Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 14 de julho de 2008
INTERNET
Yahoo! recusa nova oferta da Microsoft
‘O Yahoo! rejeitou mais uma oferta da Microsoft para comprar a empresa, em uma negociação que se estende desde fevereiro. Na nova oferta, em parceria com o investidor Carl Icahn, a Microsoft ficaria com o sistema de buscas, e o restante do Yahoo! iria para Icahn. Além disso, conselho e direção atuais seriam substituídos.
O conselho do Yahoo! teve 24 horas para decidir sobre a oferta, disse em nota o presidente do Yahoo!, Roy Bostock. ‘É absurdo acreditar que nosso conselho aceitaria tal proposta.’
O Yahoo! reiterou que negociaria a venda da empresa inteira a US$ 33 por ação.’
CRIMES ONLINE
Excessos em rede
‘Projeto aprovado no Senado sobre crimes na internet reduz controles, mas ainda conflita com livre circulação de dados
A INTERNET constitui por excelência o domínio da livre circulação de informações, mas o Congresso Nacional houve por bem que seria preciso regulá-lo minuciosamente. O projeto de lei nº 89/2003, originário da Câmara, acaba de ter o polêmico substitutivo de autoria do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) aprovado no Senado. Após receber mais de 30 emendas, na versão que volta à Câmara o texto tipifica 13 novos crimes civis e nove militares pela rede mundial de computadores, de estelionato eletrônico à difusão de vírus.
Antes da bateria de emendas, o projeto de Azeredo recebera críticas severas de usuários, entidades e provedores de informática. Duas provisões, em particular, eram consideradas autoritárias e restritivas: a obrigação de provedores de acesso manterem registro completo de dados relativos às conexões efetuadas por seu intermédio e o dever de monitorar e denunciar a autoridades quaisquer movimentos ou atividades suspeitas de usuários.
Diante das reações negativas, os dois pontos sofreram alterações e abrandamento no substitutivo. A obrigação de manter os registros permanece no artigo 22 (inciso I), mas só do chamado ‘log de acesso’ (origem e horários de conexão/desconexão), e não da navegação propriamente dita feita pelo usuário.
Tais registros deverão ser fornecidos apenas à autoridade, segundo o projeto atual, ‘mediante prévia requisição judicial’. É uma provisão sensata para prevenir a proliferação de pedidos de quebra de sigilo. O prazo de três anos, contudo, parece exagerado e oneroso para os provedores de acesso -custo que de um modo ou de outro acabará recaindo sobre os internautas.
Incluíram-se na obrigação de manter os ‘logs’, além dos provedores de acesso à internet, também as redes privadas e do setor público. Isso já existe nas redes internas das grandes organizações, mas, se o projeto for aprovado como está pela Câmara, o dispositivo obrigará toda empresa e repartição, não importa seu tamanho.
No que respeita ao segundo ponto, que obrigava à delação, também houve progresso aparente, mas pequeno. Pelo artigo 22 (inciso III), os provedores já não precisariam policiar usuários, mas ‘informar, de maneira sigilosa, à autoridade competente denúncia que tenha recebido e que contenha indícios de prática de crime’. Aqui, igualmente, surge a questão do custo adicional imposto às organizações menores, que não contam com estrutura para desempenhar essa obrigação.
Prevenir os crimes cometidos com freqüência cada vez maior pela internet constitui intenção louvável. Não é trivial, porém, realizar tal objetivo num meio tecnológico com o alcance e a novidade da internet. O substitutivo do Senado traz algum avanço, ao arrefecer o vezo controlador e burocrático que inspirava versões anteriores, mas ainda conflita com o que há e deve haver de livre na rede mundial.’
OPERAÇÃO DA PF
Mocinhos e bandidos
‘SÃO PAULO – As operações da Polícia Federal ganharam corpo no governo Lula e logo se tornaram encenações midiáticas de justiçamento, uma espécie de teatro instantâneo para a TV cujo clímax reside na imagem da pessoa poderosa algemada e presa por algumas horas.
Esse ritual de humilhação e execração pública -pelo qual o acusado fica exposto como se lhe gravassem com ferro em brasa na testa LADRÃO!- tem sido a verdadeira condenação das vítimas endinheiradas da PF. Na Justiça e ao cabo, todos sabem que vão se safar.
A PF parece ter descoberto a fórmula mágica capaz de saciar o apetite das massas, fazendo do espetáculo das prisões uma compensação para a quase certeza da impunidade no final. E dá-lhe grampo! -como nunca antes neste país.
O delegado Protógenes Queiroz trouxe agora uma novidade à cultura policial da era Lula. As 245 páginas de seu inquérito são produto de uma cabeça messiânica em estado de êxtase. Além de grampear o idioma, o homem da lei se atribui a missão de salvar o país e combater obstinadamente os males do capitalismo. Protógenes é uma mistura de Eliot Ness com Sassá Mutema.
Esse contrabando místico-ideológico que contamina o inquérito serve, na prática, para justificar barbaridades, como o pedido de prisão da jornalista Andréa Michael. Lendo a peça do delegado entende-se por que sua equipe invadiu o consultório de um dentista acreditando prender um doleiro.
A inépcia, os atropelos e a megalomania da PF beneficiarão os culpados, a começar pelo ‘bad boy’ das privatizações, o neomeliante que espelha a face delinqüente do moderno capitalismo brasileiro inaugurado com Fernando Collor.
Daniel Dantas é um vilão de novela, uma raposa de desenho animado. Todo mundo sabe que ele é o que é. Que ‘gênio do mal’ é esse, tão transparente, tão trapalhão, sempre aprontando e sempre em apuros? Protógenes corre o risco de tê-lo transformado numa vítima de sua ambição insana de livrar o mundo de todos os seus pecados.’
BASTIDORES
O seriado ‘24 Horas’ na vida real
‘Sabemos como se parece uma Casa Branca criminosa graças a ‘The Final Days’, o clássico relato do desmoronar de Richard Nixon escrito por Bob Woodward e Carl Bernstein. O caldeirão de mentiras, paranóia e espionagem ilegal ferveu e derramou, até que, no final, era ‘cada um por si’.
‘The Final Days’ foi publicado em 1976, dois anos depois de Nixon abdicar da Presidência.
No caso da Presidência Bush, nenhum jornalista está esperando até o cadáver ser levado embora. A mais recente ilustração disso está sendo lançada esta semana por Jane Mayer, da ‘The New Yorker’, que há anos cobre o emprego da tortura na guerra ao terror.
Alguns trechos de seu livro, ‘The Dark Side’, parecem saídos de ‘The Final Days’. Ficamos sabendo, por exemplo, que em 2004 dois funcionários republicanos do Departamento de Justiça tinham ficado ‘tão paranóicos’ que ‘chegaram a pensar que poderiam estar correndo perigo físico’. Com medo de serem grampeados, passaram a falar em código.
Os homens em questão eram o vice do secretário de Justiça John Ashcroft, James Comey, e um secretário de Justiça assistente, Jack Goldsmith. O pecado deles tinha sido desafiar o ‘chefão mafioso’ da Casa Branca, [o vice-presidente] Dick Cheney, e seu homem de confiança, David Addington, quando estes desrespeitaram a Convenção de Genebra, convertendo a tortura em lei extra-oficial.
Comey e Goldsmith já deixaram a Casa Branca há tempo.
Mas o vice-presidente Cheney e David Addington ainda exercem seus cargos, graças a um presidente, um secretário da Justiça (Michael Mukasey) e um diretor da CIA (Michael Hayden) que, mesmo agora, se recusam a excluir a tortura de maneira terminante.
De acordo com o retrato da Casa Branca traçado por Mayer, o presidente é uma figura secundária, até passiva, e os motivos citados por Cheney para restaurar os poderes do Executivo em estilo Nixon são, teoricamente, desinteressados. Dominados pelos cenários vistos no seriado televisivo ‘24 Horas’, eles apenas querem proteger os EUA de outros ataques terroristas.
Mas será que estamos realmente em segurança? Neste verão [do hemisfério Norte] em que a Al Qaeda e o Taleban reganham força, essa pergunta é ainda mais urgente que as questões morais e legais concernentes à tortura.
A declaração de Bush em 2005 de que ‘nós não torturamos’ já foi exposta como mentira faz tempo. Antonio Taguba, o general da reserva que investigou para o Exército os abusos contra detentos, concluiu que ‘já não há dúvida alguma’ de que ‘foram cometidos crimes de guerra’.
Jane Mayer trouxe à tona outro veredicto condenatório: investigadores da Cruz Vermelha afirmaram à CIA em 2007 que os EUA vêm praticando tortura e estão suscetíveis a acusações por crimes de guerra.
Figuras do alto escalão do governo Bush começaram a ficar com as mãos suadas, inseguras sobre onde deixaram suas impressões digitais. Tanto se especula que processos por crimes de guerra serão abertos em tribunais estrangeiros ou internacionais que Lawrence Wilkerson, o ex-chefe do Estado-Maior do [ex-secretário de Estado] Colin Powell, já aconselhou publicamente funcionários e ex-funcionários do governo a ‘nunca viajarem para fora, exceto, possivelmente, para a Arábia Saudita ou Israel’.
Enquanto esperamos a ação lenta da justiça, há temores imediatos aos quais voltar nossa atenção. O livro de Jane Mayer reforça o argumento de que o emprego da tortura pelos EUA não apenas traiu os valores americanos, mas também enfraqueceu nossa segurança nacional e continua a fazê-lo.
Na realidade, a tortura pode estar possibilitando ataques futuros, e não apenas porque fotos de Abu Ghraib vêm sendo usadas por jihadistas para recrutamento. Não menos destrutivas são as confissões falsas obtidas de presos torturados. A avalanche de informações errôneas desde o 11 de Setembro vem prejudicando os julgamentos de suspeitos, deixando outros culpados escapar e fazendo os militares americanos partir em buscas inúteis.
É por isso que, em última análise, a corrupção da Casa Branca de Bush supera a de Nixon. Agora, o crime é pior que seu acobertamento, e o castigo pode recair sobre todos nós.
Tradução de CLARA ALLAIN
Frase
‘A tortura pode estar possibilitando ataques futuros, e não apenas porque fotos de Abu Ghraib vêm sendo usadas por jihadistas para recrutamento. Não menos destrutivas são as confissões falsas obtidas de torturados’’
TELEVISÃO
‘A Favorita’ é fenômeno de audiência no Sul
‘Apesar do desempenho abaixo da média histórica no eixo Rio-São Paulo, ‘A Favorita’ vai muito bem no Ibope no Sul. Em Porto Alegre, é fenômeno de audiência e repercussão. Tem até agora 52 pontos (é vista em 52% dos domicílios da região metropolitana), número dos sonhos de todo autor de novela.
A trama escrita por João Emanuel Carneiro e dirigida por Ricardo Waddington também tem bom desempenho em Florianópolis (46 pontos) e Curitiba (42). Sua média nacional é de 37. Em SP e no Rio, tem 35.
A principal explicação para o sucesso de ‘A Favorita’ no Sul é econômica _os mais ricos adoram a novela, enquanto os mais pobres estão migrando para as tramas da Record.
Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre estão e entre as cinco capitais com maior incidência de classes A e B na população. Fortaleza, a capital entre as medidas pelo Ibope com maior incidência de classes D e E, é onde ‘A Favorita’ se sai pior: tem só 30 pontos.
Há também fatores técnicos. A Record só recentemente melhorou o sinal em Porto Alegre.
Porto Alegre é tradicionalmente ‘noveleira’. Segundo relatou a RBS à Globo, em alguns dias chega a parar para ver as intrigas de Claudia Raia e Patricia Pillar. Grupos de discussão apontam aspectos de suposta identificação do gaúcho com a novela (a sede de vingança, a passionalidade e o provincianismo retratado na trama).
SEM ROUPA
A Record só convidou os profissionais menos graduados de seu departamento de jornalismo quando faltavam três horas para o início da festa que promoveu na última quinta-feira, em São Paulo, para comemorar o crescimento de audiência de seus telejornais. Muitos jornalistas, sem roupa considerada adequada, não foram ao evento.
PROMOÇÃO
A Globo e o Ibope chegaram à conclusão de que nada podem fazer contra a Record pelo fato de a emissora ter divulgado números de audiência no ‘Jornal da Record’ de quinta. Os dados estavam corretos, embora comparados com período em que a Globo vivia o auge. E as regras do Ibope impedem apenas a citação nominal das outras emissoras. A Globo foi chamada de ‘concorrente’.
BANDEIRA 1
A TV dos Vales, de Coronel Fabriciano (MG), atualmente com a bandeira da Record, será a nova afiliada da Globo na região de Governador Valladares.
BANDEIRA 2
A rede informa que a TV Leste, sua atual afiliada na área, foi descredenciada, entre outros motivos, por ter problemas de gestão. A TV Leste vai migrar para a Record. Seu diretor não atendeu às ligações da Folha.
PROMESSA
A minissérie ‘Maysa’ ainda nem começou a ser gravada, mas já desperta interesse de TVs do exterior, segundo a Globo. É que as novelas de Manoel Carlos fazem muito sucesso lá fora. ‘Páginas da Vida’ já foi vendida para mais de 20 países. Liderou a audiência em Portugal, Argentina e Equador.’
Mônica Bergamo
Cristiana Oliveira: ‘Só fica nessa de Juma, Juma, Juma!’
‘A atriz Cristiana Oliveira, 44, longe da televisão desde a minissérie ‘Amazônia’, de 2007, volta a fazer sucesso com a reprise da novela ‘Pantanal’, no SBT. Antes de sair para malhar, ela falou à coluna.
FOLHA – Como é fazer sucesso com algo que não te dá mais trabalho?
CRISTIANA OLIVEIRA – Ai, querida, é… bom, sendo sincera, é estranho porque eu não sou mais aquela menina. A Juma passou. Eu a amo de paixão, mas é passado. Eu sou tudo aquilo e 18 anos mais velha, 18 anos mais experiente. Já me incomodei porque eu pensava: ‘Pô, tô aqui ralando em outros trabalhos e só fica nessa de Juma, Juma, Juma!’. Tinha passado, mas agora voltou com toda a força. Sou chamada de Juma de novo na rua. Não desgosto, mas é como se nada mais importasse na curiosidade das pessoas, só ‘Pantanal’.
FOLHA – O que mudou na sua vida com a volta da novela?
CRISTIANA – Os sorrisos na rua mudaram, estão muito engraçados. Atores estão me ligando, a Rosa Maria Murtinho, o Sérgio Reis, a Ingra Liberato. As pessoas vêm contar: ‘Na época, eu tinha medo da Juma porque ela virava onça’.
FOLHA – Como é se ver tão menina?
CRISTIANA – Eu nem era tão menina. Tinha 26 anos, já era casada e mãe! A única coisa que sinto muita falta é da quantidade da minha juba, porque ao longo desses anos eu perdi muito, muito cabelo. Por causa do estica, puxa, pinta, corta, prende. Mas, olha: tenho uma auto-estima muito elevada, sou segura de mim, me gosto aos 44 anos, não vou ficar me comparando. Tenho saudades das fazendas, dos peões, da comida com banha de porco. Sempre voltava uns dois quilos mais gorda.
FOLHA – Uma das maiores audiências de ‘Pantanal’ é a Juma nua num banho de rio. Como é isso?
CRISTIANA – Eu fazia nu frontal, nu total. Pra mim, não tinha o menor problema. Mesmo. Nunca teve. Mas o sucesso acho que é mais pela delicadeza, pela poesia das cenas.
FOLHA – Qual foi o momento mais difícil de sua carreira?
CRISTIANA – Foi minha entrada para a TV Globo, porque na Manchete as pessoas me achavam muito mais atriz do que eu era. Cheguei de supetão na Globo e fui fazer par romântico com o Tarcísio Meira, em ‘De Corpo e Alma’, em 1992. Eu estava extremamente assustada, um bichinho acuado, entrando num lugar muito maior, mais competitivo, muito mais gente, muito mais nomes, e comecei a ser exigida como protagonista do horário nobre. A Glória Perez teve um papo comigo, disse: ‘Crica, a gente tá precisando dar uma mexida, você não está entrando no universo da personagem’. Daí fiz aulas com a Bibi Ferreira, fiz teatro, me desconstruí. Menina, a diferença era gri-tan-te. A Glória ficou superfeliz. ‘Agooora você está atriz’, ela dizia.’
