Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Ziraldo diz que cansou
de “tomar porradas”


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 17 de setembro de 2007


ALMANAQUE DO ZIRALDO
Marco Aurélio Canônico


Velhinho maluquinho


‘Ziraldo Alves Pinto é bom de papo. Às vésperas dos 75 anos -nasceu em 24 de outubro de 1932, em Caratinga (MG)-, traz às costas inúmeras profissões, passagens por veículos marcantes na cultura brasileira e uma coleção de boas histórias que se compraz em contar.


Parte desses causos está no recém-lançado ‘Almanaque do Ziraldo’, uma abrangente e ricamente ilustrada ‘biografia visual’, como definem os autores, Luis Saguar e Rose Araujo.


Editado pela Melhoramentos, o livro faz um extenso apanhado da obra do desenhista, escritor, editor, apresentador, jornalista, ilustrador, caricaturista (e muitos outros ‘ista’ e ‘or’), passando por publicações históricas como ‘O Cruzeiro’ e ‘O Pasquim’, além de sua vasta literatura infantil.


‘É o maior carinho que já recebi na minha vida’, diz Ziraldo, que também é bom de hipérboles, principalmente ao se referir aos amigos (o que faz com freqüência) e às homenagens que tem ganhado por conta da efeméride de outubro.


‘Duas pessoas cuidarem com o zelo que eles tiveram, procurarem imagens que eu nem lembrava, é tudo que um artista quer na vida. Já posso morrer.’


O ‘Almanaque’ é apenas uma das muitas homenagens que já lhe foram feitas neste ano -já teve uma grande exposição, ‘Jubileu do Ziraldo: 75 Anos de Um Menino Feliz’, um DVD, ‘Ziraldo – O Eterno Menino Maluquinho’, uma biografia sobre sua infância, escrita pelo jornalista Audálio Dantas, e ainda vai ganhar um livro reunindo 400 de seus cartazes para feiras, filmes e eventos.


‘Eu devo estar desenganado e estão escondendo de mim’, diz o autor, fazendo troça. ‘Essas homenagens todas só ganham os mortos, não os vivos.’


Turco do armazém


Ao mesmo tempo em que recebe tantas deferências, continua produzindo em ritmo incessante -só neste ano já foram oito livros, o mais atual deles o infantil ‘A Menina das Estrelas’. É esse ritmo de trabalho que, segundo Ziraldo, lhe garante a jovialidade.


‘Estou lendo um livro da Simone de Beauvoir [1908-1986] sobre a velhice e estou impressionadíssimo com o sem-número de escritores e músicos que envelheceram mal. Eu não tenho tempo de ficar velho, eu estou fazendo coisas.’


Quando se dá conta de que os 75 anos se aproximam, não é sem bom humor. ‘Só descubro que estou velho quando passo em frente ao espelho. Não me reconheço ali, nunca achei que ia ficar com essa cara de turco dono de armazém, achava que seria magrinho, de óculos, tipo um Carlos Drummond de Andrade moreno.’


Drummond é um de seus amigos que aparecem no ‘Almanaque’ -os dois se aproximaram em 1969, quando Ziraldo lançou ‘Flicts’, seu primeiro livro infantil, que ganhou recentemente o prêmio Hans Christian Andersen, na Itália.


Há muitos outros, da turma do ‘Pasquim’, como Jaguar, Fortuna e Millôr, aos mineiros do Rio, como Fernando Sabino, com quem Ziraldo trabalhou, bebeu, brigou e aprendeu.’


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‘Cansei de levar porrada’, diz Ziraldo


‘Ziraldo é bom de política. Seu engajamento, que lhe renderia três prisões na ditadura militar, já era evidente em sua primeira peça, ‘Este Banheiro É Pequeno Demais pra Nós Dois’, de 1961, e chegaria ao ápice com a criação do ‘Pasquim’, em 1969.


No ano seguinte, ele e toda a equipe do jornal seriam presos. ‘Ter podido atravessar os anos de chumbo fazendo o ‘Pasquim’ foi uma dádiva. Morríamos de medo, mas fazíamos de tudo.’


A política também lhe abriria a porta da rua no jornal: quando restavam apenas ele e Jaguar entre os fundadores, cada um com um projeto para a publicação, decidiram quem ficaria por meio de uma aposta no resultado das eleições de 1982 para governador do Rio.


Venceu Leonel Brizola, e Ziraldo, partidário de Miro Teixeira, saiu -não sem antes dar um ‘entrevistão’ intitulado ‘Ziraldo sai do Pasquim para entrar na história’.


Contra a opinião de muitos ex-colegas, ele ressuscitaria o jornal em 2002, como ‘O Pasquim 21’. Apesar de durar até 2004, o projeto se somaria à lista de fiascos em que investiu, como as revistas ‘Bundas’ e ‘Palavra’, de 1999. Depois dessas experiências, Ziraldo diz ter desistido do jornalismo.


‘Cansei de levar porrada. Eu sou o rei dos bons projetos e dos fracassos econômicos.’


Língua solta


Não apenas por seu envolvimento político, mas por seu notório desembaraço em entrevistas, Ziraldo é também um colecionador de polêmicas. ‘Eu me entusiasmo e depois tenho que me explicar’, diz.


Perdeu muitos amigos? ‘A gente passa pela vida perdendo e reconquistando amigos. Esse negócio de falar demais e depois precisar me justificar já aconteceu demais comigo.’


Ziraldo também atribui os problemas a citações fora de contexto. ‘O jornalismo atual tenta pegar o entrevistado pelo pé. O sucesso do ‘Pasquim’ foi justamente porque a gente não fazia isso, íamos bebendo e conversando e o entrevistado acabava entregando o ouro.’


A polêmica mais recente que quer desfazer é sobre sua impaciência com crianças. ‘Falei numa entrevista que não tinha paciência com criança e começou um movimento na internet reclamando. Esse pessoal é muito burro. Sei ler o olhar das crianças, tenho o maior carinho por elas, mas isso não me obriga a ter paciência, odeio levar para parquinho, quem gosta disso é chefe de escoteiro.’


Como qualquer leitor de sua obra infantil sabe, ele valoriza as crianças e diz que é por elas e por clássicos como ‘O Menino Maluquinho’ que será lembrado. ‘O Zuenir [Ventura] diz que quem escreve para criança dura mais na memória. É da natureza do livro infantil que os pais dêem aos filhos as obras que leram na infância. Então, quando você conquista uma geração, custa muito a desaparecer.’


ALMANAQUE DO ZIRALDO


Autor: Luis Saguar e Rose Araujo


Editora: Melhoramentos


Quanto: R$ 49,90 (304 págs.)’


HQ
Pedro Cirne


HQ de Moore une humor e drama


‘É difícil enquadrar em apenas um gênero a série em quadrinhos ‘Estranhos no Paraíso’, do norte-americano Terry Moore. O volume ‘Tempos de Colégio’, que está sendo lançado no Brasil, pode dar uma luz. Afinal, trata-se do passado das protagonistas da trama e de como elas se conheceram.


‘Estranhos no Paraíso’ começou a ser publicada em 1993, na forma de uma minissérie em três números que apresenta Katchoo e Francine, as personagens principais. Elas são amigas de longa data e de temperamentos opostos. Katchoo é loira, linda, auto-suficiente, rebelde e impulsiva.


Já Francine está sempre acima do peso, é insegura, doce, meiga e não tem um currículo muito feliz de relações amorosas. Ambas moram juntas, e Katchoo é apaixonada por Francine.


Essa é a base para as histórias -bem como os experimentos- de Terry Moore. Em cima da amizade das moças ele cria histórias com muito humor, drama, romance e aventura. Este número específico é um pouco triste: apresenta fatos marcantes na vida delas e como, cada qual ao seu jeito, ambas lidaram com essas questões.


Há espaço para recursos típicos de Moore. Quadrinista sem medo de inovar, ele às vezes traz páginas diferentes, apresentando sua história sobre a partitura de uma música, narrando em prosa por algumas páginas, fazendo paródias de obras pop ou brincando com os elementos tradicionais das histórias em quadrinhos.


Neste número há um capítulo em homenagem ao seriado ‘Xena’, em que Katchoo e Francine vivem a princesa guerreira e sua amiga Gabrielle.


Outro elemento sempre presente é o humor. Moore gosta de ‘invadir’ a mente de suas protagonistas e mostrar seus sonhos e medos, como o desejo de ser beijada por um homem doce, bonito e perfeito durante um baile. São inseguranças e vontades comuns: ser aceito, viver um amor ou esquecer as coisas ruins. O que faz a diferença é que eles são retratados por um artista que sabe conjugar muito bem o ato de ilustrar com o de narrar histórias.


‘Estranhos no Paraíso’ teve 106 números, que depois foram relançados em compilações contendo esses capítulos divididos em sagas. O volume que sai agora no Brasil, ‘Tempos de Colégio’, equivale ao sexto encadernado. Ele traz uma vantagem para quem não acompanha a série: Katchoo e Francine mais novas, no colégio, e mostra quando e em que circunstâncias se conheceram.


ESTRANHOS NO PARAÍSO – TEMPOS DE COLÉGIO


Autor: Terry Moore


Editora: HQ Maniacs


Quanto: R$ 24,90 (92 páginas)’


CASO MADDIE
Ruy Castro


Especulação à Sherlock


‘RIO DE JANEIRO – Em maio último, eu estava por acaso em Lisboa quando aconteceu o desaparecimento da menina inglesa Madeleine McCann, de 4 anos, em um resort turístico no Algarve. Durante os 15 dias que passei lá, a imprensa portuguesa não falou de outra coisa. A britânica, também não. Mas só agora, quatro meses depois, Madeleine está na mídia mundial.


Em quase todo esse tempo, supôs-se que ela fora seqüestrada por uma rede internacional de pedofilia enquanto seus pais, os médicos Gerry e Kate McCann, jantavam com amigos ingleses num restaurante a 50 metros do quarto onde estava a menina. Desde então, ela foi ‘vista’ em toda parte, exceto aqui no Leblon. Mas, de três semanas para cá, o foco mudou: Madeleine estaria morta desde o primeiro dia, e seus pais passaram a ser os principais suspeitos.


Para quem acompanhou o caso do começo e quase ‘in loco’, como eu, isso não é surpresa. Para muitos portugueses, os pais sempre foram suspeitos. Muita coisa contribuiu para essa impressão: a demora deles em avisar a polícia, a falta de lágrimas do casal -difícil decidir se a secura de Kate era digna de admiração ou repulsa- e o talento para gerar notícias.


Há pouco, sangue e cabelos de Madeleine foram encontrados num carro alugado pelo casal 25 dias depois do desaparecimento. Ou seja, 29 de maio. No dia seguinte, Kate e Gerry estavam com o papa Bento 16 em Roma, aos olhos do mundo. Um álibi e um dia perfeitos para que possíveis cúmplices -quem sabe, ingleses- dessem o destino final a Madeleine, talvez no mar. Mas isso é só uma especulação à Sherlock.


É preciso que os McCann sejam inocentes nessa história. Porque, se forem culpados pela morte, acidental ou não, de sua filha, estaremos diante do maior caso de simulação e cinismo do século até agora.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


No paraíso


‘A Globo já está com enviado em Mônaco, ‘foi neste paraíso fiscal e turístico que Salvatore Cacciola caiu nas mãos da polícia’. Antes, na manchete do ‘JN’, ‘Preso em Mônaco o foragido número 1 da Justiça brasileira’. Ele que ‘recebeu empréstimo do Banco Central’, com ‘prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos’. E que ‘chegou a ser preso, mas um habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, deu a ele a liberdade’. Nada de FHC.


Ontem à noite, na manchete do site de ‘O Estado de S. Paulo’, ‘fracassou a primeira tentativa de soltura’ pelos advogados. Nos blogs, Josias de Souza postou que Cacciola ‘se tornou uma figura nacional em 1999, sob FHC’, e Claudio Humberto arriscou, ele também, ‘é uma bomba que cai no colo do ex-governo FHC’.


NAS MINAS GERAIS


Na sexta, sob o título ‘Não é comemoração’, o blog de Lauro Jardim na Veja On-line postou que ‘neste momento Aécio Neves oferece almoço ao ministro Joaquim Barbosa e ao procurador Antonio Fernando’ para ‘entregar a medalha da Inconfidência’.


Sábado, com eco nos blogs, o site Consultor Jurídico deu as 172 páginas do relatório da Polícia Federal, do ‘mensalão mineiro’, que ‘está nas mãos’ do ministro e do procurador.


E NO PLANALTO


Ontem na agenda do site do ‘Financial Times’, Jonathan Wheatley postou que Renan Calheiros, com a ‘obstinação’ em ficar no cargo, ‘pode tirar recursos vitais do governo’ e ‘forçar cortes necessários’. ‘Mas não aposte nisso’, diz.


Na edição internacional da ‘Newsweek’, Marc Margolis ouviu de Fernando Gabeira da ‘intolerância crescente com a corrupção’. E deduziu, ‘onde existe desejo, existe meio de vencer a corrupção’.


‘POR FAZER’


Com os enunciados ‘Falta muito por fazer no Brasil’, na capa, e depois ‘Não vou deixar nunca a política’, o ‘El País’ fez longa entrevista com Lula -abrindo com etanol e com o aumento na renda


MAIS DO MESMO


E se amontoam os textos sobre etanol, por toda parte. O ‘Independent’ deu que um ex-executivo da Enron está levantando US$ 150 milhões para aplicar aqui. O ‘Miami Herald’ falou dos países latino-americanos que ‘correm com planos’, seguindo o Brasil que ‘saltou à frente’. O tailandês ‘Bangkok Post’ deu o editorial ‘Tornando os biocombustíveis sustentáveis’, com o Brasil de exemplo.


Já o blog ‘The Huffington Post’ deu longo post crítico aos milionários ‘liberais’ Steve Case, Vinod Khosla, Ron Burkle, Steve Bing, James Wolfensohnm, George Soros, Larry Page e Sergey Brin, por investir em biocombustíveis que ‘poderiam comer as savanas do Brasil e a Amazônia’.


CHINA E O DÓLAR


Andres Oppenheimer, do ‘Miami Herald’, se alarmou com a queda nas exportações da América Latina aos EUA. Ouviu do governo americano que é pela competitividade dos chineses. Mas o colunista admitiu, ‘ok, a queda pode ser em parte pelo dólar barato’.


MARTA LÁ LONGE


Enquanto Gilberto Kassab surgia na manchete do UOL, dizendo que José Serra vai decidir sobre sua candidatura, Marta Suplicy escreveu no ‘Asahi Shimbun’ que ‘abre braços’ aos japoneses em 2008, na Liberdade ‘querida’ da São Paulo ‘onde nasci’ etc.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo quer tornar ‘Tropa de Elite’ seriado


‘Filme que já é sucesso mesmo antes de estrear nos cinemas, ‘Tropa de Elite’ deverá virar seriado de TV. A Globo tem interesse em adaptar o longa para sua grade de programação. O produtor Marcos Prado, por sua vez, afirma que já recebeu uma proposta de um ‘canal de TV’, que não seria a Globo nem a Record, mas enfatiza que ‘está aberto a negociações’.


Dirigido por José Padilha (‘Ônibus 174’), o longa é inspirado na história de policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar), a Rota do Rio. Retrata a violência e a corrupção praticada por membros da corporação.


No longa, Wagner Moura é um capitão prestes a ter seu primeiro filho e pressionado pela mulher a deixar o Bope, enquanto tem de assumir uma missão perigosa numa favela.


‘Tropa de Elite’ ocupou o noticiário nos últimos dias por ter sido alvo da pirataria. Cópias em DVD foram vendidas a R$ 10 por camelôs do Rio.


Para minimizar os prejuízos, os produtores e distribuidores decidiram antecipar a estréia de novembro para outubro (dia 12). Antes, o longa irá abrir o Festival do Rio, no próximo dia 20. A repercussão atraiu a atenção de Harvey Weinstein (produtor americano, um dos criadores da Miramax), que o distribuirá para o mundo todo (menos América Latina e Caribe). Na semana passada, Weinstein confirmou presença no festival de cinema carioca.


FATHER AND SON


O senador Eduardo Suplicy (PT) e seu filho Supla formarão dupla no Video Music Brasil, que a MTV exibe dia 27. Os dois, além de apresentarem vencedores de um prêmio, poderão cantar. Suplicy, aliás, concorre em uma nova categoria do VMB, de vídeos da internet, por ter ‘interpretado’ Racionais MC’s no Congresso.


DILEMA


A cúpula da Record gostou do desempenho do jornalista Celso Zucatelli, que cobriu férias de Britto Jr. no ‘Hoje Em Dia’. A audiência do programa subiu um pouco. O titular volta hoje.


SUSPENSE


SBT e Freemantle ainda não chegaram a um acordo sobre a terceira temporada de ‘Ídolos’. Mas a tendência é o reality show emplacar em 2008.


ÍNDEX 1


O departamento jurídico da Rede TV! enviou sexta a todas as produções lista de 27 artistas e personalidades cujos nomes nem devem ser citados pelos programas da casa. Entre os ‘proibidos’ estão todos os Camargo (Zezé, Wanessa e Luciano), Xororó, Latino, Dado Dolabella e Luana Piovani.


ÍNDEX 2


A Rede TV! diz que não se trata de censura, mas de ‘cuidado’, porque são pessoas que estão processando a emissora e citá-las pode ser prejudicial.


MAMÃE EU QUERO


A TV Cultura, que já foi muito criteriosa com as mensagens que leva às crianças, tem exibido nos intervalos de sua programação infantil até quatro comerciais seguidos de brinquedos. Todos da Mattel.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 17 de setembro de 2007


INTERNET, BLOGS & CIA.
Alexandre Matias


A internet está cada vez mais humana


‘Uma fotologueira que recebe 120 mil visitas por semana e se tornou uma celebridade. Uma banda que só lança álbuns virtuais e tem uma legião de fãs. Um garoto que imaginou uma revista voltada para meninos adolescentes e transformou-a em realidade na web.


Quem são esses brasileiros aí ao lado que constroem a internet tupiniquim? Cada vez mais, a internet mostra a que veio: ela trouxe uma revolução tecnológica, claro, mas, mais do que tudo, é uma revolução comportamental.


Nesta edição, o Link dá exemplos de como a geração conectada está usando a rede para realizar sonhos sem depender de ninguém além delas mesmas e de seus parceiros virtuais. Você também faz parte dessa tribo?’


Alexandre Matias e Filipe Serrano


Conectadas, pessoas são protagonistas da web


‘Computadores poderosos, conexões banda larga e sem fio, celulares e gadgets de última geração. Tudo isso é importante, mas quem são os protagonistas do mundo cada vez mais conectado em que vivemos? A resposta é simples e, ao mesmo tempo, instigante. São as pessoas.


‘A web é uma ferramenta que aproxima quem está longe e facilita a comunicação entre as pessoas numa escala nunca vista. Quer mais humano do que isso?’, diz o historiador Juliano Spyer, que lançou o livro Conectado – O que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela (Zahar, R$ 39,90).


‘Antes da internet, nos comunicávamos com o telefone ou veículos como rádio, TV e jornal. O telefone serve para a interação, pois permite falar e escutar, mas a conversa fica restrita a poucas pessoas. Já o rádio, a TV e os jornais atingem grandes audiências, mas poucos falam e a maioria escuta. A web juntou os dois modelos e permitiu a comunicação entre duas, várias ou muitas pessoas’, continua.


A conseqüência é que pessoas de lugares, gostos, profissões e idades os mais diversos, que nem se conheceriam em outras épocas, podem interagir, trocar idéias e criar juntas, contribuindo, ainda que inconscientemente, para a construção da rede.


RASTRO VIRTUAL


Essa geração conectada, que usa a internet como principal plataforma de comunicação, expressão e atuação, já tem deixado, inclusive no Brasil, um rastro virtual bastante significativo.


Thiago Borbolla, conhecido como ‘Borbs’, 23 anos, criou o site Judão (www.judao.com.br) quando tinha 16 anos. ‘Sentia falta de uma revista como a Capricho voltada para moleque. Revista de homem ou era de mulher pelada, ou de carro. Sabia que tinha gente por aí sentindo a mesma necessidade’, diz.


Na internet, ele encontrou as ferramentas para preencher a lacuna. Foi o que fez . Thiago já largou três faculdades e fez da web o seu trabalho. ‘Não conseguiria fazer outra coisa. Acostumei a trabalhar do meu jeito, sem horário e escrevendo sobre coisas que adoro’, diz.


As amigas curitibanas Janara Lopes e Alicia Ayala também viram na web uma forma de trabalhar com o que gostam. Em uma conversa, surgiu a idéia de criar uma revista online de arte bimestral. Há um ano no ar, a IdeaFixa (www.ideafixa.com) tem até páginas que viram ao clique do mouse.


‘A maior vantagem da web é poder se espalhar rapidamente de forma muito fácil e barata. Impresso é legal porque é algo físico. Mas, se fosse fazer uma revista mesmo, não teria o mesmo impacto, ficaria restrito a Curitiba’, diz Janara. Para ter mais impacto ainda, elas fizeram uma versão do site em inglês e, hoje, a maioria dos visitantes é dos EUA.


Apesar de já contar com alguns anunciantes, lucrar mesmo elas ainda não lucram. ‘Dá para pagar a hospedagem do site e tomar umas cervejas’, diz Janara. O retorno é o contato com artistas que elas admiram.


Já o cartunista Maurício Ricardo, do site www.charges.com.br, consegue se sustentar pela web. E ele aproveitou a audiência que já tinha para levar adiante outro hobby: tocar na banda Os Seminovos. E, quando juntou 11 músicas, o grupo jogou na rede um álbum virtual, com capa e tudo, para quem quiser baixar e ouvir. ‘Não é guerra com gravadora, mas a gente está propondo uma discussão sobre o mercado musical’, diz.


Assim como Thiago, Janara, Alicia e Maurício, uma geração inteira já vive a internet em vez de viver ‘na’ internet. E esse novo estilo de vida não vale só para internautas mais avançados, que navegam 24 horas pelos sites mais colaborativos, escrevem para a Wikipédia ou indicam links legais em redes sociais 2.0. Se, para você, internet ainda é o trio e-mail, MSN e Google, que tal ir mais fundo?’


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‘A rede cria uma relação mais afetiva’


‘Se a internet já se consolidou como um ótimo meio para produzir conteúdo de forma mais livre, ela também trouxe uma série de problemas, principalmente para quem se tornou uma celebridade da rede.


Mari Moon que o diga. Ela, cujo nome verdadeiro é Mariana Lima, faz um dos fotologs mais visitados do Brasil. Fotolog é como são chamados os álbuns de fotografias virtuais, como um blog só de imagens autorais ou não.


‘Como tem muita exposição de imagem, as pessoas aproveitam para te criticar, xingar’, diz ela. ‘A internet tem os dois lados da moeda. Já teve gente que abriu página para tirar onda como brincadeira e, no final, pegou pesado com minha vida pessoal’, continua.


Guilherme Zaiden, de 19 anos, interpreta personagens em alguns dos vídeos mais vistos do YouTube e não chegou a ter experiências tão extremas, mas já vivenciou uma no mínimo bizarra.


‘Já vi duas meninas em cima do muro de casa me olhando’, conta. ‘Percebi que a brincadeira tinha ficado séria demais e dei um tempo’, diz ele, que não publica vídeos há quatro meses, mas prepara um novo.


Para Zaiden, isso acontece porque as pessoas se sentem íntimas de quem tem blog ou publica trabalhos na web. ‘A internet cria uma relação mais afetiva e, com isso, todo mundo o identifica como um igual’, diz.


Os blogueiros também enfrentam problemas de privacidade e tomam até alguns cuidados. ‘Tento não falar mais muito da minha vida pessoal. Deixo contato só do trabalho’, diz Beatriz Kunze, do blog sobre tecnologia e mobilidade Garota Sem Fio (www.garotasemfio.com.br).


Já para Phelipe Cruz, que faz o Papel Pop (www.papelpop.com.br), o que incomoda é a repetição de assuntos na web. ‘O ruim é que todo mundo publica as mesmas notícias. E também tem informação plantada para gerar bochicho. Mas acho que tem mais vantagens do que desvantagens em trabalhar na web’, diz ele, que escreve comentários humorísticos sobre estrelas do cinema, da TV e da música no blog.


Mesmo para bandas independentes, que colocam músicas para download sem restrição, a web cria dificuldades. ‘Nem sempre a gente ganha para fazer show e falta dinheiro para gravar disco. A música virou algo descartável’, diz Fausto Oi, baixista de uma das bandas mais acessadas do site Trama Virtual, a Dance of Days.’


Alexandre Matias


‘A internet não é para solitários e tem algo tribal’


‘‘Graças à internet, uma pessoa conversa com grandes audiências usando apenas um PC e uma conexão. Mas cada um vai aprendendo mais ou menos intuitivamente como esse novo veículo funciona. A idéia é oferecer um manual sobre como funciona a comunicação pela internet’, afirmou Juliano Spyer, em entrevista por e-mail ao Link.


O historiador não é nenhum intruso no ciberespaço. Atuante nos bastidores da rede há dez anos – quando implementou o canal de chat com convidados para a StarMedia nos EUA e, mais tarde, o canal de comunidades da America Online para Porto Rico -, ele uniu sua vivência profissional à acadêmica para elaborar seu primeiro livro, Conectado – O que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela.


Como sugere o subtítulo, o livro não é sobre tecnologia ou informática – e sim sobre pessoas, comportamento. ‘Ele se chama Conectado por causa disso. Por um lado a internet liberta, mas ao mesmo tempo ela prende, cria dependência. Muitos amigos meus, especialmente os mais jovens, entram em transe quando estão conectados. Eles falam ao telefone, conversam pelo MSN, lêem e respondem e-mails e ainda ficam navegando pela rede lendo notícias’, explica.


Continua: ‘Kevin Kelly, fundador da revista Wired, diz que a internet é o primeiro experimento de inteligência artificial bem-sucedido da história e que o destino da nossa espécie é nos tornarmos parte desse novo organismo. Para ele, não importa se queremos ou não mudar. Logo seremos parte de um Matrix e as pessoas vão preferir usar o Google a usar suas memórias. Mas outras pessoas vêem a internet de maneiras diferentes.’


Spyer rebate a crítica de que a rede seria individualista e sectária. ‘O blog, por exemplo, é uma manifestação completamente individual, mas não tem sentido sem a blogosfera, sem links para blogs que tratam de assuntos semelhantes’, diz.


Segundo ele, ‘o blog é uma ferramenta individual para reduzir o ruído. Em ambientes como fóruns e murais de mensagem, sempre aparece alguém para provocar, fazer bagunça. Esse ruído quase não afeta o blog, pois ele é descentralizado. Cada um tem o seu. Mas cada pessoa escreve estabelecendo diálogos com outros, comentando posts e notícias e exercitando o debate e a reflexão. Isso não tem nada de solitário’.


Pelo contrário: para Spyer, a internet, em diversos aspectos é ‘tribal’. ‘Muitas pessoas oferecem de graça na rede informações pelas quais cobrariam em outras situações. E fazem isso para ganhar reputação e serem ajudadas quando precisarem. Esse tipo de comportamento é tribal, familiar’, diz.


Conectado, como se espera de um livro sobre a internet, tem uma ‘continuação’ online, no blog www.naozero.com.br, onde vários conceitos são aprofundados utilizando a linguagem e os recursos da web. ‘Lá tem uma nuvem de ‘tags’, por exemplo. O blog também permite que pessoas interessadas no assunto troquem idéias entre si e comigo’, diz.


A versão papel é mais voltada para todos os tipos de leitores: ‘O desafio foi manter o foco no leitor não-especializado, que pode ser o menino recém-alfabetizado e também o doutor, passando por profissionais de todas as áreas e níveis de instrução.’


‘Preocupei-me em não escrever um livro acadêmico com a pretensão de entender ‘o fênomeno da internet’. E também não quis fazer algo panfletário, alardeando a idéia de que a internet seja a resposta para os problemas do mundo.’’


***


Sem férias, a regra é estar 100% online


‘A internet, devido a um conjunto de características, faz as informações perderem valor muito rapidamente. Por isso, um dos princípios para manter um internauta fiel ao site é publicar conteúdo novo constantemente. E como fica o lado humano da história? Será que uma pessoa sozinha consegue deixar um trabalho pessoal sempre atualizado?


Maurício Ricardo, do site Charges.com.br e da banda Os Seminovos, já sentiu na pele o peso do trabalho virtual. Ele conta que teve uma crise depressiva e foi obrigado a fazer meditação.


‘Na internet, eu preciso matar um leão por dia. É um universo facilmente obsoleto com um público muito disperso. Isso provoca um cansaço mental enorme, mas mesmo assim, não troco por nada’, diz.


Ricardo diz ter conseguido balancear sua vida. Antes não tirava férias, mas agora sai de cena três semanas por ano para descansar. ‘Mas é uma semana de cada vez. Corro para adiantar o trabalho e coloco o site para atualizar automaticamente’, diz.


Quem ainda não tira uma folga é Thiago Borbolla, do Judão. Desde 2005, ele não larga o osso nem durante o período de réveillon. ‘No fim de semana, tento ficar longe do computador, mas, se vejo um, dou sempre uma olhada se está tudo certo com o site’, conta.


Mesmo assim, ele afirma que não sente ansiedade ou obrigação de publicar novos textos a todo instante.


Phelipe Cruz, do blog Papel Pop, diz que está ocupado até o pescoço porque, além do seu diário, foi convidado para contribuir para outros blogs e ainda trabalha como editor do site da revista Capricho. ‘Não posso perder a audiência e virei escravo dela. Publico uns nove posts por dia, mas consigo descansar graças às atualizações programadas’, diz.


Segundo Phelipe, os usuários dão mais valor para a informação fragmentada e os posts recebem mais comentários quando só têm uma foto e poucas linhas de texto. ‘Se escrever seis parágrafos, ninguém dá atenção. O segredo é fazer pílulas de notícias mesmo’, diz.


Para Mari Moon, que tem um fotolog famoso, os internautas esperam novidades a cada minuto na web. ‘Sinto que preciso publicar fotos sempre, o que acaba se tornando uma rotina’, diz.


Resultado: tem momentos em que Mari chega a perder a criatividade e precisa dar um tempo.’


Rodrigo Martins


Geração ‘tudo ao mesmo tempo’ quebra paradigmas


‘Estamos na geração do ‘tudo ao mesmo tempo’. Se os jovens, historicamente, sempre foram curiosos e buscaram mais e mais informações, com a multiplicação das opções da revolução digital – incluindo no balaio não só a internet, mas o celular e outras traquitanas – a mídia saiu do controle de uma meia dúzia de grandes conglomerados e, hoje, está nas mãos dos próprios usuários.


E a galera que conheceu a internet desde cedo ou que, literalmente, cresceu com ela, faz uso intensivo de recursos como blogs, serviços de compartilhamento de arquivos, sites de comunicação pela rede, etc. Grande parte dos recursos que estão no infográfico aí embaixo são usados ao mesmo tempo e sempre.


‘Se antes a televisão era quem reinava no centro das atenções, hoje isso está muito mais disperso na vida dos jovens’, explica o pesquisador do Ibope Inteligência José Calazans. ‘Esse público, hoje, tem muito mais opções de acesso à informação do que em qualquer outro momento da história. E ele quer ter controle sobre o que vê e a hora em que vê.’


Mas essa relação ao mesmo tempo intensa e dispersa acaba fazendo com que os jovens tenham uma visão muito fragmentada da mídia, afirma Ana Maria Brambilla, pesquisadora em comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


‘Essa geração não absorve tudo por completo. Não dá para entender toda a informação que recebem. O que acontece é que, cada vez mais, perdem a paciência por textos longos, como os de jornais e revistas. Tudo tem de ser curto, como um SMS do celular ou uma mensagem curta do Twitter’, diz Ana Maria.


