Quanto mais complicada fica a situação de José Sarney, presidente do Senado, mais inconfortável fica a situação da Folha de S. Paulo. Sarney cometeu uma grave infração ética, quebrou o decoro parlamentar, pediu desculpas públicas.
Agora não adianta devolver os quase 80 mil reais de auxílio-moradia que recebeu desde maio de 2007. Sua imagem está definitivamente comprometida, não tem mais condição de presidir o Legislativo.
Há muitos anos tem mansão no Lago Sul em Brasília e, além disso, na qualidade de presidente do Senado, mora em outra mansão, esta mantida pelo Estado brasileiro. Não contente, resolveu embolsar os cerca de 3.800 reais que o cidadão brasileiro paga mensalmente aos congressistas que não têm casa na Capital Federal.
E o que tem a Folha de S. Paulo a ver com o novo vexame cometido pelo vice-rei do Brasil? Sarney é colunista do jornal há décadas. Contrariando sua própria linha de conduta, a Folha o manteve como colunista mesmo quando passou a ocupar tão alta posição no Estado brasileiro.
Contrariando o senso comum, contrariando a opinião pública, contrariando as normas de transparência e credibilidade exigidas de uma grande empresa de comunicação, Sarney é mantido na honrosa Página 2 apesar da sucessão de escândalos iniciada no dia seguinte à sua posse na presidência da Câmara Alta.
Na sexta-feira (29/5), como todas as sextas, dia da coluna de Sarney na Folha, é dia dos leitores perguntarem outra vez qual a razão desta fidelidade do jornal a um ex-presidente da República conhecido pela generosidade em distribuir obséquios e oferecer favores.
***
Em tempo: A Folha foi o único do três jornalões que publicou na primeira página o pedido de desculpas do senador.
Leia também