ao menos pediu desculpas, coisa que Sarney nem remotamente passou perto de fazer.’
Marcelo Ninio
Lula defende Sarney e critica o ‘denuncismo’ da imprensa
‘ENVIADO ESPECIAL A ASTANA (CAZAQUISTÃO) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou o que chamou de ‘denuncismo’ em torno dos escândalos no Senado e saiu em defesa do presidente da Casa, José Sarney, que na véspera havia afirmado que não era responsável pela crise.
Lula questionou a veracidade das revelações de irregularidades no Senado, mas pediu uma ‘investigação séria’. O presidente também fez um alerta à imprensa, afirmando que, ao questionar as práticas do Congresso, sua própria credibilidade poderá ser abalada.
As declarações foram feitas pouco antes de Lula embarcar de volta ao Brasil de Astana, capital do Cazaquistão, onde encerrou uma viagem que incluiu passagens por Suíça e Rússia.
‘Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim, e depois não acontece nada’, disse Lula.
Em seguida, defendeu um tratamento diferenciado para o presidente do Senado: ‘Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum’, argumentou, sem explicar o tipo de tratamento diferenciado a que se referia. Na terça, Sarney usou a tribuna para se defender das acusações de conivência com atos secretos e de empregar parentes na Casa.
Lula pôs em dúvida a série de irregularidades: ‘É importante investigar para ver o que houve. Mas o que ganharia o Senado em ter uma contratação secreta se tem mais de 5.000 funcionários transitando por aqueles corredores? Por que haveria de ter alguém secreto?’, indagou, indicando que há interesses por trás das denúncias’.
‘Eu acho que essa história precisa ser melhor explicada. Eu não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil, mas eu penso o seguinte: a democracia, quando teve o Congresso Nacional desmoralizado e fechado, foi muito pior para o Brasil’, disse.
Lula já havia saído em defesa do Congresso no início de maio, após a revelação da farra das passagens aéreas. Na época, ele classificou as críticas de hipócritas (‘Faça um levantamento da história da Câmara e veja se algum dia foi diferente? Sempre foi assim’) e revelou que ele mesmo usou a cota de seu gabinete para levar sindicalistas para Brasília, quando era deputado: ‘Não acho correto, mas não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília’.
Ontem, Lula disse que as denúncias trazem riscos para as instituições. ‘É importante que a gente comece a fazer a preservação das instituições, separar o joio do trigo e, se tiver alguma coisa errada, que haja uma investigação correta’, disse.
A esta altura da entrevista a jornalistas brasileiros num hotel de Astana, ele voltou seus ataques contra a imprensa: ‘O que não pode é todo dia arrumar uma vírgula a mais ou repetir a mesma matéria. Vai desmoralizando todo mundo, e inclusive a imprensa corre risco de ser desacreditada’.
Lula não quis citar que medidas devem ser tomadas para moralizar o Senado, mas disse que apoia uma investigação para colocar o assunto em pratos limpos: ‘É importante a gente não ficar na política do denuncismo, porque o resultado final não é bom. Se tem uma coisa equivocada, a melhor coisa é uma investigação séria, pegar o resultado e tomar as decisões que tem que tomar’, afirmou.
Lula disse não temer que os respingos de escândalo em aliados do governo atinjam seu governo, que, segundo a última pesquisa Datafolha, era aprovado por 69% do eleitorado. A mesma pesquisa indicou um recuo na taxa de desaprovação ao Congresso (de 37%, em março, para 34%) e um aumento na aprovação (de 16% para 19%).
Também afirmou esperar que o episódio tenha um desfecho em breve: ‘Todos os senadores, a começar por Sarney, tem responsabilidade de dirigir bem os destinos do país, do Congresso. Vamos esperar que as coisas se resolvam rápido’.’
Folha de S. Paulo
Sarney compara Congresso à imprensa
‘Um dia depois de ir a plenário tratar das denúncias de ter parentes nomeados para cargos públicos por meio de ato secretos, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu o Congresso e fez referências a benefícios que também foram dados à imprensa.
‘Muitas vezes só se fala nos defeitos do Poder Legislativo. Agora, por que se fala muito mais dos defeitos do Poder Legislativo? Porque, dos três Poderes, é o único que decide com o povo influindo’, disse Sarney, no lançamento de uma campanha de aproximação do Legislativo com o povo -’O Congresso faz parte da sua história’.
Estavam presentes o atual diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo e o ex-presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), além de integrantes das mesas diretoras.
O peemedebista partiu da instituição do Congresso americano, ainda no século 18, para dizer que foram dadas vantagens aos parlamentares para que eles tivessem liberdade frente ao governo. O exemplo citado foi o auxílio-moradia.
Em seguida, Sarney afirmou que a imprensa também recebeu atenção semelhante. ‘Da mesma maneira, foi dada à imprensa algumas vantagens, também, para que o governo não pudesse fazer [pressão]. Não pagar impostos, ter isenção de direitos para importação de papéis’, afirmou ele.
