Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Toda unanimidade é burra

O aforismo de Nélson Rodrigues tem se revelado verdadeiro nessa questão que a mídia divulga de forma massiva e dogmaticamente, sem nenhum debate, sobre o CO2 ser a principal causa do chamado aquecimento planetário. Às vésperas da conferência de Copenhague, em dezembro próximo, já se cunhou e consagrou a expressão ‘economia de baixo carbono’. Ora, nem a própria ciência tem essa certeza da unanimidade expressa pela mídia, pois vários cientistas registram que teremos resfriamento ao invés de aquecimento.


Não pretendo escrever aqui nenhum tratado científico ou tese de doutoramento, mas um argumento fundamentado em uma série de questões lógicas que tenham premissas científicas inquestionáveis, e esse parece ser o problema, pois são raras essas unanimidades na ciência. A mídia, por simplificar a informação, juntamente com a publicidade comercial das empresas ‘verdes’, banaliza o assunto e confunde quem deseja conhecer a fundo as causas do problema. Pesquisei dados sobre a proporção de CO2 na chamada camada de gases de efeito estufa (GEE) e na atmosfera. A conclusão a que cheguei é de que o que há de informação e desinformação na mídia e na internet é patético. Confunde-se atmosfera com camada de GEE…


Os seis elementos essenciais à vida


São eles, sem os quais a vida não existiria conforme a conhecemos:


1 – carbono


2 – hidrogênio


3 – oxigênio


4 – nitrogênio


5 – enxofre


6 – fósforo


e energia solar (luz e calor, sem o qual não haveria fotossíntese)


(A fórmula é CHONSP)


O carbono é um elemento notável por várias razões. Suas formas alotrópicas incluem, surpreendentemente, uma das substâncias mais frágeis e baratas (o grafite) e uma das mais duras e caras (o diamante). Mais: apresenta uma grande afinidade para combinar-se quimicamente com outros átomos pequenos, incluindo átomos de carbono que podem formar largas cadeias. O seu pequeno raio atômico permite-lhe formar cadeias múltiplas; assim, com o oxigênio forma o dióxido de carbono, vital para o crescimento das plantas (ciclo do carbono, a fotossíntese); com o hidrogênio forma numerosos compostos, denominados, genericamente, hidrocarbonetos, essenciais para a indústria e o transporte na forma de combustível derivados de petróleo e gás natural. Combinado com ambos forma uma grande variedade de compostos como, por exemplo, os ácidos graxos, essenciais para a vida, e os ésteres que dão sabor às frutas. Além disso, fornece, através do ciclo carbono-nitrogênio, parte da energia produzida pelo Sol. O carbono é a plataforma da vida sobre a Terra. Mas a mídia parece não saber – e não dá bola para essas coisas.


A camada de gases de efeito estufa – GEE


Se a camada de gases de efeito estufa não existisse, morreríamos fritos durante o dia (assim como os animais e plantas) pela ação dos raios solares, e à noite congelaríamos pelo frio, pois o calor se dissiparia na estratosfera. A camada de GEE é composta em 99% de nitrogênio e oxigênio, sendo que apenas 1% contém carbono, hidrogênio, metano e outros compostos químicos. Dessa ínfima parcela de 1% o carbono representa 0,035% hoje em dia, mas já foi de 0,029% há uns dois séculos atrás, quando começou a era industrial. Ou seja, do total da camada de GEE o carbono representa somente 0,035%. De outro lado, verifica-se que a proporção de carbono na camada de GEE aumentou cerca de 20% nos últimos duzentos anos e seria responsável pelo futuro cataclisma que se anuncia para dentro em breve no planeta, ou seja, o apocalipse.




































Elementos da camada GEE %
Nitrogênio (N2) 78,09
Oxigênio (O2) 20,95
Dióxido de carbono (CO2) 0,035
Helio (He) 0,00052
Metano (CH4) 0,00015
Monóxido de carbono (CO) 0,00001
Oxido nitroso (N2O) 0,000025
Ozônio (O3) 0,0010, na estratosfera
Amônia (NH3) 6 ppb
Dióxido de nitrogênio (NO2) 1 a 100 ppb




Não citados: Xenônio (0,00001%), Dióxido de enxofre (0,2 ppb), Neônio (0,0018%), Criptônio (0,0001%) e Argônio (0,093%). Hidrogênio (0,00005%), Sulfeto de hidrogênio (0,2 ppb).

‘Verdades’ convenientes


O documentárioUma verdade inconveniente, apresentada pelo político e hoje prêmio Nobel da Paz Al Gore, faz sensacionalismo com a presença do carbono, que teria subido de 278 ppm (partes por milhão) no início do século 20 para 370 ppm no início do século 21, e de que isso iria aquecer o planeta.


