Caros Amigos lançou em maio um pequeno ‘tratado’ sobre o PCC – Primeiro Comando da Capital. A edição extra recebeu elogios de alguns observadores da imprensa. Merecidos elogios. O repórter João de Barros realizou trabalho de pesquisa e esclarecimento, entrevistando, investigando.
Nessa guerra infindável, ninguém está brincando de mocinho e bandido. Há bandidos nas duas bandas, há sadismo motivando mais sadismo, violência provocando mais ódio: medo e ódio. Há autoridades criminosas e criminosos autoritários. E muitas vítimas.
As pessoas envolvidas não vêem como sair da trama. Assustadas, revoltadas, ameaçadas, ameaçadoras, corruptíveis, perdidas, coniventes. Um drama, uma tragédia. Assassinatos, suicídios, vidas destroçadas, inteligência, vingança, orgulho, dissimulação, mentiras, delações, traições… e até amor.
À medida que lemos as 32 páginas dessa edição especial, cresce sem medida uma certeza. A certeza de que o problema da criminalidade chegou a níveis de complexidade altos demais. Qualquer solução proposta exige que dezenas de outros problemas (sociais, políticos, éticos, educacionais…) sejam dimensionados e corrigidos. É muita areia para o caminhãozinho dos governos, dos intelectuais, das pastorais, da mídia.
Guerra sem tréguas
João de Barros deu àqueles que pontificam sobre a necessidade de mais repressão, mais presídios, mais investimentos na polícia, uma oportunidade para pensarem. A lógica muitas vezes cruel do PCC está inserida na lógica ilógica da desumanidade que vivemos todos.
O ex-secretário de segurança Marcos Vinícius Petreluzzi, quase xará de Marco Willians, o Marcola, é fatalista e teológico: ‘Não existe sociedade sem crime. Até na sociedade bíblica Caim matou Abel’. Sim, a guerra é fratricida. Somos brasileiros nos matando. Poder, drogas, dinheiro, sangue. E o ex-secretário insinua uma solução de caráter individualista: ‘O dia em que a droga voltar a ser um caso de saúde pública, você acaba com a droga ilegal. Se quiser usar droga, problema seu’.
Errado. O problema continua e continuará sendo nosso. Quem consome a droga, quem vende a droga, quem mata em nome da droga. São todos vítimas e agressores da sociedade.
Os detentos se organizaram. Sabem que estão em guerra, como reza o estatuto do PCC. Sabem que estão ‘numa guerra sem trégua, sem fronteiras’… e almejam ‘a vitória final’. Imaginam-se talvez prisioneiros de guerra. E aqueles que os mantêm presos sentem-se também convocados para novas batalhas.
O promotor Márcio Christino conhece o potencial do PCC: ‘Eles têm o sistema carcerário nas mãos… são poderosos.’
A guerra, infelizmente, só começou.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br