O que me chamou mais a atenção a respeito da visita de Obama ao Brasil foi a pobreza editorial de nossa imprensa. Chega a ser irritante como se confundiu cobertura de evento social com reportagem política. Foi um péssimo exemplo para um jornalista em início de carreira.
Não soubemos o que faz Obama ser tão criticado em seu país por estar aqui; não soubemos claramente sua pauta (aviões?, incorporação efetiva do país ao eixo ocidental liderado pelos EUA? , pré-sal?); análise dos acordos assinados. Sem saber claramente seus objetivos, não conseguimos analisar seu sucesso.
Na minha visão, a viagem foi turística. Não percebo nenhum resultado para além do efêmero. Achei que a melhor expressão da viagem estava estampada nos semblantes de suas filhas: aquele olhar meio que protocolar, sugerido muitas vezes pelos pais, o enfado saindo pelos poros. Criança e adolescente dificilmente conseguem fingir sentimentos. São transparentes, agressivamente transparentes. Pudera: viram por duas vezes rodas de capoeira, umas pinturas amadoras (feitas no dia anterior), um Corcovado encoberto por nuvens. Michelle colocava a mão ao rosto, aparentemente assustada com uma acrobacia de um menino e Obama até sorria. Mas as filhas…
Complexo de vira-lata
Faça um exercício e ache na internet fotos das filhas de Obama. Aparecem quase sempre sorrindo, e muito. Mas as fotos delas no Brasil… Cito, apenas, para destacar como até colunismo social poderia ser mais atento e informativo, um pouquinho analítico.
O fato é que a cobertura não nos informou de quase nada que importa. E, assim, o jornalismo tupiniquim fica nos anos 1970, atado às pautas oficiais, ao complexo de vira-lata.