Bruna Bittencourt
Série lembra viagens espaciais americanas
‘Celebrando os 50 anos da agência espacial americana, o Discovery produziu e estreou no último dia 6 ‘Grandes Missões da Nasa’, uma série de seis episódios na qual recupera a história das viagens ao espaço feitas pelos Estados Unidos. O programa Mercury, a chegada do homem à Lua e as tragédias com os ônibus espaciais Challenger (1986) e Columbia (2003) são alguns dos principais episódios da série, que traz depoimentos atuais dos astronautas envolvidos. Mas o grande mérito de ‘Grandes Missões’ é levar à televisão imagens inéditas, remasterizadas e digitalizadas, até então exclusivas da Nasa, capturadas pelos próprios astronautas ou por câmeras das naves espaciais -grande parte do áudio original nunca havia sido escutada. A série começa no início da década de 60, com a promessa pública do presidente Kennedy, em meio à corrida espacial, de que o homem chegaria à Lua até o fim da década e com a Nasa selecionando os seus sete primeiros astronautas. Em seu terceiro episódio, que vai ao ar hoje, ‘Grandes Missões’ lembra a primeira missão do foguete Saturn V, que levou três homens a alguns quilômetros da Lua, e o Apollo 11 pousando nela em 1969, como Kennedy prometeu.
GRANDES MISSÕES DA NASA
Quando: segunda, às 21h; até 4 de agosto
Onde: no Discovery; classificação indicativa não informada’
MÚSICA E POLÍTICA
A bela e as feras
‘‘Comme si de Rien n’Était’ (como se nada tivesse acontecido). Foi com o próprio título do novo disco de Carla Bruni, 40, que o jornal francês ‘Le Monde’ comentou o silêncio de sites e blogs de música sobre o lançamento do álbum.
O disco está disponibilizado na internet desde a última quarta-feira (no site oficial da cantora www.carlabruni.com, o cadastro dá direito a duas horas de audição) e chegou às lojas na sexta, rodeado de polêmica.
‘Talvez seja o melhor álbum já gravado pela esposa de um chefe de Estado’, comentou com ironia um jornalista britânico do ‘The Times’. ‘Apaixonado, mas não apaixonante’, definiu o ‘Monde’.
Na internet, sites como Pitchforkmedia (www.pitchforkmedia.com), Stereogum (www.stereogum.com) e La Blogothèque (www.blogotheque.net), tidos como referência junto à mídia especializada, não deram nem uma linha sobre o CD da atual primeira-dama francesa.
O diagnóstico é claro: Bruni parece ter perdido o respeito de boa parte da audiência depois dos passeios na Eurodisney e do casamento com Nicolas Sarkozy. No site Facebook (equivalente ao Orkut; mais popular na França) usuários criaram comunidades como: ‘Estou doando meus discos da Carla Bruni; alguém se interessa?’ ou ‘Por um boicote imediato de Carla Bruni’.
Barriga
Mas, se a cantora parece ter perdido a audiência ‘especializada’ do meio musical, sua entrada na esfera política tende a aguçar a curiosidade do grande púbico. Para além dos arranjos e composições, a vida pessoal da primeira-dama parece mais interessante aos olhos do francês médio. ‘Você está grávida?’ é a pergunta feita dia e noite pelos tablóides.
Bruni faz vender, e o sucesso do tema se estende também à imprensa de esquerda. Uma entrevista dada no final de junho ao jornal ‘Libération’ bateu recorde de vendas, apesar das várias críticas dos leitores no site da publicação.
A curiosidade geral tende a se refletir na vendagem do disco. Na internet, o CD foi escutado por cerca de 500 mil pessoas na primeira tarde. No ano passado, a mesma operação para o lançamento de ‘No Promises’, seu álbum anterior, rendeu 15 mil visitas no período equivalente.
De qualquer modo, parece difícil que o disco venha a vender tanto quanto seu primeiro álbum ‘Quelqu’un m’a Dit’ (2003): 1 milhão de cópias, que tornaram a italiana mundialmente conhecida.
Um artigo da ‘L’Express’ sugere que ‘Carla Bruni estava acostumada a contar suas vendas, mas desta vez terá de medir sua popularidade’. Segundo uma pesquisa feita pela revista, 55% dos entrevistados acham que Sarkozy ‘utiliza a esposa para o fortalecimento de sua imagem pessoal’.
Em entrevista, a cantora disse que não esperava que a recepção de seu disco pelo público fosse ‘apenas musical’ e disse estar preparada ‘para todas as reações’.
‘É uma coisa contra a qual eu não posso lutar. Eu casei com um homem que é chefe de Estado. Deveria exigir que isso não seja levado em conta? Seria muita pretensão minha’, disse ao ‘Le Figaro’.
A mulher dupla
Dez das letras de ‘Comme si de Rien n’Était’ são de autoria de Bruni. O disco contém ainda uma adaptação do romance ‘A Possibilidade de uma Ilha’, do escritor francês Michel Houellebecq, uma transcrição de um lied de Schumann (‘Je Suis une Enfant’), um standard em inglês (‘You Belong to Me’) e ‘Il Vecchio e il Bambino’, do anarquista italiano Francesco Guccini. Segundo a cantora, as letras foram escritas antes de seu encontro com Sarkozy, ainda que algumas tenham sofrido modificações.
Embora insista no fato de que o casamento não interfere em sua atividade profissional e que é possível separar suas ‘duas funções’ – cantora e primeira-dama-, o fato é que Carla Bruni não fará shows, turnês nem sessões de autógrafos. A promoção do disco ficará restrita à ida da cantora aos jornais, rádios e, sobretudo, à televisão.
‘Não posso mobilizar toda uma infra-estrutura de segurança. Para mim seria chocante. Voltarei a fazer shows assim que meu marido não for mais o presidente da República.’
Com agências internacionais’
FOFOCA NA SELVA
O barraco rock and roll de Ingrid Betancourt
‘COMO JORNALISTA, claro que meus olhos estavam atentos para o forte noticiário político-policial da semana passada. Mas o coração, confesso, estava em Bogotá e em Paris, acompanhando o formidável barraco, 100% rock and roll, em que se transformou a libertação dos reféns das Farc, entre eles a ex-senadora Ingrid Betancourt.
