De forma prática, sugiro que o Observatório da Imprensa encaminhe um documento aos meios de comunicação do Brasil para que insiram em sua cobertura o debate sobre a cobertura da mídia acerca da chamada crise política.
Inicialmente, creio, os debates podem ser efetivados nos programas de entrevistas e similares das emissoras de televisão mais conhecidas, como Roda Viva (da Cultura), Programa do Jô (da Globo) e Canal livre (da Bandeirantes). Em seguida os debates seriam estendidos às emissoras de rádio, aos jornais, às revistas e aos sites. Depois, ou concomitantemente, às faculdades de Jornalismo.
O Observatório talvez seja o único ‘movimento de imprensa’ no Brasil, atualmente, com vontade, legitimidade e credibilidade para ampliar a necessidade da autocrítica da mídia e inseri-la de forma eficaz nos meios de comunicação. Sugiro que quem concorde com esta proposta manifeste ao Observatório.
Motivos para questionarmos a nós mesmos, a nossos patrões e ao campo jornalístico como um todo não faltam. Por exemplo, o ex-secretário nacional de Comunicação, Luiz Gushiken, disse dias atrás, à TV Globo, que 70% dos cerca de R$ 290 milhões sacados por Marcos Valério entre 2003 e 2005 foram para a mídia, visto ser este o percentual tabelado quanto à veiculação de propagandas. A ex-empresa do mesmo Gushiken, Globalprev, foi alvo de matérias equivocadas que lhe apontaram um crescimento de quase 600% entre 2002 e 2003, sugerindo tráfico de influência, e as escusas foram mínimas.
Por quê? Por quê?
Até o momento a imprensa não se concentrou em saber para que partidos as firmas de Valério trabalharam nas eleições de 2002 e 2004. E também não disse, apesar de não ser difícil, quanto dos 400% de crescimento percebido de 2003 para cá nas firmas dele têm a ver com contratos efetuados do governo federal, de governos municipais e estaduais petistas.
A mídia tomou como acusação os nomes de políticos, assessores e parentes de parlamentares que sacaram dinheiro do Banco Rural em quatro dias em que também houve retiradas pelas firmas de Valério. A lista foi mostrada por representante do PFL e a imprensa não atuou com o mesmo empenho para saber quais são os demais nomes de políticos que contam da lista. Muito mais está se falando sobre o dinheiro da cueca do petista do que os mais de R$ 10 milhões das maletas do bispo e ex-presidente da Record. Borys Casoy teve e está tendo conduta ética questionável no caso.
Roberto Jefferson, corrupto assumido, é o político mais ouvido pela imprensa nos casos de corrupção, que expõe suas informações como denúncias, e não demonstra qualquer interesse em saber quais as suas intenções, assim como não se preocupa em investigar detalhes de sua vida política, nem se ele está pretendendo abrir caminho para Collor em 2006. A mídia não correu atrás, ainda, dos demais partidos para averiguar se eles praticam caixa 2. Por quê? Vários meios de comunicação têm dívidas trabalhistas, devem ao BNDES, desrespeitam a legislação sobre radiodifusão, cometem crimes de calúnia, intriga e difamação, e isto não vira notícia nacional. Por quê?
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Jornalista em Cuiabá