Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma briga fora de lugar

O novo round no embate entre o governo federal e o New York Times tem basicamente o mesmo ingrediente do anterior: o exagero [veja remissão abaixo]. Não cabe ao governo ensinar a um jornalista e a um jornal como se escreve uma matéria. Se tanto um como outro não acharam necessário ouvir o que a Fenaj tem a dizer sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo isso concerne apenas a eles. Partindo do pressuposto de que a criação da autarquia seria uma perigosa infração em matéria de liberdade de informação, não acharam necessário ouvir os infratores.


Não cabe à Presidência da República retomar a polêmica com o jornalista Larry Rohter. A contestação deveria ser feita pelo adido de imprensa do consulado brasileiro em Nova York ou por um remoto porta-voz do Itamaraty. Fica a impressão de um patrulhamento formal ou, para usar uma metáfora futebolística, marcação cerrada em cima de um profissional que teoricamente deve gozar da liberdade de manifestar-se sobre o que bem entende.


É legítimo o interesse da imprensa internacional pela polêmica gerada em torno do Conselho. Este Observador foi procurado por meia dúzia de veículos estrangeiros que certamente trataram do assunto nas últimas semanas – fato que não mereceu qualquer manifestação oficial.


Erro maior comete o governo ao chamar a si uma polêmica com o qual teoricamente nada tem a ver. Se, como diz a nota assinada pelo secretário de imprensa da Presidência, Ricardo Kotscho, a idéia do CFJ partiu da Fenaj, quem deveria contestar a matéria de Larry Rohter seria a entidade classista e não o governo que a teria acolhido inocentemente.


Ao entregar-se à tentação do novo enfrentamento com o jornalão americano, o governo oferece um atestado público de que o famigerado Conselho é, sim, uma iniciativa dele e, não, dos jornalistas. Como a Fenaj tem se comportado neste episódio como afilhada do governo, sua ausência nesta reclamação só reforça a idéia de uma intervenção do Executivo em esfera sobre a qual não tem competência. Se antes era possível acreditar na inocência do poder público na idéia de criar o CFJ, este seu empenho em partir para a briga torna inequívoco o seu apadrinhamento.


Sem mágicas


Se erro há na matéria publicada pelo New York Times na segunda-feira (6/7) e pelo International Herald Tribune, na terça, é juntar a iniciativa da criação do CFJ com o vazamento de um rascunho do projeto da Ancinav antes de iniciada a discussão sobre a entidade. Exagera o jornalista americano tentando juntar fatos isolados para convertê-los numa estratégia política. A idéia da CFJ é suficientemente estapafúrdia, dispensa acréscimos, suposições ou teorias conspiratórias.


Como no episódio anterior, a reação exagerada da imprensa nativa confere-lhe uma relevância que não tem. O Estado de S.Paulo levou o incidente para a primeira página (terça, 7/9), a Folha mencionou-o na matéria da manchete principal junto com o discurso do presidente Lula no Dia da Pátria, e O Globo, embora sem referências na primeira página, dedicou-lhe uma manchete interna (pág.11). Esta é uma bola de neve que só se justifica pela falta de assunto gerada pelo calorento feriadão.


A imprescindível nota pitoresca envolve este Observatório e este Observador, mencionados no final da matéria do New York Times. Na ‘integra’ publicada pelo Estadão o parágrafo evaporou. Na Folha não houve mágica – os dois nomes estão há tempos na sua lista negra.