Assim que foi solta, Ingrid tratou de zarpar de sua querida Colômbia. Em Paris, dá entrevistas com pose de Madre Teresa, dizendo que seu futuro político depende de conversas com o marido.
Só que, na Colômbia, o maridão, Juan Carlos Lecompte, entrega: Ingrid não quer mais nada com ele. Depois de seis anos no meio do mato, ao reencontrar o marido não lhe deu nem um abraço. A razão da frieza seria uma namorada mexicana que Lecompte arrumou enquanto Ingrid penava no cativeiro.
Mas… como ela sabia da mexicana? Fofoca na selva? Ou, nas poucas horas que separaram a libertação do encontro com o marido, alguém foi envenenar Ingrid?
Bem louco, também, é o bate-boca com outra ex-refém, Clara Rojas, libertada seis meses antes de Ingrid, de quem era assessora. No seqüestro, em 22 de fevereiro de 2002, os guerrilheiros disseram que só queriam Ingrid, mas Clara fez questão de ir junto. Na selva, teve um filho, que, segundo ela, é de um guerrilheiro que acabou morrendo.
Em Paris, Ingrid ‘Madre Teresa’ andou declarando que salvou a vida do filho de Clara, Emmanuel, num dia em que a mãe, desesperada, teria tentado afogá-lo num rio. E outro ex-refém, Luis Eladio Pérez, disse que, na floresta, lavava as fraldas do moleque.
Indignada, Clara atacou os dois numa longa entrevista à rádio RCN. Disparou que Ingrid é ‘boa de teatro’, e que seu contato com ela, durante o cativeiro, era nenhum. Sobrou também -e muito- para Luis Eladio. Disse Clara que ele fazia fofocas contra ela para Ingrid.
Ouça a entrevista de Clara aqui: http://is.gd/Rmr. E divirta-se com a natureza humana.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 14 de julho de 2008
ELEIÇÕES
TRE passará regras de campanha a candidatos
‘O presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), Marcos Cezar Muller Valente, fará nesta semana reuniões com os candidatos a prefeito da capital para apresentar as regras da campanha. Eles receberão o Guia Prático do Candidato e serão orientados sobre as normas para arrecadação, aplicação de recursos e prestação de contas. Os encontros ocorrerão nos dia 17 e 18.
DENÚNCIAS
O TRE de São Paulo também está de olho nos candidatos que fizeram campanha eleitoral irregular e já colocou à disposição do eleitor um serviço de denúncias pela internet.
Por meio do sistema, qualquer cidadão pode registrar uma denúncia. O denunciante só precisa preencher um formulário disponível no próprio site, no qual indicará a localização da propaganda irregular, seu conteúdo e o nome do candidato ou do partido envolvido.
O sistema serve apenas para denúncias de propaganda em vias públicas e no comércio. O endereço do site é: www.tre-sp.gov.br.’
RESGATE
História de Ingrid causa furor em Hollywood
‘Pouco mais de uma semana depois do resgate de Ingrid Betancourt, a ‘Ingridmania’ varre o globo. A saga da ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), libertada após mais de seis anos de cativeiro, fascina a América Latina e a Europa e cria um grande interesse da imprensa nos EUA. Já estão em andamento acordos para a publicação de um livro e a realização de um filme a seu respeito.
Hollywood vê potencial para uma lucrativa bilheteria na história de Ingrid e seus exóticos subtextos: a selva, os reféns, a intriga política, os rebeldes e, evidentemente, seu dramático resgate com outros 14 reféns.
‘Mais uma vez, a vida supera a arte’, disse o roteirista e produtor Larry Gelbart. ‘Seu planejamento criativo levou ao melhor de todos os finais possíveis para um filme: o feliz.’ Art Monterastelli, escritor e produtor da HBO em Los Angeles, comparou o charme da ex-refém ao dos democratas Barack Obama e Bill Clinton. ‘Ela é inteligente, fala quatro ou cinco línguas e tem uma vida interessante’, disse Monterastelli. ‘Ela é uma estrela de rock da mídia.’
A agência Creative Artists de Los Angeles é a representante de Ingrid em todos os acordos em matéria de livros ou filmes futuros, em associação com a empresária da ex-refém, Susannah Lea, segundo afirmou uma fonte da indústria. No projeto cinematográfico mais avançado, a atriz venezuelana Patricia Velásquez adquiriu os direitos de Em busca de Ingrid, livro escrito pelo marido de Ingrid, Juan Carlos Lecompte. Os três ex-reféns americanos libertados com Ingrid, também estariam na prestes a concluir acordos para a publicação de livros.
EM PARIS
Ontem, Ingrid encontrou-se em Paris com o premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, e agradeceu-lhe pelo apoio nas negociações de paz.
LATIMES, AP, EFE E REUTERS’
INTERNET
Yahoo rejeita nova proposta da Microsoft
‘O portal de internet Yahoo rejeitou ontem a proposta conjunta da gigante do software Microsoft e do investidor bilionário Carl Icahn, um dos principais acionistas do Yahoo, de promover uma complexa reestruturação na empresa, com a venda de seu mecanismo de buscas na internet para a Microsoft.
A proposta foi apresentada na sexta-feira à tarde, e o Yahoo teve menos de 24 horas para aceitá-la ou rejeitá-la, o que demonstra que a Microsoft e Icahn não queriam entrar em uma negociação sobre os termos da oferta, afirmou o portal em um comunicado divulgado na noite de sábado.
O conselho de administração da companhia decidiu que ‘aceitar a oferta não seria o maior interesse dos acionistas’, diz o comunicado. A direção assegurou que o acordo publicitário assinado recentemente com o rival Google, líder em buscas na rede, ‘tem vantagens financeiras superiores e menos complexidade e risco do que a oferta feita pela Microsoft e por Icahn’. O acordo, avaliado em US$ 800 milhões anuais, permitirá que o Google coloque publicidade nas páginas do Yahoo.
