Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma guerra declarada na mídia

Desde o início da atual campanha eleitoral para a Presidência da República, a mídia hegemônica tem reforçado sua posição de partido político, visando a reverter o caminho seguido pelo Brasil desde 2002. Tal movimento permitiu a realização do segundo turno, o que concedeu um novo gás para as forças conservadoras do país, articuladas com e, de certo modo, pela mídia. Mas esta briga não é de hoje: as indústrias culturais têm uma função de legitimação do capitalismo que se expressam mais claramente em alguns momentos.

As temporadas eleitorais são alguns dos períodos em que a face da mídia fica muito clara, como em 2006, quando os meios fizeram forte campanha contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os ataques foram ferozes e agressivos, com a direita fazendo graves acusações de toda ordem, visando à destruição de Lula, inclusive explorando a imagem emblemática da cadeira vazia, relativa à sua ausência em um debate televisivo, o que não era inédito na história da disputa eleitoral brasileira, mas nunca havia tido tal uso político.

Isso não foi o bastante para abalar a credibilidade do presidente, impedir sua reeleição (no segundo turno) e permitir que hoje ele tenha uma popularidade inigualável. No entanto, como os processos eleitorais estão centrados no indivíduo, no candidato, e não em um projeto ou partido, o efeito da campanha midiática é muito maior na candidatura de Dilma Rousseff, comparativamente com as consequências que tiveram na de Lula, já que sua imagem é muito menos sólida junto à população, tendo em vista a trajetória pública de cada um deles.

A campanha midiática, consistente em iluminar dados fatos, obscurecer outros e alavancar candidaturas específicas (algumas, inclusive, sem possibilidade de vitória, mas capazes de dificultar projetos da esquerda, em algum momento), mostra o nível dos interesses que estão em jogo. Melhor dizendo, fica muito claro que hoje estão em disputa duas propostas distintas para o país, com sérias repercussões sobre a distribuição de renda e a democracia, pois, do contrário, as organizações comunicacionais não teriam entrado tão firmemente no processo eleitoral, mesmo que de forma não assumia e insistindo no discurso da objetividade.

Empresa e cliente

De toda forma, é nos períodos eleitorais que a guerra midiática fica mais explícita, o que, se a caixa preta das indústrias culturais fosse desvendada, prejudicaria sensivelmente a imagem de neutralidade que tentam vender. Ao mesmo tempo, em nome desse desvendamento, deve-se destacar que a atuação das corporações midiáticas não é uníssona, variando conforme sua posição relacional: enquanto algumas são muito explícitas em sua posição parcial, outras tentam ainda passar alguma isenção, enquanto algumas buscam situar-se mercadologicamente entre aqueles que estão cansados do conservadorismo.

O dito jornalismo investigativo julga e age como o poder, atuando de maneira injusta, quando provoca resultados definitivos para verdades ainda provisórias, já que, não compondo a Justiça constituída, os informes midiáticos devem ser transmitidos e recebidos com cautela, merecendo ser apurados no tempo devido e pelas autoridades instituídas, numa sociedade democrática de Direito. Tal postura afasta cada vez mais o Jornalismo de uma postura de proximidade com os direitos da cidadania, num ideal iluminista, e reconfirma seu papel de instrumento a serviço do capitalismo, como lugar de controle social e adesão ao sistema.

Neste contexto de imposição desenfreada de interesses privados, o que ainda resta de relação mídia e sociedade é transformado essencialmente numa situação de empresa e cliente, por mais que isto seja encoberto. Considerando a crescente agressividade da postura midiática é que deve ser compreendido o atual quadro de avanço de blogs e espaços generalizados de distribuição de informação na internet, com múltiplas concepções de mundo e análises diversas. Isto mostra, além do mais, o potencial comunicativo da própria sociedade, que quer ser liberado. É nesta direção que a educação para a mídia é um espaço que deve receber investimento de governos democráticos, apostando na leitura e no empoderamento midiáticos.

******

Respectivamente, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição