Como toda polêmica, a criação do Conselho Federal de Jornalismo tende a levar os participantes do debate aos extremos: ou você é contra ou a favor. O principal ponto de divergência é a tentativa de exercer o controle sobre aquele que já foi o quarto poder, perdendo hoje o posto para o Ministério Público. Ingenuidade pensar que os jornalistas têm liberdade de expressão: atire a primeira pedra quem nunca teve uma matéria vetada pelo editor ou que, no exercício da profissão, não passou por cima de convicções ideológicas para manter o emprego. Isso é tão comum no jornalismo que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em 1985, foi contra a criação de um Código de Ética para os jornalistas, alegando que como ‘assalariado’, o jornalista não tem ética, pois é refém do patrão.
Ninguém gosta de controles, ainda mais a mídia brasileira, que durante mais de 30 anos viveu sob controle da ditadura militar. Se existe brecha para censura no projeto do CFJ, então, é urgente participar do debate e fazer as mudanças. Se a Fenaj pecou pela falta de debate, não são os jornalistas que vão repetir essa conduta. É inadmissível que jovens jornalistas embarquem na onda de reclamações dos jornalistas de grife, os colunistas do alto jornalismo, que têm acesso fácil às fontes. Enquanto os cães de guarda disputam avidamente uma notinha exclusiva, os jornalistas de grife passam por cima de tudo. Por essa razão, criticam o projeto da Fenaj e os sindicatos, uma vez que para eles essas entidades não têm valor nenhum, já que seus direitos e benefícios são garantidos por estarem nessa categoria superior aos demais colegas de profissão.
Longe da luta
O Conselho significa a possibilidade de ampliar o debate sobre a democratização dos meios de comunicação no Brasil. Talvez nesse ponto resida o grande medo daqueles que hoje controlam a informação no país e que também reclamaram quando o projeto da então deputada federal Luiza Erundina que criava o Conselho de Comunicação Social foi apresentado à sociedade. Países como Itália e Venezuela criaram seus conselhos de Comunicação Social a fim de democratizar o debate que hoje iniciamos no Brasil, por conta da criação do CFJ.
Em meio à polêmica nova, questões antigas vêm à tona e mostram o quanto os jornalistas são uma categoria totalmente dividida. Entre elas, a disputa dos jornalistas de redação e os assessores de imprensa, que vivem em guerra. Não é por acaso que os dirigentes da Fenaj têm sido criticados por estarem afastados das redações há muitos anos. Os críticos afirmam, ainda, que os dirigentes da Federação, escolhidos em eleições diretas, não têm legitimidade para falar em nome dos jornalistas.
Difícil mesmo é encontrar algum jornalista em redação disposto a assumir a luta pelos direitos da categoria, haja vista as represálias e as ameaças constantes de demissão a que os jornalistas estão sujeitos diariamente. Antes de ser contra ou a favor do conselho, os jornalistas têm muito debate pela frente!
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Jornalista