O Yahoo alega também que a proposta conjunta da Microsoft e de Icahn, que tem mais de 4% de participação no grupo, impediria a potencial venda do portal por um preço justo que incluísse uma forma de controle. A direção do Yahoo ressalta que a oferta da Microsoft e do investidor representaria a substituição imediata do atual conselho de administração e da alta direção do portal.
‘O conselho acredita que esses movimentos desestabilizariam o Yahoo’ durante o ano que seria necessário para conseguir a autorização dos organismos reguladores da oferta, diz o comunicado da empresa. No dia 1º de agosto, uma assembléia geral de acionistas do Yahoo deve eleger os novos membros do conselho de administração da empresa.
REELEIÇÃO
Entre os conselheiros apresentados para a reeleição estão o executivo-chefe e co-fundador do Yahoo, Jerry Yang, e o atual presidente do conselho de administração, Roy Bostock. O investidor Carl Icahn apresentou uma lista alternativa para tomar o controle do conselho de administração da companhia, a fim de que façam parte pessoas favoráveis a uma negociação com a Microsoft.
Nesse sentido, o Yahoo assinala que o negócio do portal, que não inclui os buscadores, seria supervisionado pelas pessoas que trabalham para Icahn, que ‘praticamente não têm nem idéia dos negócios da companhia’.
No comunicado, Roy Bostock classificou a aliança da Microsoft com Icahn de ‘estranha e oportunista’. ‘Carl Icahn e a Microsoft apresentaram uma oferta de ?pegue-a ou deixe-a?, sob a qual teríamos de reestruturar a empresa, entregar à Microsoft nosso negócio de busca na internet e, a Carl Icahn, o resto da empresa. Tudo isso tendo de responder em 24 horas’, assinalou o presidente do Yahoo após a negociação.
‘Não faz sentido pensar que o conselho aceitaria’, insistiu Bostock, que classificou o comportamento da Microsoft e de Icahn de ‘errôneo e imprevisível, de acordo com o que se esperava da Microsoft’.
O Yahoo considera que a venda de toda a companhia seria ‘muito mais simples’ e implicaria menos riscos do que a nova oferta da Microsoft ou qualquer outra alternativa.’
PUBLICIDADE
Estagiários brasileiros levam Leão de Ouro
‘O único Leão de Ouro ganho pelo Brasil na última edição do Festival de Publicidade de Cannes, feito para a série de anúncios impressos da editora Cia. das Letras, saiu da prancheta de dois jovens estagiários.
Suzana Haddad, 24 anos, e Renan Tommaso, 26 anos, embarcaram às pressas para receber o prêmio. Até aí, nada de muito surpreendente. É comum publicitários tomarem o rumo da costa francesa somente diante da certeza da premiação. O inusitado, no caso, é que eles nem sequer tinham passaporte. Mais: não são contratados da agência AlmapBBDO, pela qual ganharam o troféu.
O sucesso da campanha, criada com a associação de elementos que se carregam nos bolsos – isqueiro, chave e bala -, foi incorporar humor e elegância no anúncio para vender uma coleção de livros de bolso. A bala aparece numa foto de Che Guevara, para falar de sua biografia. A chave surge na ilustração referente ao romance de Franz Kafka. E o isqueiro se mistura às colunas greco-romanas para o livro sobre declínio do império romano.
BATALHA
Há dois aspectos curiosos na situação desses jovens. O primeiro é a demonstração de que recém-formados podem vencer a disputa com profissionais consagrados. O outro é a comprovação de quão improvisada é a batalha para conquistar um posto na carreira.
Suzana e Tommaso, embora jovens, não são exatamente novatos na atividade. Já acumulam experiências anteriores. Mesmo assim, têm de trabalhar na condição de estagiários, prática comum nas agências, para se firmarem no mercado. E ambos asseguram que, se não fossem essas experiências, não agüentariam o pique, tal o grau de cobrança.
Suzana, que fez a criação visual das peças premiadas, passou quase um ano na agência Leo Burnett antes de conseguir um lugar na AlmapBBDO. Filha de uma designer, neta de uma pintora e bisneta de uma escultora, ela nunca teve dúvida de que seu caminho estaria na criação. ‘A propaganda é muito ampla e é também um meio de se falar de artes por meio dos produtos’, diz.
O redator Tommaso, nascido no Rio, já passou por Giovanni+DraftFCB, F/Nazca S&S e Publicis antes de desembarcar na AlmapBBDO. Atento ao que melhor se produz com base no que se publica no Anuário de Criação, Tommaso tinha seus ídolos atuando em São Paulo. Resolveu, então, deixar o conforto do Rio e encarar a mudança de cidade com a seguinte meta: ‘ os jogadores de futebol querem jogar na seleção. Eu queria trabalhar na Almap.’
Premiada e tida entre os profissionais do meio como a agência que consegue obter aprovação de clientes para peças mais ousadas, a AlmapBBDO é alvo constante dos que querem fazer carreira. Exemplos não faltam. Lygia Conde, 26 anos e que passou o último ano estagiando na McCann-Erickson, não esconde que adoraria ir para lá : ‘É difícil conseguir passar pelo funil e mostrar o seu portfólio para quem decide a contratação.’
PORTFOLIO
Suzana, por exemplo, venceu a barreira por meio de um canal que chegou ao mercado nacional este ano. No exterior, o evento Portfolio Night existe desde 2002, reunindo diretores de criação renomados de cada lugar onde é realizado, para que os jovens possam apresentar suas pastas de trabalhos.
