Como assessor de imprensa do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), tenho uma versão bem diferente da apresentada pelo diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, em artigo publicado neste Observatório [remissão abaixo].
No dia 14 de julho, às 19h, a produção do Jornal Nacional, em São Paulo, me ligou querendo falar com o deputado Devanir sobre uma suposta funcionária sua que teria ido à agência do Banco Rural em que houve saques de grandes quantias da conta de Marcos Valério.
Pedi à jornalista da Globo o nome dessa funcionária, a data da visita e o valor do saque. Ela disse que não sabia me dizer, pois a reportagem estava sendo feita por Brasília, mas ficou de tentar conseguir estas informações. Aqui já há o primeiro problema: a repórter encarregada de ouvir a versão de Devanir não tinha informações básicas sobre a própria matéria! Ela também poderia ter procedido de forma diferente: mesmo nos procurando duas horas antes de o JN ir ao ar, bastaria ter nos pedido a relação de funcionários nomeados no gabinete com os respectivos números de RGs.
RGs diferentes
Mas vamos em frente. Voltei a ligar para essa pessoa, que me disse para ficar tranqüilo que o nome de Devanir não apareceria na matéria, inclusive, a Cristiana Lôbo já havia falado com o próprio deputado. Aguardamos o JN e, para nossa, surpresa, eles citavam uma funcionária de Devanir que ‘visitou’ o banco.
Eles simplesmente mentiram! Ou porque a matéria já estava editada e não havia tempo para mudá-la ou por má fé, tanto que William Bonner diz que ‘Devanir nega que Maria Aparecida da Silva seja sua assessora’, mas afirma taxativamente que ‘a nomeação dela consta nos registros oficiais da Câmara’.
Outra mentira. Em seguida, liguei para a redação afirmando não se tratar da assessora de Devanir e que tinha como provar. Eles mandaram uma equipe para gravar a versão de Devanir, que estava ao lado de sua verdadeira assessora – uma moradora da Zona Leste que tem RG de São Paulo. A pessoa que eles disseram ser funcionária de Devanir tem RG do Distrito Federal.
Checagem mais criteriosa
A repórter foi embora e, em seguida, nos ligou para dizer que o deputado Rodrigo Maia [PFL-RJ] tinha ‘documento’ comprovando ser a pessoa que visitou o banco a funcionária de Devanir. Eles ainda tentavam manter a versão inicial e dar crédito à reportagem. O pseudodocumento de Rodrigo Maia era uma folha sem identificação alguma – e que qualquer um com computador poderia muito bem montar – em que aparecia o mesmo nome da lista que ele (Maia) divulgou! Quanta ingenuidade! Como aquele papel poderia ser tomado como documento?
Enfim, dois outros detalhes: 1) Cristiana Lôbo, muito antes, havia procurado Devanir para falar dessa lista. O deputado disse tê-la alertado que em Brasília há lista para todo o tipo de gosto, e que era preciso tomar cuidado com matéria mal redigida que poderia acabar com a carreira de um político – caso, por exemplo, de Ibsen Pinheiro. Devanir disse claramente a ela que a sua assessora Maria Aparecida da Silva mora e trabalha em São Paulo, e nunca foi a Brasília, tanto que sua contratação foi feita por meio de procuração; 2) Eu, José Maria, liguei várias vezes na noite de 14 de julho para a Cristiana na tentativa, primeiro, de conseguir o nome da suposta funcionária e, segundo, para que corrigissem o erro levado ao ar em horário nobre. Ela me disse já estar em casa e que não havia ninguém na redação que pudesse me passar um fax da lista em que aparecia o nome da suposta funcionária do Devanir.
Dá para acreditar? Se a produção do Jornal Nacional quisesse proceder corretamente – a alternativa é a mera incompetência –, bastaria confrontar os números do RG das duas pessoas. Só isso já seria um alerta de que havia erros na matéria e que ela não deveria ir ao ar sem uma checagem mais criteriosa!
******
Assessor de imprensa do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP)