Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tropa de jornalistas

A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro acaba de anunciar, publicamente, que firmou parceria com os sindicatos patronais das empresas de rádio, televisão, jornais e revistas para realização de um ‘treinamento de segurança’ de profissionais de imprensa que trabalham em áreas de risco. A parceria envolve um convênio com a TOR (sigla em inglês de Treinamento de Recursos em Operações), uma empresa de segurança inglesa especializada em treinar profissionais que trabalham em áreas conflagradas em todo o mundo.


Além disso, como informa o próprio Sindicato dos Jornalistas, ‘as aulas são ministradas por um instrutor militar que veio do Afeganistão’. Segundo O Globo, esse mesmo instrutor atuou também no Iraque. Por questão de segurança, seu nome não foi revelado.


É deveras lamentável, e preocupante, o fato de dirigentes sindicais da nossa categoria encararem como absolutamente natural o fato de jornalistas serem ‘treinados’ por um ‘instrutor militar de uma empresa de segurança especializada em treinar profissionais que trabalham em áreas conflagradas’.


Decisão irrefletida


É estranho que um instrutor militar, com passagem por Iraque e Afeganistão, países ocupados por tropas estrangeiras onde diariamente são desrespeitados direitos humanos, venha ao Brasil dar cursos de segurança para profissionais circularem em áreas de risco. Na prática, as áreas pobres do Rio de Janeiro já são comparadas a países ocupados, como o Afeganistão e o Iraque. Por exemplo: alguns dias após o anúncio da parceria entre o Sindicato dos Jornalistas e os patrões, as agências internacionais informavam que ‘tropas dos EUA apoiadas por helicópteros de ataque mataram 49 pessoas em uma operação na favela xiita de Sadr City, em Bagdá – 15 seriam civis’.


Na prática, as tropas de elite transformam-se em tropas de ocupação de áreas carentes sem assistência do poder público. Nos países onde o ‘instrutor militar’ adquiriu sua experiência, mas também no Rio de Janeiro e em outros pontos do país, realizam-se operações de extermínio e de criminalização da pobreza.


O Sindicato dos Jornalistas, ao embarcar irrefletidamente em tal parceria, perde sua independência frente ao patronato porque deixa de lutar por condições dignas de trabalho que se traduziriam, no caso, pela efetiva segurança dos jornalistas. É ilusão achar que a instrução militar proporcionará maior segurança aos colegas que fazem a cobertura, pois os riscos continuarão altos.


Contra a política de extermínio


Na verdade, o patronato da mídia, conservador por excelência, não está preocupado propriamente com a segurança dos trabalhadores, mas, sim, em possibilitar coberturas jornalísticas que têm como norte o sensacionalismo capaz de gerar maior ‘ibope’ e, conseqüentemente, lucros. Os profissionais de imprensa são utilizados, no mais das vezes, como meros divulgadores de ações policiais em áreas onde vivem cidadãos brasileiros pobres e sem assistência do poder público.


Ao firmar tal parceria, além disso, o Sindicato dos Jornalistas faz o jogo do sistema, que vende a idéia de que o tráfico e a violência devem ser combatidos com total truculência, sem qualquer respeito à população. A entidade deveria, ao contrário, investigar a denúncia de que alguns repórteres estariam cobrindo ações policiais alojados no interior do sinistro caveirão – veículo utilizado para, a pretexto de combater a delinqüência, na prática intimidar milhares de cidadãos brasileiros pobres.


Vale lembrar que se trata de um acordo com o mesmo patronato que a cada ano vem obtendo lucros exorbitantes, à custa do trabalho de jornalistas obrigados a arriscar a vida na corrida desenfreada pelos índices de audiência. O mesmo patronato responsável por manipulações grosseiras no noticiário e que adota o esquema jornalístico do pensamento único.


Exortamos a direção Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro a participar das mobilizações convocadas pelo movimento social contra a política de extermínio adotada pelo governo estadual sob o pretexto de combater a violência. O Sindicato não pode silenciar em relação aos fatos diários que obedecem à lógica da criminalização dos pobres.


Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007


Movimento Luta, Fenaj!