Funciona como uma espécie de dança de cadeiras para a qual cada candidato paga uma taxa de inscrição de US$ 35 dólares. Os novatos são convidados a exibirem suas habilidades para um diretor de criação durante 15 minutos. Após esse tempo, trocam de cadeira e conversam com outro diretor por mais 15 minutos, até completarem os 45 minutos previstos.
Foi na estréia no Brasil da edição do Portfolio Night que Suzana caiu nas graças do diretor de criação da AlmapBBDO, Luiz Sanches. No início, os estagiários das agências de propaganda são supervisionados por duplas de criação mais experientes. Com a seleção de sua série de anúncios para concorrer em Cannes, Suzana e Tommaso se qualificaram para obter reconhecimento e conquistar espaço na carreira. Com o prêmio máximo, confirmaram a aposta da agência em seus talentos e já garantiram a contratação.’
TELEVISÃO
‘Tenho direito de fazer um safado’
‘Um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira, Milton Gonçalves diz ao Estado que seu grande sonho, 50 anos de carreira depois, é que parem de chamá-lo de ‘grande ator negro’. E fazia tempo que a rubrica ‘negro’ não surtia tanto efeito num trabalho seu como agora, quando ele vive o político corrupto Romildo Rosa, na novela das 9 da Globo, A Favorita. Sujeito odioso e grande conhecedor dos corredores da República, o deputado é mestre em manejar recursos públicos em proveito próprio.
Se Lázaro Ramos comemorou a excelente aceitação do ‘herói negro e gato’ Evilásio na novela anterior, Duas Caras, Gonçalves tem levado estocadas pesadas. Alguns questionam – e ao questionar já acusam o ator – se não seria desserviço à causa dos afrodescendentes, para usar um termo politicamente correto, apresentar na TV um negro corrupto. Cidadão militante, e não só da causa da igualdade racial, o ator se diz surpreendido pelo viés pelo qual o personagem vem sendo interpretado. E rebate: ‘O estranhamento não vem do fato de Romildo ser negro e corrupto, mas do fato de ser negro e poderoso.’
Logo de cara, Romildo Rosa foi definido como ‘um político negro e corrupto’. Até que ponto você acha que esse ‘negro’ é importante?
Deixa eu contar uma coisa. A história que me foi plantada na cabeça quando eu era menino é que nós viemos de um continente selvagem. Mas, de repente, comecei a descobrir que nós, negros, participamos da formação deste mundo. Ao descobrir essas coisas e ao ter a felicidade de viajar um pouco mais do que imaginei que viajaria nesta vida, fui à África. E algumas coisas mudaram na minha cabeça. Descobri que não sou um negro brasileiro, mas um brasileiro negro. Descobri que não sou africano, sou brasileiro. Então, não posso me segregar num país do qual o meu tataravô participou da construção. Não quero brigar para me segregar. Quero lutar pelo refazer a história do meu país. E refazer a história do meu país através das artes é procurar fazer todos os papéis. Romildo Rosa incomoda a sociedade branca, negra e política, não porque seja corrupto, mas porque ele é poderoso. O que incomoda é uma personagem negra ser tão poderosa na República. E o que incomoda o cidadão Milton Gonçalves é a não-aceitação desse corrupto negro, que é igual ou pior do que qualquer corrupto branco, amarelo ou vermelho. Na minha cabeça não entra que um insano venha me dizer que um personagem como esse possa, de repente, prejudicar a candidatura do Barack Obama. Isso é uma loucura. Outro insano vem dizer que é um desserviço que eu, Milton, estou prestando ao País. Outro, diz que eu poderia prejudicar candidatos negros nas próximas eleições. Se esse candidato for correto e digno, como é que uma personagem de televisão poderá prejudicá-lo? Quero ter o direito de fazer um personagem negro, corrupto, mau-caráter, safado. Não sei se ele vai se redimir, e nem me interessa. O que eu quero mostrar através do meu personagem é a infinita capacidade corrosiva do mau-caratismo e da corrupção, que pode estar em qualquer setor da sociedade.
O incômodo que Romildo causa é um preconceito ao contrário ou um politicamente correto ao extremo?
Com relação aos negros, é um preconceito introjetado. Nós, negros, muitas vezes não percebemos que praticamos o preconceito que tanto criticamos. Por outro lado, acho também que o que incomoda é que ele é um negro poderoso economicamente. Ele é um homem que sabe os segredos da Nação, negocia a podridão. Quantos deputados, prefeitos e governadores estão envolvidos em maracutaias por este país afora? É isso que incomoda: essa novela mete o dedo na ferida e quanto mais profundo for o meter o dedo na ferida, mais a novela será criticada. Um senhor deputado de São Paulo (José Cândido, do PT) disse que estou prestando um desserviço. E, ao mesmo tempo, declara que é o único deputado negro da Assembléia de São Paulo. É uma lástima. Seiscentos e tantos municípios no Estado e só um deputado negro. O personagem está ali para ser analisado, mas não pode ser desse jeito. É uma questão de analisar melhor em vez de ficar tendo faniquito.
O inacreditável é que a coisa ainda seja dividida assim, ‘candidato negro’, ‘grande ator negro’.
É uma restrição odiosa e desrespeitosa. A coisa que eu mais sonho na vida: quando da descrição de algum personagem, seja eliminada a rubrica ‘ator negro’ ou ‘atriz negra’. Quando eliminarem isso, teremos dado um salto qualitativo. Deixa eu te contar uma coisa: fiz Arena Conta Zumbi em Londres, quando meu filho Maurício morou lá. Num dia de folga, fomos ao Royal Shakespeare Theatre e, andando pelos corredores, vi uma foto de uma jovem atriz negra. Ela teria sido Ofélia, independentemente de ser negra ou branca. Vi outra foto, de um ator negro, jovem, que tinha sido Hamlet. O que eu quero dizer é que no país deles, dos ‘conquistadores’, no que eles têm de mais refinado, que é o Shakespeare, uma atriz negra é honrada pelo seu trabalho sem que se chame a atenção para o fato de ela ser negra. Já vi, em Nova York, Don Quijote de la Mancha feito por negro e por japonês. Por que no Brasil sou chamado de ator negro? Um dos meus projetos, aliás, é fazer um Shakespeare no ano que vem. Se Deus quiser.