Sarney disse também que a crise não é do Parlamento brasileiro, mas ‘dos Parlamentos do mundo inteiro’. Abusos ‘intoleráveis’ foram cometidos, diz ele, a partir das vantagens dadas a deputados e senadores. ‘Temos que responder a isso e procurar, de toda maneira, que nós, nestes novos tempos, tenhamos condições de corrigir todos esses erros e fazer com que o povo não olhe o parlamento pelos seus defeitos.’
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), também saiu em defesa do Congresso. ‘O Poder Legislativo, não falo de seus membros, falo da instituição, é fundamental para a democracia.’
Mais tarde, em plenário, Temer ouviu a leitura de um texto crítico a Sarney do deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE). Temer afirmou que é uma posição pessoal, e não da Casa.
A campanha lançada pelo Congresso é composta por inserções na TV e em rádios públicas que tratam de projetos de relevo aprovados pelo Congresso nos últimos anos, como a Lei Maria da Penha e o Código de Defesa do Consumidor.
Nas peças, há pessoas que relatam experiências vividas a partir das leis. Segundo a secretaria de comunicação do Senado, a campanha foi planejada em março e toda feita pela estrutura da Casa.’
INTERNET
Virgilio Fernandes Almeida
A segurança do ciberespaço brasileiro
‘UMA DAS principais medidas de impacto dos primeiros cem dias do governo Obama nos Estados Unidos foi anunciar oficialmente um plano para a segurança do ciberespaço americano.
Em seu discurso na Casa Branca, o presidente incluiu a segurança do ciberespaço no rol das grandes ameaças globais e enumerou algumas razões que justificam a prioridade dada pelo seu governo a esse tema. As razões são múltiplas. Cobrem desde a segurança do Estado e da sociedade até a privacidade do cidadão, passando por questões militares e econômicas.
O ciberespaço refere-se ao conjunto de redes interdependentes que formam a infraestrutura de tecnologia da informação, incluindo a internet, as redes de telecomunicações, as redes do sistema financeiro e os sistemas de computação e redes que operam os serviços críticos de um país, como distribuição de energia, água e petróleo, transporte público e outros.
Ao contrário da natureza virtual do ciberespaço, as consequências de ciberataques são reais e representam riscos ainda desconhecidos para os países. Milhões de americanos têm sido vítimas de golpes na internet, onde informações sobre indivíduos, contas bancárias e investimentos têm sido capturadas por organizações criminosas que atuam no ciberespaço e que, nos últimos dois anos, causaram prejuízos superiores a US$ 8 bilhões.
As entidades criminosas no ciberespaço são várias. Englobam desde jovens hackers até organizações criminosas e terroristas.
Segundo o FBI, no ano passado, ladrões invadiram uma rede do sistema financeiro para obter ilegalmente informações de cartões de crédito e pagamentos. Com essas informações eletrônicas, roubaram mais de US$ 9 milhões em 130 caixas eletrônicos, espalhados por 49 cidades em diversos países, numa operação orquestrada que durou apenas 30 minutos.
Ao reconhecer que os EUA não estão devidamente preparados para proteger o ciberespaço, Obama propôs a criação de um gabinete na Casa Branca, ligado ao próprio presidente, para coordenar políticas e estratégias de segurança, integrando vários órgãos e agências do governo americano envolvidas com o ciberespaço.
O objetivo é claro: tornar o ciberespaço americano seguro e confiável, com recursos para se prevenir e se defender contra ataques, além de criar capacidade rápida para recuperação da infraestrutura, em caso de ataques.
Dadas a complexidade, a abrangência e a criticalidade do ciberespaço, a elaboração do plano envolveu consultas a diversos segmentos da sociedade americana, incluindo empresas de tecnologia, universidades, laboratórios de pesquisa, entidades de defesa das liberdades civis, sociedades científicas, como a Academia Nacional de Ciências, e amplos setores civis e militares do governo.
Além dos EUA, outros países se movimentam para desenvolver estratégias e políticas de proteção de suas infraestruturas de tecnologia da informação. Nas recentes eleições gerais na Índia, as duas principais coalizões políticas colocaram entre as propostas prioritárias de campanha a proteção do ciberespaço, com a criação de uma agência governamental de alto nível para a segurança digital.
No Brasil, não há uma valorização sistemática da cultura de prevenção de riscos. A percepção de risco pela sociedade e pelo governo só toma lugar após a ocorrência de incidentes e acidentes que chocam e atemorizam a opinião pública.
A segurança do ciberespaço brasileiro demanda um plano de ação. Os números já apontam para uma preocupante direção. Segundo estatísticas públicas divulgadas pelo Centro de Atendimento a Incidentes de Segurança da Rede Nacional de Pesquisa, o número de incidentes reportados a esse centro no mês de abril último foi de 36 mil, um número quase quatro vezes maior do que os verificados nos meses anteriores, desde o início das estatísticas, no ano 2000.
