Muito se discute sobre como a disputa pela maior fatia do Ibope influencia a programação. Tem-se a impressão, dado esse fato, que o telespectador é quem determina o que passa na telinha. Como se o público fosse senhor supremo e mandasse mais que qualquer chefe executivo de uma Rede Globo da vida.
A alegoria acima pode ser transposta sem prejuízo para as outras mídias. A Folha de S. Paulo, por exemplo, não esconde de ninguém que, ao contrário de seu maior concorrente, o Estadão, faz de tudo para acompanhar o gosto do leitor, evoluindo ideologicamente (ou seria melhor dizer ‘pragmaticamente’?) de acordo com seu público. São tempos de mercado-livre.
Entretanto, ouso convidá-lo a acompanhar-me num raciocínio inverso. Da mesma forma que podemos afirmar ser o público o grande programador temático dos meios de comunicação, podemos afirmar que o público tem suas opiniões formadas por meio do que a mídia lhe impõe. Ou seja: o povão já está preso, há muito, nesse círculo vicioso. Ele pede, sim, para assistir ao Ratinho – mas o seu gosto pelo Ratinho já foi formado de antemão pela própria mídia.
Muito atraentes, verdinhos
Isso posto, voltemos à mídia como formadora e controladora de opiniões. Num país que se diz democrático tal fato parece muito saudável, à medida que se espera haver também uma pluralidade ética, estética e temática nos meios de comunicação. Espera-se haver uma grande variedade quantitativa e qualitativa na mídia. Certo, né?
Errado. Infelizmente – e a tendência é mundial – os meios de comunicação estão cada vez mais nas mãos de grandes conglomerados. São meia dúzia de empresas-gigante controlando a opinião das massas, quando determinam a agenda setting. São meia-dúzia de empresas-gigante determinando que roupa você vai usar, quem será seu próximo presidente, que música você vai ouvir, o que vai ser notícia e, pasme!, até mesmo qual programa você vai querer assistir. Em suma, estão controlando suas vontades. E você se achando o poderoso do controle remoto…
O mais apocalíptico deste começo de século, contudo, é a presença de capitais estrangeiros na mídia nacional. Esse golpe capitalista tem tudo para ser a última tacada no processo de aculturação, ou colonização cultural, que estamos sofrendo desde que a primeira calça jeans aqui aportou. Ou ainda, sendo mais radical, desde que o primeiro espelhinho foi trocado por algumas toras de pau-brasil.
Os dólares são bem-vindos porque muito atraentes, verdinhos. Chegam como uma salutar proposta salvífica para uma mídia falida que perdeu até as roupas de baixo nos difíceis anos 90. Mas, a longo prazo, o que isso pode representar?
Soluço bem grande
Por enquanto só dá para perceber, em matéria de fusão, muita confusão. Não sou profeta.
Não é só no campo que o Brasil precisa fazer uma completa e urgente reforma agrária. Mais nocivos parecem ser os latifundiários dos meios de comunicação: os descendentes de Marinho e mais alguns eupátridas que controlam todos os meios de comunicação nacionais.
Tomemos como exemplo a Rede Globo: jornais, revistas, rádios, TV, livros, internet… Aí fica mais fácil compreendermos o exposto naquele clássico documentário produzido pelo Canal 4 de Londres (‘Beyond the Citizen Kane’), no qual o falecido Dr. Roberto Marinho é mostrado como verdadeiro dono do Brasil, mandando e desmandando.
Mas minha grande dúvida – que este texto não vai responder – é apontar uma solução para o problema da concentração dos meios de comunicação nas mãos dessa minoria de poderosos. O Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre, dentre suas infindáveis utopias, fazia apologia às rádios e TVs comunitárias. À primeira vista, parece ser uma boa idéia. Contudo, na prática, esses meios de comunicação alternativos têm ficado nas mãos de grupos políticos ou religiosos, pouco mudando a realidade perniciosa da mídia brasileira.
Parece que a solução continua sendo um soluço bem grande. Soluço de desespero.
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estudante de jornalismo da Unesp