O uróboro, a serpente mercantialis mitológica que se auto-devora na tentativa de continuar viva, acaba de ser reverenciada na manifestação do editorial publicado em 7/8 pelas edições Globo, que ao longo de 45 anos se transformaram no maior grupo editorial do país.
O editorial, lido na edição de sábado (6/8) do Jornal Nacional, antes de ser uma carta de consolidação de princípios do companheiro Roberto Marinho, como o genial jornalista costumava tratar todos os coleguinhas de profissão nos anos 60 e 70, é uma confirmação da parcialidade com que as Organizações Globo trataram a política brasileira desde a implantação da ditadura militar, à qual se filiaram desde o primeiro momento e, em nome dessa parceria, ocultando a verdade pela qual hoje se comprometem primar, obtiveram todas as regalias políticas e financeiras de que os generais-ditadores de plantão puderam dispor para construir seu império de comunicações.
Existem várias publicações quer incriminam o império dos Marinho. Várias delas banidas, tal seus autores, como malditos pelo círculo fechado em que se converteram as edições Globo. Não se pode negar que em algumas áreas mercadológicas,como a de teatro televisivo, cinematográfico e de comercialização internacional, os produtos originários do grupo impuseram-se em qualidade, quer pela contratação de profissionais competentes, quer pelo volume de recursos financeiros englobados no mercado midiático.
Novos caminhos
A carta de intenções não diz, mas na sua essência visa a criar uma blindagem em relação ao futuro político do país: como o império vai continuar dando as cartas num processo político que se distancia cada vez mais dos seus primados e propósitos?
Das duas, uma: ou as Organizações Globo se identificam com o novo momento político que se abre ao país, sem corrupção e de futuras eleições limpas e sem as barganhas do passado, ou simplesmente vão desaparecendo do cenário. Difícil conciliar o novo presente para quem se acostumou ao passado. A manifestação editorial das organizações não parece querer encarar esse desafio.
Mas, logo-logo, em mais cinco ou 10 anos, o horizonte do mercado vai mostrar os novos caminhos por onde trilharão as comunicações do Brasil.
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[Reinaldo Cabral é jornalista e escritor. Editor do site da AALONG]