O grande terremoto que atingiu a província chinesa de Sichuan no dia 12/5, matando mais de 80 mil pessoas e deixando mais de cinco milhões desabrigadas, pode ser considerado um evento histórico para o jornalismo no país. Nunca antes os líderes comunistas haviam concedido tanta liberdade a correspondentes estrangeiros. Apenas o tempo dirá se a mudança é real ou se trata-se apenas do cumprimento da promessa do governo de ser mais aberto à imprensa antes dos Jogos Olímpicos.
Durante uma visita a uma das regiões mais atingidas pelos tremores, o premiê Wen Jiabao afirmou que a abertura deve-se ao fato de o governo acreditar que se trata de um desastre não apenas para o povo chinês, mas para o mundo. ‘Nosso espírito de colocar as pessoas acima de tudo e nossa política de abertura não vão mudar’, prometeu.
Mudança radical
No passado, regiões afetadas por enchentes, terremotos, furacões e outras catástrofes naturais eram, em sua maioria, completamente protegidas da mídia estrangeira, com informações sendo tratadas como segredos de Estado. Jornalistas que tentavam cobrir desastres sem permissão oficial – quase nunca concedida – eram barrados pela polícia e tinham equipamentos, como computadores portáteis e máquinas fotográficas, apreendidos. O objetivo do governo, com isso, era manter uma falsa noção de estabilidade e harmonia no país.
A agência Associated Press lembra que, em 2003, alguns de seus repórteres seguiam para a região de Xinjiang para cobrir um terremoto, mas encontraram a polícia a sua espera na entrada do hotel, pronta a interrogá-los. Há dois meses, forças de segurança em Sichuan fizeram blitze e mandaram de volta a seus países jornalistas que tentavam cobrir um protesto de tibetanos na região.
Há um ano, as regras do governo exigiam que jornalistas estrangeiros pedissem permissão especial para viajar a trabalho no país. Algumas das restrições foram abrandadas no começo de 2007, como parte da promessa da China de ampliar a liberdade de imprensa – o que ajudou Pequim a ser escolhida para sediar os Jogos Olímpicos, em agosto. Ainda assim, muitos jornalistas ainda reclamavam de episódios de censura.
Desde o terremoto, no entanto, os correspondentes têm encontrado, na maioria das vezes, caminho livre. Na cidade de Beichuan, jornalistas tiveram acesso a um local com 60 corpos alinhados – algo impensável no passado. Os soldados apenas pediram que não fossem tiradas fotos, em respeito aos mortos. Repórteres da AP percorreram hospitais em Chengdu e acompanharam equipes de resgate. A cobertura ajudou a divulgar a situação e a atrair voluntários de todos os lugares da China; bilhões de dólares foram recolhidos em doações. A ajuda internacional também chegou na forma de equipes de resgate, médicos e tendas. Informações de William Foreman [Associated Press, 26/5/08].