O Brasil não tem políticas claras a respeito de potenciais ataques ao seu ciberespaço, que engloba suas redes de comunicação, seu sistema financeiro, suas redes elétricas e outros recursos informacionais.
A questão da segurança do ciberespaço deve ser debatida ampla e abertamente, pois envolve interesses de diferentes grupos da sociedade e do governo e, eventualmente, interesses governamentais e corporativos podem entrar em choque com as garantias individuais e as liberdades civis dos cidadãos.
São questões complexas e novas, e a análise e o encaminhamento dessas questões podem se beneficiar de um ‘approach’ multidisciplinar, envolvendo várias áreas da ciência e da tecnologia, em conjunto com esferas culturais e sociais do país.
VIRGILIO AUGUSTO FERNANDES ALMEIDA , 59, é professor titular do Departamento de Ciência da Computação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e membro da Academia Brasileira de Ciências.’
TRANSPARÊNCIA & JUDICIÁRIO
Folha de S. Paulo
Juiz proíbe Kassab de divulgar lista de salários
‘O juiz da 8ª Vara da Fazenda Pública de SP, Luiz Sergio Fernandes de Souza, ordenou que a gestão Gilberto Kassab (DEM) suspenda imediatamente a divulgação dos salários dos 162 mil servidores no portal da prefeitura paulistana na internet, iniciada anteontem.
A decisão, liminar (provisória), não afeta a divulgação dos gastos com fornecedores.
Até a conclusão desta edição, a ordem não havia sido cumprida -apenas alguns nomes tinham sido excluídos, como o do servidor que teria recebido R$ 142 mil em maio, segundo o site. A prefeitura disse que não havia sido notificada e, quando isso ocorrer, buscará recurso.
Kassab colocou na internet a relação dos funcionários e quanto cada um deles ganhou em maio (valores brutos), causando descontentamento entre as entidades sindicais.
Há na relação centenas de valores que superam R$ 50 mil -o maior chega a R$ 142 mil-, mas os montantes são, a princípio, referentes à soma dos salários com, por exemplo, pagamento de diferenças salariais ordenadas pela Justiça e que não se repetem todos os meses.
Para o magistrado, ‘ao que tudo indica’, Kassab foi além do que prevê a lei municipal 14.720, de abril de 2008, porque disponibilizou não só os dados funcionais, como também a ‘tabela de vencimentos’.
Pela lei, a prefeitura deve divulgar na internet: 1) nome; 2) cargo; e 3) unidade de trabalho. Não trata de pagamentos.
Ainda de acordo com Souza, sua decisão não entra no mérito da constitucionalidade da lei, o ‘que será analisado no momento processual oportuno’.
A liminar atendeu pedido do Fasp-PMSP (federação de servidores). Para sua presidente, Berenice Gazoni, a divulgação coloca o servidor em risco. ‘Quanto mais com erros.’
Antes de saber da liminar, Kassab defendeu a divulgação. ‘A folha [de pagamentos] é pública e os cargos e salários são de conhecimento público.’
Sobre eventuais erros nos valores, disse que tudo será investigado. ‘Se existem grandes salários que são corretos, as pessoas merecem. Se existem grandes salários que não são corretos, agora será mais fácil identificá-los e corrigi-los.’
Márcia Viegas, coordenadora pedagógica em escola na zona sul, diz que os R$ 87.249,24 que constaram como seu ganho mensal representam um valor que os servidores ‘gostariam de ganhar, mas que está muito longe da realidade’. ‘Não chega nem perto disso’, diz ela, que está há 25 anos na rede e não quis revelar quanto ganha.
A reação foi semelhante à da diretora de escola na zona leste Maria Alves de Lima. ‘Quero esse dinheiro’, disse, em tom de brincadeira. Ela afirma ganhar na casa dos R$ 4.000 (o divulgado foi R$ 50.740,48).
Teto salarial
Kassab, ao ser questionado se há supersalários, afirmou que vai criar um teto salarial para os funcionários.
‘Pedi ao secretário de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo, que estude a implantação’, afirmou o prefeito.
A Constituição prevê um teto salarial no país equivalente aos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal e, nos municípios, ao do prefeito.
Há centenas de casos de funcionários que receberam mais que os R$ 24,5 mil dos ministros. Kassab recebeu, segundo a listagem, R$ 12.384.
Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, da OAB-SP, considera constitucional a divulgação. Para ele, o princípio da publicidade deve prevalecer em relação ao da intimidade.
Já para a doutoranda em ciências políticas da PUC-SP Paula Papis, ‘mais útil seria dizer quantos agentes de limpeza existem em uma região e quanto a prefeitura gasta com eles’.’
TELEVISÃO
Daniel Castro
Multishow muda e estreia 17 novos programas em 2009
‘A programação do canal pago Multishow passará até o final do ano por uma ‘mudança radical’, na definição de seu diretor-geral, Guilherme Zattar, no cargo há três meses. O canal reforçará o conteúdo voltado ao público de 18 a 34 anos.