Ora, esqueceu de esclarecer, nessa profecia apocalíptica, várias questões sobre o carbono:


1 – cerca de 60% do carbono que está na atmosfera é sequestrado pelas algas marinhas e 40% pelas florestas e árvores urbanas remanescentes, de outras vegetações naturais, e de atividades agrícolas.


2 – se não houvesse esse carbono na atmosfera não haveria fotossíntese, e sem essa não haveria agricultura, florestas, árvores;


3 – mais de 50% do carbono está fixado nas árvores (na madeira e raízes) e na agricultura (nas raízes) em forma de ‘carbono estocado’.


4 – outros 50% do carbono estão no solo (trazidos de volta pelas chuvas) e o sistema de plantio direto e pastagens bem manejadas são uma forma de conservar (sem liberar) este carbono.


5 – o carbono atmosférico (CO2 e CO = monóxido de carbono, tóxico) está concentrado sobre as áreas de queimada e nos grandes conglomerados urbanos participando da ‘aura’ amarronzada sobre todas as grandes cidades quando as sobrevoamos nas aterrissagens e decolagens por avião. Esta concentração de poluentes de origem urbana tem duas formas de ser dissipada: ou pelos ventos ou por chuva, e neste último caso provoca o fenômeno da ‘chuva ácida’, muito comum em metrópoles gigantescas como Pequim, Nova York, São Paulo, Los Angeles etc.





Estimativa dos maiores depósitos de carbono na Terra






























Fontes de carbono Quantidades, em bilhões de t %
Atmosfera 578 (ano 1700) – 766 (ano 1999) <0,00077>
Plantas terrestres 540 a 610 <0,00061>
Matéria orgânica do solo 1.500 a 1.600 <0,00160>
Depósitos de combustíveis fósseis 4.000 <0,00400>
Oceanos 38.000 a 40.000 <0,03998>
Sedimentos marinhos e rochas 60.000.000 a 100.000.000 <99,95305>




Fonte: Pidwirny, M. (2006). ‘The Carbon Cycle’.Fundamentals of Physical Geography, 2nd Edition. Disponível aqui, acesso em: outubro 2009.

O CO2 não esquenta nada, mas alguns cientistas insistem em afirmar a necessidade de reduzir suas emissões, e a mídia repete de forma unânime a papagaiada proselitista. Se há algum fator que provoque o aquecimento planetário eles seriam dois, de evidência elementar, porém cientificamente ainda não provados:


1 – solos degradados, áridos, semi-áridos e desérticos. Estes, além de não conterem água atenuadora, nem água e vegetação vaporizadora para formarem nuvens refletoras e sombreadoras, emitem calor em excesso, que a tal camada de GEE (majoritariamente vapor de água, veja tabela acima) ‘segura’, por ser composta de água na forma gasosa. A idéia é de Odo Primavesi, engenheiro agrônomo, ex-pesquisador da Embrapa Sudeste, São Carlos, SP, e um dos 17 cientistas brasileiros signatários do já famoso relatório do IPCC (International Panel Climatics Changes, na sigla em inglês), e que juntamente com outros 2.500 cientistas do mundo inteiro, representando mais de 120 países, assinaram o documento. Muitos cientistas foram vozes e opiniões vencidas, apesar de contrários à tese do CO2 ser a causa única do aquecimento. É que venceu por votação, mas longe de haver unanimidade entre os participantes. De outro lado, nem todos eram exatamente cientistas, muitos eram apenas especialistas em diversas áreas do conhecimento humano, sendo funcionários de grandes empresas estatais ou privadas, mas com interesses na polêmica questão.


Segundo Odo Primavesi, ‘o foco para esse painel foram os gases e não havia espaço para incluir outros fatores diferentes de gases (como tentou sugerir), que em realidade respondem por somente 30% das mudanças climáticas (correntes marinhas respondem por mais 10%, áreas degradadas geradoras de calor em excesso (acima de 300 W/m2) por mais 40% a 50%, e outros, como a variação na intensidade do sol, por mais 10% a 20%). Somente 1/3 da Terra são ambientes terrestres, e 40% ou mais destes são áreas desérticas, semi-áridas, degradadas, gerando pulsos de calor em excesso. Mesmo áreas não consideradas degradadas, agrícolas, inclusive no Brasil, podem gerar calor em excesso no inverno seco, quando sem cobertura vegetal permanente vaporizando água’.





Porcentagem de efeito estufa em função do gás




















Gás de efeito estufa Efeito, %
Vapor de água 36 a 66
Vapor de água + gotículas em nuvens 66 a 85 (nuvens = 19 a 30%)
Dióxido de carbono 9 a 26
Metano 4 a 9
Ozônio 3 a 7




Fonte: Randy Russell (2007)

Nuvens podem praticamente dobrar o albedo da Terra de 15% (sem nuvens) para 31%, e são responsáveis pela reflexão de 17% da energia solar incidente de volta para o espaço, evitando que gere calor.


