Como era de se esperar, a imprensa se dedicou intensamente aos novos casos de violência no Rio de Janeiro.
Uma coleção de diagnósticos, mapas, estatísticas e infográficos desfila diante dos leitores, com destaque para a capa da revista Veja: ‘Quem cheira mata… e outras 14 verdades incômodas sobre o crime no Rio de Janeiro’, diz a manchete.
Depois de dezenas de páginas impressas, o leitor tem pouco a contabilizar: a imprensa repete os mesmos diagnósticos, aproveita para fazer a distribuição seletiva das culpas entre as autoridades e nada mais.
Na falta de maior profundidade, o estilo das reportagens das revistas semanais de informação resvala para o discurso contundente, e pouco se diferencia das narrações dos programas espalhafatosos da televisão.
Guerra no estrangeiro
Os jornais paulistas e a revista de informações de maior tiragem olham o Rio de Janeiro como se aquilo fosse o palco de uma guerra no estrangeiro. A imprensa de São Paulo faz de conta que a violência respeita fronteira, aceita a tese de que a criminalidade em São Paulo está mais contida e ajuda a criar o cenário para a expansão do inferno que hoje atinge as favelas cariocas.
Em São Paulo, o narcotráfico e outras atividades do crime organizado são dominadas por uma única facção, que se consolidou com ajuda da polícia. Trata-se de uma estratégia oficial, comentada, segundo a Folha de S.Paulo, até pela revista britânica Economist: as autoridades paulistas continuam acreditando que o predomínio de uma quadrilha evita as guerras de gangues, como acontece no Rio.
Pois bem: nesta segunda-feira, o jornal O Estado de S.Paulo noticia que pelo menos duas das facções criminosas do Rio já atuam em território paulista, disputando o poder nos presídios.
Pontos de drogas na zona Oeste da região metropolitana de São Paulo já foram tomados por traficantes cariocas e fichas de inscrições de gangues do Rio foram aprendidas em um presídio da capital paulista.
Mas o bairrismo impede que a imprensa perceba como a violência se consolida rapidamente como questão de segurança nacional.