O jornal O Estado de S.Paulo se dedica, desde o fim de semana, a vasculhar os porões do Poder Judiciário e revelar os resultados de investigações feitas pelo Conselho Nacional de Justiça. O retrato pintado pelo diário paulista é assombroso: criada há cinco anos, a Corregedoria que operacionaliza as decisões do Conselho abriu, só nos últimos doze meses, mais de 5.300 procedimentos para apurar desvios do sistema judiciário.
Foram encontradas irregularidades como a assinatura de sentenças escritas pelos próprios acusados e uma verdadeira indústria de decisões judiciais determinando o pagamento de somas milionárias por parte de bancos e órgãos públicos em ações suspeitas.
A situação descrita pelo Estadão é de tal modo grave que um dos entrevistados, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, produziu uma frase lapidar: ‘Não são todos salafrários’, declarou o ministro. Já o corregedor nacional de Justiça, Gilson Dipp, declarou que a ação do Conselho representa a ‘proclamação da República no Judiciário’.
O troco
A série de reportagens, intitulada ‘Dossiê Estado – Raio X do Judiciário’, prossegue na segunda-feira (19/10) com mais revelações.
Um dos relatos revela os casos de juízes que praticavam uma espécie de estelionato judiciário. Esses magistrados julgavam ações de indenização durante plantões de fim de semana, determinando o pagamento imediato, em espécie, aos reclamantes, o que levou até mesmo ao arrombamento de um banco para a retirada de dinheiro. Segundo a reportagem, a maior punição administrativa que um juiz pode sofrer é a aposentadoria compulsória, com vencimentos proporcionais.
O esforço de reportagem do Estado de S.Paulo é tudo que se espera de um bom jornal. A decisão de divulgar o pente-fino sobre as mazelas do Judiciário só pode merecer a admiração de seus leitores.
Convém apenas atentar para as motivações do jornal: será que o Estadão não estaria dando o troco para a demora da Justiça em suspender as restrições à publicação de reportagem sobre a família Sarney, que o jornal considera censura?