Copenhague vem aí. Ou seja, depois desse encontro, se for confirmada a ‘culpabilidade’ do CO2, mesmo que sem provas, apenas considerando os indícios e as suspeitas das provas ditas circunstanciais, já consagradas pela reunião de Kyioto, vamos tentar conquistar a ‘economia de baixo carbono’. A Europa já tem antológicos projetos de lei aprovados em alguns países, para multar pesadamente os emissores exagerados de CO2 e cobrar impostos adicionais dos tradicionais ‘criminosos ecológicos’ que não reduzirem suas emissões. A ideia é acabar com os cassinos das bolsas onde se compra penitência por emissão de CO2.


Entretanto, recentemente, num seminário em Brasília que reuniu empresários agrícolas, ambientalistas e gente do governo, tive notícias de uma das conclusões do seminário, em alto e bom som, e de bom senso: ‘Ambientalistas e agricultores concordam que a ciência deve mediar o debate entre os dois setores.’ Ou seja, os contendores, pelos menos os líderes, não aguentam mais tanto bate-boca inútil e publicitário sobre a sustentabilidade, e pedem socorro aos cientistas. Os cientistas se fingem de mortos, o assunto parece que não é com eles.


Manejo dos solos poderia ajudar


A mídia não deu bola para o pedido de SOS daquelas lideranças. Enquanto isso Copenhague vai se aproximando, sem definições prévias, sem acordos, sem ajustes, sem consenso.


(Nota de Odo Primavesi: ‘Muitos cientistas, por serem especialistas e por terem uma visão mais ampla e de conjunto global, estão desesperados em ver que seus clamores não são ouvidos, pois o que vale é a decisão política norteada por interesses econômicos de curto prazo, e que pouco ligam para o médio e longo prazo. O único segmento da sociedade que pode levar ao rumo certo é a iniciativa privada (empresários e financistas), devendo estar cientes de que mudanças são investimentos, e envolvem sacrifícios, mas que em mutirão, em rede integrada regional e global, levarão aos resultados esperados, com lucros sustentáveis’).


Corre-se o perigo, no pós-Copenhague, da seguinte situação paradigmática: toda atividade humana emissora de CO2 será coibida. É fácil imaginar multas e impostos a quem respirar (pois emite CO2), inclusive na prática da corrida matinal. Por enquanto, apenas os automóveis dos egoístas poderiam ser poupados, enquanto não chegam os combustíveis gasosos, à base de hidrogênio. Problema será quando alguns cientistas e jornalistas descobrirem que as árvores e plantas em geral, no período noturno, emitem parte do CO2, ao invés de resgatarem o mesmo como fazem durante o dia. Quem sabe, alguém da grande mídia põe o problema em debate e acaba com essa unanimidade infantilizada que está se tornando uma verdadeira hipocrisia internacional.


O carbono faz parte, a menor parte, do problema. Boas práticas de manejo dos solos (urbano e rural) poderiam reduzir os maiores problemas. Enquanto isso, cresce de forma acelerada o aumento de áreas degradadas, geradoras de calor.





Extensão de áreas secas por continente


















































































Continente

Extensão Valor relativo
  Total Árido Semi-árido Sub-úmido seco Árido Semi-árido Sub-úmido seco
milhões de ha %

Ásia

1.657,78 704,3 727,97 225,51 25,48 26,34 8,16

África

1.298,11 467,6 611,35 219,16 16,21 21,2 7,60

Europa

218,03 0,3 94,26 123,47 0,01 1,74 2,27

América N-C

517,07 4,27 130,71 382,09 6,09 17,82 4,27

América S

378,61 5,97 122,43 250,21 7,11 14,54 5,97

Oceania

708,95 459,5 211,2 38,24 59,72 27,42 4,97

Global


4.778,55

1.641,94 1.897,92 1.238,68      




Fonte: FAO (2002)






Estimativa de desertificação (excluindo áreas hiper-secas)





































Tipo de paisagem degradada Área (1) Tipo de degradação
de solo
Área (2)
  milhões de ha   milhões de ha
Pastagens naturais 757 Erosão hídrica 478
Lavouras 216 Erosão eólica 513
Áreas irrigadas 43 Química 111
    Física 35
Total 1.016   1.137




Fontes: 1 – UNEP (1991), 2 – Oldeman & van Lynden (1998).

As maiores vilãs são as pastagens mantidas sob superpastoreio. E a erosão hídrica e eólica.

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Jornalista, editor da revistaDBO Agrotecnologia; seu blog. O presente artigo teve a colaboração e participação do engenheiro agrônomo Odo Primavesi, um dos 2.500 cientistas signatários do IPCC, em 2007