‘Quién paga a estos imbéciles?’, me perguntou o Santiago. E eu fiquei sem resposta. Santiago Serrano é um amigo espanhol, nascido na Alemanha.
Eles têm disso. Filhos de outra cultura, podem escolher a nacionalidade com que melhor se identifiquem. E assim Santiago, nascido e criado na Alemanha, pôde desenvolver o que de melhor havia nas duas linhas de raciocínio: a objetividade prática germânica e a complexa subjetividade latina.
Engenheiro, é capaz de analisar fatores opostos e construir uma ponte que os interligue. Professor de línguas, criativamente estabelece relações que propiciem a compreensão de idéias distintas através de suas semelhanças e diferenças. Apesar de toda essa experiência, Santiago não conseguiu deduzir lógica alguma nas conclusões de todo o elenco da Globo. Tanto daqueles a que concedemos espaço para o Bom Dia Brasil, do Alexandre Garcia, como para o Jornal Nacional, dos Bonner, ou o Jornal da Globo, do William Waack e Arnaldo Jabor; quanto para os da Globo News, que pagamos para a Miriam Leitão, o Carlos Alberto Sardenberg e a Cristina Lobo.
Cristina Lobo não tem a menor preocupação com a incoerência do que fala. Comentando o discurso de abertura da conferência das Nações Unidas pelo presidente Lula, fez questão de notar ter sido pouco aplaudido, no que demonstrou ser hábito o nosso presidente ser muito aplaudido. Pontuou como únicas ocorrências a do término da fala, como de praxe e comum a qualquer conferencista, destacando que só foi interrompido por aplausos em sua abordagem sobre relações internacionais e aquecimento global, ao citar o golpe de Honduras e o refúgio do presidente daquele país na embaixada brasileira. Não obstante, emendou a conclusão de que, ao abrigar Zelaya, Lula se obrigara aquele ‘caco’ no pronunciamento.
Como assim? Se acaba de confirmar ter sido o único momento em que espontaneamente os líderes mundiais manifestaram concordância ao discurso de Lula, com o que a imbecil classifica a referência como ‘caco’? Se divergente dos conceitos da Globo, o que o mundo inteiro pensa ou opina torna-se supérfluo, inconsiderável?
Eu não tive coragem de assumir perante o Santiago que ajudo a pagar esses jornalistas, assinando canais de TV para ter mais opções informativas, mas no mesmo momento recordei aquela divulgação insistente que tenta nos convencer de que piratear sinal de TV a cabo é crime. Quem é o pirata? Vou pedir ao vizinho que, sem pagar, tem todos os canais de filmes, para me proteger da pirataria da Globo, pois não era somente à Cristina Lobo a quem o Santiago se referia em sua pergunta.
Como podemos responder?
O que responder?
Se a Hillary Clinton apóia o asilo a Zelaya na embaixada brasileira e o Muamar Kadafi também, o que responder? Se o Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, e o Raul Castro, presidente de Cuba, apóiam o Brasil pelo asilo na embaixada… Se o secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-Moon, e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad apóiam… Se os tratados internacionais, os corpos diplomáticos de todas as nações… Todos os intelectuais, os meios acadêmicos, toda imprensa não-brasileira… O mundo inteiro apóia Lula e o Brasil por ter oferecido asilo a Zelaya na nossa embaixada em Tegucigalpa, o que poderia responder ao meu amigo Santiago.
Se país de governo nenhum – nem um! –, a não ser a Globo, reconhece como legítimo o governo golpista de Honduras, o que poderia ter respondido à coerência e objetividade germânica ou à criatividade e subjetividade do raciocínio espanhol? Que a Globo é mais esperta do que Hitler e sairá vitoriosa desta declaração de Terceira Guerra Mundial em que se meteu?
Como posso afirmar isso, se os caras acabam de perder uma guerrinha doméstica com a Record, que a desmascarou, revelando os motivos da oposição da Globo ao governo federal, defendendo invasões de áreas públicas sob a vista grossa do governo paulista?
Serra e Micheletti serão aliados mais eficientes do que Mussolini e Hirohito? Me ajudem! Como poderemos responder ao mundo e à pergunta do Santiago sobre quem paga jornalistas da Globo para declararem guerra ao mundo?
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Escritor, jornalista, pousadeiro e colabora com a Agência Assaz Atroz