Três programas (‘Básico’, com Letícia Birkheuer, ‘Por Trás da Fama’, com Alex Lerner, e ‘Tribos’, com Daniele Suzuki) serão extintos. E 17 novos estrearão até dezembro.
Segundo Zattar, a nova programação será fundamentada em quatro pilares: música, viagem e aventura, reality shows e humor. Esses pilares ocuparão faixas no horário nobre.
Haverá grande convergência com a internet. Dois reality shows já em produção terão o pé na rede. ‘Nós Três’ mostrará o cotidiano de cinco garotas que fazem sucesso na web. ‘Geleia do Rock’ já começou no Myspace. Irá selecionar 12 estudantes de música. Oito deles formarão duas bandas. A vencedora ganhará um show transmitido pelo Multishow. ‘A gente quer reconquistar esses caras que estão na internet’, afirma Zattar, que se inspirou nos próprios filhos para criar o ‘Geleia’, a ser apresentado por Beto Lee, filho de Rita Lee.
Segundo Zattar, os realities irão ‘mostrar a vida como ela é, com emoção’, conforme indicaram pesquisas com jovens.
Dani Monteiro irá protagonizar um programa de aventuras, o ‘Extremos’. De humor, além do ‘Cilada’, haverá o ‘Quase Anônimos’, sobre as agruras de dois pretendentes a ator.
EFEITO DOMINÓ
As mudanças no jornalismo da Globo também atingirão a cúpula da Central Globo de Jornalismo. Carlos Henrique Schroder será promovido a diretor-geral da área.
REALINHAMENTO
A promoção de Schroder faz parte de um processo de ‘realinhamento do organograma’ da TV Globo, que dá novo status aos principais executivos. Ex-diretores de centrais, Willy Haas (comercialização) e Manoel Martins (entretenimento) já foram alçados a diretores-gerais. Érico Magalhães (recursos humanos e pesquisas) também deve virar diretor-geral.
BRASÍLIA, 50
A Globo está desenvolvendo um projeto para comemorar os 50 anos de Brasília com shows e séries jornalísticas.
INCÊNDIO
Por exigência de Roberto Carlos, foi Roberto Talma (e não Maurício Farias) quem dirigiu o minishow do cantor para o elenco de ‘A Grande Família’, anteontem.
TRASH 1
O SBT não exibiu o nome Thaís Pacholek, protagonista da primeira fase de ‘Vende-se um Véu de Noiva’, na abertura da novela em seu capítulo de estreia, anteontem.
TRASH 2
De ‘Véu de Noiva’, salvam-se apenas as imagens. A audiência foi à altura: cinco pontos.
AMOR DE FILHA
Filha de Silvio Santos, Patricia Abravanel, que mora nos EUA, escreveu no Twitter que ‘Véu de Noiva’ tem ‘qualidade hollywoodiana’. Ela não viu.’
Lúcia Valentim Rodrigues
Série traz detector humano de mentiras
‘A mentira tem perna curta. Principalmente se no caminho dela estiver Cal Lightman (Tim Roth, em fantástica atuação). Em ‘Lie to Me’, ele é um estudioso de expressões corporais, contratado pelo FBI, por milionários e até por políticos para denunciar mentiras.
Segundo ele, cada pessoa mente três vezes durante uma conversa de dez minutos. Ele é o ‘polígrafo humano’, que vai estudar suas emoções e detectar quando a mentira aparece ou alguma coisa está sendo escondida. ‘A verdade está escrita em nossos rostos’, diz ele, que não presta a menor atenção no que seus investigados dizem, mas sim em seus gestos enquanto dão os depoimentos.
Os 53 músculos da face em movimento resultam em 10 mil expressões, que são destrinchadas e comparadas com situações reais vividas por famosos como Bill Clinton, no caso Monica Lewinsky, ou O.J. Simpson, durante seu julgamento pelo assassinato da ex-mulher.
O dr. Lightman é um radical. Não suporta a mentira. Dos outros, obviamente, por ele é um mentiroso contumaz. Imagine a situação dele como um divorciado pai de uma adolescente de 15 anos. Nada fácil.
Mais complicado ainda é saber que a mulher de quem ele gosta está sendo enganada pelo marido. Se a verdade machuca mais, ele deve fazê-la vir à tona? Pelo menos quando essa questão surge no campo profissional, ele tem uma resposta: ‘Nunca deixe os fatos escaparem junto com a verdade’. Se a verdade não aparece, ele não vê problemas em inventar uma realidade melhor.
Com 13 episódios, ocupou o lugar deixado por ‘24 Horas’, mas foi bem e já tem uma segunda temporada agendada. Nos EUA, ‘Lie to Me’ volta ao ar no dia 28 de setembro, logo após ‘House’ (sexta temporada). Esperamos que as pernas da mentira continuem curtas, mas tenham vida longa. Com os 6,5 bilhões de pessoas no mundo, não vai faltar assunto.’
