Há um ponto comum entre muitos dos novos partidos políticos que estão avançando em diversos países. Além de serem identificados com forças de “renovação da política”, todos usam a internet como elemento central da sua forma de atuação.
Na Espanha, o Podemos vem chamando atenção por seu avanço nas urnas. O símbolo mais recente do partido foi a eleição da ativista Ada Colau como prefeita de Barcelona. O uso da tecnologia por parte do partido está na sua origem: o movimento dos Indignados.
Desde antes da constituição do partido (em janeiro de 2014), os indignados já haviam aprendido boas lições com os eventos da primavera árabe sobre a importância das novas mídias. Entre elas o uso intensivo do YouTube para disseminação de vídeos; a transmissão ao vivo pela internet de protestos e o uso do Facebook para convocar reuniões.
O Podemos, enquanto partido, ampliou o leque. Incorporou ferramentas como o Reddit, um dos fóruns de discussão mais populares na internet. A partir dele, criou a chamada “Plaza Podemos”, sítio na rede que funciona como ágora, promovendo debates sobre o programas e decisões do partido. Mais do que isso, incorporou também o aplicativo para celulares Appgree. Ele permite a tomada de decisões por grupos grandes ou pequenos, valendo-se de um método que controla a validade estatística do resultado.
Na Itália, o Movimento Cinco Estrelas (criado como partido em 2009) tem um uso igualmente intensivo da tecnologia. O Movimento conquistou uma parcela significativa do Parlamento italiano. Isso inclui a vice-presidência do Parlamento, ocupada hoje por Luigi di Maio, um advogado de 29 anos (o Cinco Estrelas gaba-se de atrair “não políticos” para se candidatar).
A internet está na origem de tudo. O partido surgiu a partir do blog do comediante Beppe Grillo. De lá, apropriou-se da ferramenta Meetup.com, que permite organizar encontros de grupos virtuais de pessoas no mundo real, que se espalharam pelo país. Ainda hoje, quem vai à Itália e abre a página do Meetup encontra majoritariamente eventos organizados pelo partido.
O uso da internet e a ideia de “democracia virtual” é uma das cinco estrelas do partido (as outras representam água, transporte, sustentabilidade e emprego).
Na Argentina, uma pequena organização chamada Partido de la Red articula-se tendo como eixo o impacto da tecnologia para a política. Diferentemente das experiências europeias, que com poucas exceções se apropriaram de ferramentas desenvolvidas em outros países (sobretudo nos EUA), o Partido de la Red está desenvolvendo sua própria tecnologia. Batizada de DemocracyOS (Sistema Operacional da Democracia), ela consiste em um conjunto de ferramentas de participação feitas em código aberto (podem ser usadas e reconfiguradas por qualquer pessoa).
Essas experiências indicam que, assim como a tecnologia mudou diversas indústrias, da música ao transporte urbano, deve sacudir também a política.
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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro