BANG BANG
Ricardo Valladares
O mico das 7
‘A Rede Globo bateu o martelo: Bang Bang, a novela das 7 mais problemática dos últimos tempos, será encurtada em trinta capítulos. Em vez de acabar no fim de maio, como inicialmente previsto, sairá do ar em 21 de abril. Trata-se do feriado de Tiradentes, mas para o espectador a data terá sabor de Dia da Independência. Concebida para ser um sopro de ‘inovação’ na teledramaturgia da emissora, Bang Bang revelou-se um fiasco. Sua média de ibope está em 27 pontos, 8 a menos do que seria razoável. E o índice só se mantém nesse nível porque a Globo encurtou os capítulos em quinze minutos, para conter a fuga de espectadores. A novela é um dos maiores micos já exibidos no horário: sua mistura de faroeste com gírias cariocas é ridícula, os protagonistas são fracos e sua trama – bem, ter uma trama já seria bom. O forte da faixa das 7 sempre foi o humor, mas até nisso o folhetim fracassa. As piadas são de uma indigência atroz. Dias atrás uma personagem comentou com outra: ‘Ícaro desafiou Deus’. Resposta engraçada: ‘Deus, não: Zeus’. Rá rá. Há pouco mais de um mês, a cúpula da Globo destacou Carlos Lombardi, autor com experiência nas chanchadas das 7, para pôr ordem na casa. Lombardi aumentou o número de cenas com peladões. Qualquer coisa continua sendo melhor do que assistir a Bang Bang.
Mas por que a Globo insiste em manter no ar uma novela que já nasceu condenada? Na TV americana, as emissoras não têm dó de ceifar as atrações que dão sinais de fraqueza no ibope. A chamada ‘morte súbita’ não poupa produções recém-lançadas ou aquelas que gozam da simpatia dos formadores de opinião – se há risco de prejuízo, nada se salva. A Globo alega que essa estratégia vai contra seus conceitos. Embora já tenha feito podas severas em novelas ruins (em 2001, encurtou quase pela metade As Filhas da Mãe), a emissora prefere se esmerar nos remendos. Mas o fato é que também existem limitações práticas, que impedem soluções mais radicais.
Ao contrário do que se possa imaginar, contratos de propaganda não impedem que se tire um programa do ar. Quem anuncia num intervalo comercial patrocina uma faixa de horário, e não uma novela específica. Os contratos de merchandising (aquelas propagandas disfarçadas, que acontecem no meio das cenas) costumam ser de curta duração e bastante flexíveis. As verdadeiras dificuldades são internas. Hoje, cada novela da Globo começa a ser produzida com pelo menos seis meses de antecedência. Além disso, no sistema de produção da emissora, alterações abruptas têm impacto sobre outras atrações.
Montar elencos, por exemplo, é hoje em dia um exercício de xadrez. A antecipação de Cobras e Lagartos, folhetim que ocupará o lugar de Bang Bang, fez com que a produção disputasse elenco com a novela das 6 que estreará na mesma época, Sinhá Moça, de Benedito Ruy Barbosa. Atores como Bruno Gagliasso e Débora Falabella foram requisitados por ambas – e Sinhá Moça levou a melhor. Se não bastassem problemas como esses, existe ainda o fato de que emissoras como a Record vêm contratando muitos atores globais. A Record, aliás, anda soltando rojões. Com a cratera aberta no horário nobre da Globo, a audiência de seu folhetim Prova de Amor aumentou. Vale repetir: qualquer coisa continua sendo melhor do que assistir a Bang Bang.’
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