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FOX PÕE SÉRIES DE GRAÇA NA INTERNET
‘A Fox colocou no ar, anteontem, mais de 800 horas de programação para ser assistida de graça no site www.mundofox.com. br. O portal reúne séries como ‘24 Horas’, ‘9MM: São Paulo’ e ‘Uma Família da Pesada’ e também programas do FX e do Nat Geo. Para alguns seriados (como ‘Mental’), só há clipes. O site não será atualizado com um episódio logo após ele ser exibido na TV. É necessário aguardar a liberação pelo canal, o que em alguns casos, como o de ‘24 Horas’, leva cinco meses.’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 18 de junho de 2009
MÍDIA & POLÍTICA
Andréia Sadi
Campanha na TV tentará reverter imagem da Casa
‘Em meio a uma série de denúncias e escândalos, o Senado Federal lançou ontem a campanha ‘O Congresso faz parte da sua história’, que será veiculada na TV Senado e emissoras públicas e busca valorizar o trabalho do Congresso Nacional junto à população. A secretária de Comunicação Social da Casa, Ana Lúcia Novelli, afirmou que o lançamento da campanha no momento em que o Senado é alvo de investigações é apenas ‘coincidência’. ‘A campanha está sendo preparada há muito tempo. O mais bacana dela é fazer as pessoas olharem para o Congresso Nacional, sem olhar com crise ou sem crise, mas para o papel do Legislativo.’
Desde o começo do ano, o Senado viu sua imagem comprometida com a divulgação do excesso de diretorias, horas extras pagas a servidores durante o recesso parlamentar, a casa de R$ 5 milhões do ex-diretor Agaciel Maia, as cotas de passagens aéreas e a utilização de atos secretos para nomeações de apadrinhados.
Ana Lúcia explica que a campanha foi idealizada desde março e usará recursos do próprio Senado. A campanha não contará com a participação de parlamentares.’
Andrei Netto
Sarney não pode ser ‘tratado como pessoa comum’, diz Lula
‘Do Casaquistão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu ontem em defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que o parlamentar não é ‘uma pessoa comum’ e questionou a veracidade das denúncias sobre a criação de cargos e nomeação de parentes por atos secretos. A fala foi afinada com o discurso feito no dia anterior por Sarney, da tribuna, no qual ele se esquivou do escândalo, alegando que a responsabilidade é coletiva, ou seja, dos senadores e da Casa.
Na entrevista, antes de embarcar em Astana, capital do Casaquistão, última etapa de sua turnê pela Europa e Ásia Central, Lula criticou o ‘processo de denuncismo’ e afirmou que não sabe ‘a quem interessa enfraquecer o Legislativo’.
‘Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim e depois não acontece nada’, criticou Lula, referindo-se às últimas reportagens sobre os escândalos envolvendo o Senado. ‘Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.’ Em seu discurso, o parlamentar também considerou ‘uma injustiça’, ‘um desrespeito’, o modo como vinha sendo tratado.
Lula admitiu que denúncias têm de ser investigadas, mas mostrou desconfiança sobre a veracidade das informações sobre os atos secretos. ‘O que ganharia o Senado em ter uma contratação secreta, se tem mais de 5 mil funcionários transitando por aqueles corredores? Por que haveria de ter alguém secreto?’, questionou. ‘Essa história precisa ser melhor explicada.’
Segundo revelou o Estado, em uma série de reportagens nos últimos dias, Sarney tem pelo menos meia dúzia de parentes e aliados políticos nomeados por atos secretos. As informações, ao contrário das suspeitas do presidente, não são de fora do Legislativo, mas do próprio Senado. Foram apontadas por uma comissão de sindicância criada pela Casa para analisar a existência desses boletins.
‘ORIGEM SUSPEITA’
Para o presidente, as denúncias contra o Senado e o abalo na imagem pessoal de Sarney têm origem suspeita. ‘Não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil, mas eu penso o seguinte: quando o Congresso foi desmoralizado e fechado, foi muito pior para a democracia e para o Brasil.’
Instituições como o Senado, disse Lula, precisam ser preservadas, mesmo que ‘uma investigação correta’ deva acontecer quando houver ‘alguma coisa errada’. ‘O que não pode é todo dia se arrumar uma vírgula a mais ou repetir a mesma matéria’, afirmou o presidente. ‘Vai desmoralizando todo mundo, cansando todo mundo. E inclusive a imprensa corre risco, porque ela também tem de ter a certeza de que não pode ser desacreditada.’ O resultado da ‘política do denuncismo’ não é bom, frisou Lula. Ele não quis indicar o que devem fazer, ante denúncias, Sarney e os presidentes da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.
Por fim, Lula disse que a nova crise não atrapalha sua gestão. ‘O governo tem sua programação determinada, acho que todos os senadores, a começar pelo presidente Sarney, têm responsabilidade de dirigir bem os destinos do País, do Congresso. Vamos esperar que essas coisas se resolvam rápido.’’
