Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Três opiniões sobre a cobertura

Em 5 de junho, a sociedade internacional celebra o ‘Dia Mundial do Meio Ambiente’, data instituída pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia. Em 27 de maio de 1981, por meio do Decreto no. 86028, o governo brasileiro estabeleceu a ‘Semana Nacional do Meio Ambiente’, também comemorada no início de junho. Inspirado pela oportunidade, perguntei a três pessoas que lidam diretamente com o tema que opinião elas têm sobre a cobertura dada atualmente pela mídia às questões ambientais. Leia o que elas disseram e veja se alguma das reflexões propostas abaixo é útil para formar o seu próprio juízo.

Ex-secretário municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte e antigo militante da causa ambiental em Minas Gerais, Ronaldo Vasconcellos tem visão otimista sobre o assunto. De acordo com ele, a sociedade brasileira hoje já tem consciência da questão ambiental, faltando apenas uma ação mais efetiva das autoridades em defesa da natureza. Para Vasconcellos, no entanto, embora a cobertura da imprensa sobre o meio ambiente tenha melhorado muito, ainda são poucos os jornalistas que têm conhecimento específico da área. Não há especialistas no tema nem editorias próprias para cobrir o meio ambiente. Segundo ele, ainda que sejam técnicos, os assuntos relacionados ao meio ambiente são de interesse público. A sociedade quer participar desse processo, entendê-lo e discuti-lo, o que deve merecer uma resposta adequada dos meios de comunicação.

Efeitos destruidores continuam a aumentar

Funcionário das Nações Unidas entre 1984 e 2001, Milton Nogueira é o secretário executivo do Fórum Mineiro de Mudanças Climáticas e colunista do site da revista CartaCapital. Com sólida experiência internacional, ele elogia o trabalho feito por muito tempo pela mídia de vários países, sobretudo sobre o assunto do clima. Para Nogueira, em várias ocasiões, os meios de comunicação fizeram um extraordinário trabalho de explicar, divulgar, inquirir e mostrar tudo sobre o clima, tema ainda bastante recente.

Observador agudo da cena midiática global, ele enxerga, porém, um ponto de inflexão significativo no comportamento da mídia com relação ao meio ambiente, sobretudo a partir da 15ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas realizada em Copenhague, na Dinamarca, entre 7 e 18 de dezembro de 2009. Daí em diante, segundo ele, as TVs ampliaram o espaço dado a pseudo-cientistas e lobistas e, algumas vezes, chegaram a apresentá-los até como especialistas bem informados, bem intencionados, isentos e até mesmo como protetores da ciência. ‘O resultado foi que, em 2010, registrou-se um enorme desalento e grande caos na opinião publica. Empresas e governos passaram a duvidar das ações tomadas para minorar os efeitos destruidores do clima, que continuam a aumentar, ao contrário do que pensam alguns céticos’, comenta Nogueira.

O que é bom para o planeta

E ele prossegue em sua crítica: ‘Quando mostram imagens de nevascas, enchentes, ressacas, incêndios florestais e secas que ocorreram no mundo todo, os jornais e TVs passaram a procurar culpados em prefeitos, turistas e na população em geral. Mas raramente dizem que a força dominadora por trás de todos esses fenômenos é a crescente violência que se comete contra o clima. A noticia voltou a ser apenas a enchente e não a sua causa.’

Para o jornalista Hiram Firmino, editor do caderno ‘JB Ecológico’ e da revista Ecológico, a mídia brasileira, com raríssimas exceções, ainda não entendeu o novo paradigma que a questão ambiental propõe. Ele lembra que a humanidade está tão ameaçada quanto todos os seres vivos que habitam o planeta. Hiram alerta que o planeta é que precisa, em primeiro lugar, ser salvo. Salvando o planeta, os seres humanos serão salvos. E não o contrário, diz ele. O jornalista critica a visão ainda completamente antropocêntrica mantida pela comunidade humana e alimentada pelos meios de comunicação. Firmino é incisivo: ‘Esta cegueira dos nossos coleguinhas é tanta que, mesmo após a Conferência de Copenhague, a mídia só abre espaço para o assunto meio ambiente quando ele é tragédia. Dá destaque ao roubo de madeira, à Amazônia pegando fogo, à corrupção no Ibama’… Para Hiram Firmino, ‘a mídia não dá opinião nem se envolve, quando teria, necessariamente, que tomar o partido da natureza. Temos que perguntar o que é bom para o planeta’, arremata.

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Advogado, jornalista, mestre em Direito Internacional pela UFMG e doutorando em Direito Internacional pela Universidade Autônoma de Madri