Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma lição de jornalismo

Quando se lê uma matéria como a da revista Piauí sobre José Dirceu percebe-se claramente a distância que separa nossa grande imprensa do bom jornalismo.


A entrevista-perfil assinada pela repórter Daniela Pinheiro é modelar: pode ser lida como uma peça devastadora contra o ex-chefe da Casa Civil ou como retrato de uma personalidade fascinante. Há nela dinamite suficiente para derrubar meia dúzia de figurões do PT e do governo, mas há também um rico material sobre a perigosa tangência entre o público e o privado, o mundo de negócios e a administração pública, tanto na esfera nacional como internacional.


‘O consultor’ – este é o titulo da reportagem – é ao mesmo tempo uma denúncia irrespondível e uma confissão surpreendente. José Dirceu aparece ora como uma espécie de cardeal Richelieu, ora como revolucionário arrependido ou playboy internacional.


Resposta única


Num panorama jornalístico dominado pelas posições extremadas, histéricas, debochadas e drásticas, de repente uma pausa para os meio-tons. Desta peça jornalística superior os observadores da imprensa engajada não poderão dizer que se trata de um complô da mídia contra o governo, porque a revista Piauí (com pouco mais de um ano de vida e cerca de 50 mil exemplares mensais) circula junto a um público sofisticado e muito bem informado. Por isso mesmo capaz de perceber todas as nuances de uma informação.


Resta saber por que revistas com 1 milhão de exemplares semanais ou jornais com quase meio milhão de exemplares diários não conseguem produzir este mesmo jornalismo de qualidade.


A resposta está contida em outra pergunta: e por que a grande imprensa ainda não conseguiu dar a merecida ressonância ao que está contido na matéria de Piauí?


A resposta é uma só.


 


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