Até que ponto você acha que o biotipo deve ser limitador para um ator?
Depende do país. Na sua origem, a Ofélia era branca, porque ali não havia ainda mulheres negras. Mas no crescer da árvore, as coisas mudam. Há muitos anos, eu estava no portão do Palácio de Buckingham e vi um soldado negro na guarda da rainha. E ele não era ‘pouca tinta’ como eu, era muita tinta mesmo. Deve ter tido problemas na vida, sofreu preconceito. Mas está inserido na sociedade. Obviamente, você procura atores para determinados personagens a partir do physique du rôle. Mas isso não pode ser limitador, ainda mais no Brasil, onde temos tantas misturas. Está lembrada quando dois gêmeos em Brasília entraram na universidade e um foi admitido pelo sistema de cotas como negro e o outro não? Você pode admitir isso? Que aberração é escolher alguém pela sua etnia? Quantos almirantes negros temos? Quantos brigadeiros? Quantos comandantes da Polícia Militar? A minha disponibilidade e defesa de personagens como Romildo Rosa é para que haja essa integração. Vamos brigar até o fim. Você alguma vez viu alguma festa com o significado, com a beleza e com a grandeza – evidentemente respeitosa -, com que se celebrou os 100 anos da primeira leva de japoneses que chegou ao Brasil? Você viu isso com algum negro? Ou foi só aquela coisa de baticum pra cá e pra lá? Não estou pedindo esmolas. O meu tataravô ajudou a construir este País e ele merece respeito.
Você está na Globo desde a fundação da emissora, há 43 anos, e sempre lutou por papéis que fossem além do estereótipo do negro. Nessa trajetória, você consegue ver o Romildo como um divisor de águas no que se refere à representação do negro na TV?
Não acho. Ele é mais um personagem. O que espanta é que ele tem poder. O Romildo despregou daquele patamar onde ele estava contido, ele foi além do que era permitido. E é isso que incomoda. Muitos daqueles que reclamam devem ter, de vez em quando, alguma similitude com o Romildo. Eu cheguei à Globo como ator, não aprendi a interpretar lá. Não é o primeiro vilão que faço. Teve um momento em que só eu fazia bandidos no cinema, e ninguém nunca reclamou. Já fiz novelas em que fui casado com brancas e com negras. Sempre procurei a diversidade de papéis – alguns não dá mais para eu fazer, porque já estou velhote. Agora, se for chamado, vou fazer todo e qualquer personagem bom – e não quero saber se é mau-caráter – porque eu sou ator em primeiro lugar.
O curioso é que na novela não se fala, em nenhum momento, sobre a etnia do Romildo e seus filhos, não se faz o tradicional discurso em torno da desigualdade racial.
Sim. E uma coisa que achei que fossem reclamar, e não reclamam, é da paixão do Romildo pela Arlete; a Alicia é apaixonada pelo Zé Bob e o meu filho, Diduzinho, é apaixonado pela Rita. Algum negro nos cerca? Não, são todos brancos. Achei que iam falar disso. E quero dizer que tenho falado para os meus diretores que faltam negros na platéia desse núcleo. Aí, eu até me permitiria dizer que você casa, se mescla, se mistura, na classe que você freqüenta. O Romildo Rosa, com toda a sua canalhice, circula numa classe onde é avis rara.
É verdade que você foi sondado pelo PMDB para assumir a Secretaria de Igualdade Racial?
É. Aventou-se essa hipótese, mas de saída eu não quis. O Edson Santos está lá agora. Mas por que ele não pode ser (ministro) da Fazenda? Da Saúde? Por que tem de ir para o departamento que vai cuidar de negros? Acho esse departamento muito estranho.
Tops da Carreira
ELES NÃO USAM BLACK-TIE (1957): Do teatro amador, ingressou no Arena, sua primeira e grande escola
A RAINHA DIABA (1974): Papel no longa de Antônio Carlos Fontoura é memorável
CARANDIRU (2003): Em 50 anos de carreira, foram mais de cem papéis no cinema
AMAZÔNIA (2007): Na minissérie da Globo, emissora que viu nascer, ele viveu Mestre Irineu’
Alline Dauroiz
CQC atinge cota
‘Programa que começou sem patrocínio, o CQC, da Band, vendeu, só neste mês, além das vinhetas que já estão no ar (Skol e Pepsi), cotas de anúncio que vão de R$ 358 mil a R$ 2,4 milhões/mês, para marcas como Colgate, Unilever e Palm.
Réplica do formato internacional, o programa é proibido de fazer o tradicional merchan na bancada – comum no Pânico da RedeTV!. Assim, sem falar uma palavra, os apresentadores participam de vinhetas, que vão ao ar entre as reportagens, e, é claro, recebem cachês.
‘Procuramos misturar as marcas com conteúdo de uma forma inteligente, que não choque o telespectador nem o formato do programa’, diz o diretor-executivo Comercial da emissora, Marcelo Mainardi.
Criadora do programa, a produtora Cuatro Cabezas também exige que os esquetes, roteirizados pelo CQC, sejam gravados na sede (Argentina), por sua equipe.
Por enquanto, a atração conta com apenas um break comercial, em 1h40 de duração. ‘É uma estratégia, até o programa engrenar. Depois da Olimpíada e das eleições, a idéia é que o CQC tenha 1h10 de duração e dois breaks de quatro minutos.’’
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