DIPLOMA DESNECESSÁRIO
Mariângela Gallucci
STF derruba diploma para jornalista
‘O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou ontem, por 8 votos a 1, a exigência de diploma de jornalista para exercer a profissão. Essa obrigatoriedade tinha sido imposta por um decreto-lei de 1969, época em que o País era governado pela ditadura militar.
Relator do caso no STF, o presidente do tribunal, Gilmar Mendes, disse que o jornalismo é uma profissão diferenciada, que tem vinculação com o exercício amplo das liberdades de expressão e de informação. Segundo ele, exigir o diploma de quem exerce jornalismo é contra a Constituição, que garante essas liberdades. A exigência do diploma já estava suspensa desde 2006, por uma liminar concedida pelo STF.
‘O jornalismo é a própria manifestação e difusão do pensamento e da informação de forma contínua, profissional e remunerada. Os jornalistas são aquelas pessoas que se dedicam profissionalmente ao exercício pleno da liberdade de expressão. O jornalismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada’, afirmou Mendes.
Apesar de ter votado contra a exigência do diploma, o presidente do STF reconheceu que é inegável que frequentar um curso superior com disciplinas técnicas sobre redação e edição, ética e teoria da comunicação pode dar ao profissional uma formação sólida para o exercício cotidiano do jornalismo. ‘E essa é uma razão importante para afastar qualquer suposição no sentido de que os cursos de graduação em jornalismo serão desnecessários’, afirmou.
‘Um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área’, observou Mendes. ‘Certamente o poder público não pode restringir dessa forma a liberdade profissional no âmbito da culinária, e disso ninguém tem dúvida, o que não afasta, porém, a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos à saúde e à vida dos consumidores.’
Único ministro a votar a favor da obrigatoriedade do diploma, Marco Aurélio Mello afirmou que o jornalista tem de ter técnica para entrevistar, reportar e pesquisar.
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ANJ elogia; ABI e Fenaj lamentam decisão da Justiça
‘O diretor da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Paulo Tonet , elogiou a decisão do STF. Ele disse ao Jornal Nacional que não haverá alterações no mercado de trabalho: ‘A grande massa tem formação superior e continuará tendo.’ Já Valci Zuculoto, diretora da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), viu um retrocesso. Por nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também lamentou a decisão.’
IRÃ
O Estado de S. Paulo
Censura de Teerã a jornalistas se intensifica
‘REUTERS E NYT – O governo de Teerã ampliou ontem o cerco a jornalistas, iranianos e estrangeiros, que tentam noticiar a onda de protestos que varre o país persa desde sábado. Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras, pelo menos 11 repórteres locais já foram detidos nos cinco dias de manifestações e repressão.
Ontem, funcionários do governo iraniano ordenaram, por fax e telefone, que os jornalistas estrangeiros mantenham distância de manifestações de rua que não têm autorização oficial. A restrição inclui protestos do candidato derrotado, Mir Hossein Mousavi, coletivas não aprovadas e outros eventos públicos. Jornalistas disseram ter sido alertados de que estariam em risco nas ruas. Na terça-feira, um fotógrafo foi esfaqueado quando cobria uma manifestação em Teerã.
A grande maioria dos jornalistas estrangeiros que viajaram ao Irã para cobrir as eleições de sexta-feira recebeu um visto oficial de apenas uma semana e Teerã rejeitou todos os pedidos de renovação. Com a medida, os repórteres internacionais terão de se retirar do Irã nos próximos dias, em meio à intensificação da repressão à mídia iraniana. Ontem, pelo menos mais um jornal do Irã deixou de ser impresso por ordens do governo.
Bill Keller, editor executivo do ‘New York Times’, afirma que alguns jornalistas estrangeiros tentarão permanecer mesmo sem a documentação necessária. ‘Mas há dois problemas com isso: primeiro, esse é um Estado policial consideravelmente eficiente e as chances de alguém escapar são remotas. Segundo, isso coloca em risco os iranianos que os ajudam.’’
Renata Miranda
Twitter, a estrela dos protestos
‘A revolução não será televisionada, mas com certeza passa pelo Twitter, a principal ferramenta utilizada pelos manifestantes no Irã para trocar informações e enviar notícias para fora do país sem a intervenção do governo. Uma mistura de rede social e blog, a síntese é a única regra que rege o Twitter, que faz apenas uma pergunta ao seu usuário: ‘O que você está fazendo?’ Para responder, o internauta tem um espaço reduzido de 140 caracteres, que pode ser usado tanto para convocar um protesto como para divulgar qual foi seu almoço.
Assim que se escreve, a mensagem aparece no Twitter das outras pessoas que escolheram acompanhar as atualizações – os ‘seguidores’. Celebridades e políticos também adotaram o Twitter – a campanha presidencial de Barack Obama saiu na frente ao apostar no ‘microblog’. O aumento da popularidade do site impressiona: de 1,2 milhão de visitantes em abril de 2008, o Twitter deu um salto para 17,1 milhões de visitantes este ano. Os números representam um crescimento de 1.298% – o Google cresceu apenas 9% no mesmo período. Para se ter uma ideia da concisão do Twitter, esse texto para explicar a ferramenta – de 1.370 caracteres – é quase dez vezes maior do que o tamanho que é possível publicar no blog.’
Thomas Friedman
Internet é a mesquita virtual dos moderados
‘O desenrolar dos acontecimentos em Teerã suscita três indagações inquietantes: O Facebook equivalerá para a revolução moderada do Irã ao que a mesquita era para a Revolução Islâmica? Será que a rede Twitter de mensagens é para os moderados iranianos o que os muezins eram para os mulás? E, finalmente, isso trará algum benefício para os judeus – particularmente o premiê de Israel, Binyamin Bibi Netanyahu?
Essa é a razão dessas indagações: nos últimos oito anos, no Iraque, no Líbano, nos territórios palestinos, e, em menor grau, no Egito, abriram-se espaços para eleições mais democráticas. Ótima notícia. Infelizmente, os grupos que tinham mais poder de mobilização para se beneficiar desse novo espaço foram os islâmicos. Ou seja, o Hezbollah no Líbano, o Hamas em Gaza e na Cisjordânia, os partidos sunitas e xiitas islâmicos no Iraque e a Irmandade Muçulmana no Egito. A corrente política de centro inexistia.
Uma das razões pela qual os islâmicos puderam organizar-se, mobilizar-se e estar preparados quando suas sociedades se tornaram ligeiramente mais abertas, foi o fato de terem a mesquita – um lugar para se reunir, se educar e inspirar seus seguidores fora do controle estatal.
Praticamente em todos esses casos, os islâmicos excederam-se. No Líbano, o Hezbollah levou o país a uma guerra desastrosa. O mesmo ocorreu em Gaza, com o Hamas. Os sunitas e xiitas do Iraque tentaram impor um estilo de vida religioso e os mulás do Irã sufocaram os reformistas. Entretanto, no ano passado, as maiorias de centro infligiram um violento golpe à linha dura desses países.
O Hezbollah foi derrotado nas eleições libanesas. O Hamas defronta-se com um Fatah revitalizado na Cisjordânia e perdeu popularidade em Gaza. E o maior partido favorável ao Irã no Iraque foi esmagado no segundo turno das eleições provinciais.
No Irã, milhões de iranianos sedentos de liberdade apoiaram o candidato Mir Hossein Mousavi, obrigando o presidente Mahmoud Ahmadinejad a fraudar as eleições. O que me fascina é o fato de, hoje, no Irã e no Líbano as forças mais seculares da moderação usarem recursos tecnológicos como Facebook, Flickr, Twitter, blogs e mensagens de texto como sua mesquita virtual, o lugar em que agora podem se reunir, se mobilizar, planejar e informar, longe do punho do Estado.
Pela primeira vez, os moderados, que sempre ficaram imobilizados entre regimes autoritários que detinham todos os poderes do Estado e os islâmicos que detinham todos os poderes da mesquita, agora dispõem de um lugar para se reunir: a rede. O jornal The New York Times noticiou que o grupo de partidários de Mousavi cresceu no Facebook chegando a mais de 50 mil usuários, um número de pessoas bem maior do que qualquer mesquita poderia conter. É por isso que o governo agora tenta bloquear estes sites.
Mas embora isso coloque a corrente política de centro no mesmo plano dos islâmicos em termos de possibilidade de comunicação, não devemos nos iludir. Em primeiro lugar, ‘moderados’ é um termo relativo. O primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, embora mais secular que os radicais islâmicos, quer centralizar o poder.
Em segundo lugar, mesmo derrotados nas urnas, os islâmicos têm um trunfo: as armas. As armas derrotam o celular. O grupo sunita ‘Despertar’ no Iraque venceu porque os moderados estavam armados. Duvido que Ahmadinejad siga seu caminho pacificamente.
E isso me leva a Netanyahu. Israel foi pego de surpresa pelos eventos no Líbano e no Irã. E as autoridades israelenses têm afirmado que preferem que Ahmadinejad ganhe de novo. Elas temem que um moderado no poder não represente nenhuma mudança concreta para o Irã, ou para suas ambições nucleares, mas simplesmente possa disfarçá-la melhor.
Mas há sinais – ainda fracos – de que outra tendência está se formando na região. Tudo indica que o regime iraniano está se rachando no topo. Israel não deve se deixar seduzir por esses sinais nem ser indiferente a eles. Terá de compreender que o modo como trata a questão dos palestinos pode ajudar essa tendência, ao menos nas margens. Mas muitas coisas costumam ocorrer nas margens.
‘A ascensão das forças moderadas, se real e sustentada, contribuirá de modo mais significativo no longo prazo para a segurança nacional israelense’, afirmou Gidi Grinstein, presidente do grupo de pesquisa Reut Institute.
Thomas Friedman é escritor e especialista em Oriente Médio’
INGLATERRA
O Estado de S. Paulo
Brown contrata ‘marqueteiro real’
‘Reuters – Após ter sua imagem debilitada por uma série de derrotas políticas, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, decidiu seguir os mesmos passos da rainha Elizabeth II e contratou como seu novo porta-voz Simon Lewis. O especialista em relações públicas foi o responsável pela reconstrução da imagem da rainha depois que a princesa Diana e seu namorado Dodi al-Fayed morreram num acidente de automóvel em Paris, em 1997.
Lewis recebeu um salário anual de pouco mais de US$ 376 mil para ajudar a monarca a recuperar a simpatia popular após ter reagido com um certo desdém à trágica morte da princesa, ex-mulher do príncipe Charles. O especialista começou seu trabalho com a família real em 1998 e ficou dois anos no quadro de funcionários do Palácio de Buckingham. Depois, foi trabalhar em importantes empresas como a Vodafone, de telefonia, e a Centrica, de energia.
De acordo com Michael Ellam, porta-voz de Brown, Lewis assumirá seu cargo no fim de julho e também ficará no comando do departamento de comunicação do governo.
O futuro porta-voz do premiê tem ligações com o secretário de Comércio, Peter Mandelson, um dos nomes mais fortes do gabinete de Brown após a reformulação anunciada no início do mês.
Coincidentemente, o especialista em relações públicas é irmão de Will Lewis, editor do jornal The Daily Telegraph.
A publicação foi a responsável pelas denúncias contra parlamentares que utilizaram dinheiro público para pagar despesas pessoais. O escândalo foi um duro golpe para todos os partidos britânicos, mas abalou especialmente o Partido Trabalhista, no poder há 12 anos.
Após as revelações do jornal, pelo menos cinco ministros foram forçados a deixar o cargo, juntamente com outros funcionários de alto escalão.’
TELEVISÃO
Keila Jimenez
A Fazenda sem PPV
‘Quem espera ver A Fazenda, da Record, a qualquer hora do dia, sem edição, pode sentar e esperar. A direção do programa insiste que o pay-per-view do programa está prestes a ser lançado, mas, se der certo, o serviço ficará apenas para a segunda edição do reality show, se ela vingar, é claro.
Apesar de a operadora Net e da emissora afirmarem estar em negociação, o acordo ainda parece distante. A Record diz que a Net mostrou resistência ao programa inicialmente por ter entre seus acionistas a Globo. Segundo o canal, foi somente após ver o sucesso da atração que a operadora aceitou conversar sobre PPV.
Na Net o papo é outro: a negociação está atravancada por culpa da própria Record, que ainda não entregou o plano comercial do programa para ser avaliado.
A operadora também afirma que, uma vez fechado o acordo, é necessário um mês para colocar um canal de pay-per-view no ar. O fato de o programa já estar em andamento também é um problema para a comercialização. A Net prefere esperar uma segunda edição, para vender pacotes completos. Procurada, a Record não quis se manifestar sobre o assunto.
Olha eu aqui outra vez
Psicopata que é psicopata não sossega. Pior ainda quando é a vilã da novela. Pois é com esse novo visual que Yvone (Letícia Sabatella) voltará ao Brasil para infernizar suas vítimas em Caminho das Índias. Ah, antes disso ela dará uma passadinha em Dubai para rir mais da cara de Raul (Alexandre Borges).
Entre-linhas
Luciano Huck pretende tomar medidas judiciais contra Sônia Abraão por uso indevido de sua imagem no programa A Casa É Sua de anteontem.
A atração de Sônia na Rede TV! reprisou por 37 minutos uma edição de 11 anos atrás da extinta Escolinha do Barulho, da Record, em que Huck fez uma participação especial com professor.
Huck desabafou em seu Twitter, dizendo que esperava ter sido consultado pela Rede TV!. Ele agora quer, em mãos, o documento de direitos de imagem que assinou na época.
Marido de Aluguel será a próxima novela de Aguinaldo Silva na Globo, em 2011. A sinopse, entregue este mês, foi bem aceita pela direção da emissora.
O novo folhetim de Aguinaldo é fruto de um curso de roteiristas ministrado por ele em Portugal. O autor pretende contar com seus 15 colaboradores – seus alunos neste Master Class – na produção da trama.
Caminho das Índias bateu recorde do ano anteontem: registrou 44 pontos de audiência.
Mylena Ceribelli estreia em julho no comando do Esporte Fantástico, da Record.
Faustão deve renovar seu contrato com a Globo na próxima segunda-feira, no Rio. Cerca de 70% do acordo já está acertado, os outros 30% ficam por conta de detalhes operacionais para o Domingão ser gravado de vez em São Paulo – quase todas as edições – depois de 2011.’
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