Essas transformações nas formas de comunicação e de relação com a mídia, entretanto, não são apenas fruto da tecnologia, mas da própria mutação de valores pela qual a geração atual está passando, afirma Andréa Nolf, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP.


‘Não é apenas uma questão de evolução da internet’, diz Andréa. ‘Essa geração busca mais autoconhecimento, proximidade com a família, paz, transparência… E isso se reflete na web. A rede não se desenvolve sozinha, mas por pessoas que criam sites, blogs, etc., de acordo com o que desejam.’


Para Andréa, uma das coisas a que os jovens de hoje se acostumaram é que nada mais ‘é’, tudo ‘foi’. ‘Em um curto período de tempo, eles viram vários paradigmas sendo quebrados’, explica. ‘Instituições há muito estabelecidas, como a dos direitos autorais e a da centralização da mídia, já caíram. E eles presenciaram isso. Para eles é normal ver tudo o que antes existia acabar, sofrer uma mutação.’


É por isso que, para ela, os jovens estão na vanguarda da disseminação das transformações que a web está carregando.


Uma das mudanças dessa geração é quanto à questão de direitos autorais, o sempre polêmico assunto de pirataria. ‘Os jovens de hoje têm uma cultura de gratuidade muito grande. Não querem pagar por informação, por filmes, músicas, etc.’, diz Calazans. ‘A própria indústria terá de se acostumar com essa questão de direitos autorais. É um dos dogmas que os jovens já derrubaram’, diz Andréa.


Outra mutação é na forma como se informam. Hoje, para os jovens, não há mais receptores. O processo de comunicação se dá em mão dupla: transmissão e recepção direta, pela web. Seja por blogs, fotologs, sites de colaboração, como o Wikipedia ou o Digg.


‘Os jovens que criam blogs, por exemplo, têm o ideal de virar celebridades, ganhar reconhecimento. Para eles, aquela mídia antiga, inalcançável, já não existe mais. As gerações antigas queriam se ver na TV e não podiam. As novas, pela internet, podem’, diz Ana Maria.


E por meio de blogs como esses, por exemplo, se formam comunidades de leitores/publicadores. ‘O jovem está muito preocupado em participar de uma comunidade virtual, com pessoas que compartilhem dos mesmos gostos’, diz Calazans. ‘Ele confia muito mais nos membros desse grupo do que em jornais, por exemplo. Por isso busca informações em blogs.’


E o que podemos esperar dos membros dessa geração quando eles crescerem, partirem para o mercado de trabalho e se tornarem pais? ‘Em 15 anos, quem nasceu com a internet deverá perder a distinção do que é offline e online’, diz o historiador Juliano Spyer. ‘Para eles, estar na internet será tão normal como falar ao telefone. Brincar no pátio com os amigos será o mesmo do que em um game pela internet com amigos virtuais do Japão. Para esse grupo, a vida online e a offline serão complementares, sem separação.’’


Pedro Doria


Uma compra, mil cópias


‘Na última vez em que o prezado leitor fez uma compra online, registrou endereço, número de cartão de crédito, CPF, quiçá data de nascimento e documento de identidade. Na loja eletrônica onde foi realizada a compra, ao menos uma vez por dia é feita uma cópia desses dados, que é armazenada em discos rígidos ou em fitas e devidamente guardada. É o backup.


Nas contas de Jeff Jonas, da IBM, no fim de um ano os dados daquela única compra terão sido copiados milhares de vezes. Fitas de backup costumam ser bem guardadas. Mas, um dia, cai uma do caminhão. Quanto mais cópias são feitas de seus dados, maior a probabilidade de que um hacker – ou um acidente – faça com que eles vazem.


Não é só o backup que produz cópias. Se a loja online acaso tem um catálogo de papel, o que não é raro, ela pode decidir distribuí-lo por correio para seus principais clientes. Então é preciso produzir uma cópia parcial dos dados – nela não entram dados bancários, mas entram nome e endereço – e lá surgiu um novo banco de dados com seus dados que, diariamente, semanalmente, ganhará suas próprias cópias de segurança.


Há outros motivos para empresas copiarem parcialmente aquela entrada no banco de dados onde consta a única compra do prezado leitor. Para análise estatística, por exemplo, que indique o que mais compram todos os clientes que encomendaram o último Harry Potter. E lá está um terceiro banco de dados – e, com ele, mais uma penca de backups.


Programas de auditoria produzem cópias de bancos de dados. Se a loja online é de porte graúdo, por certo tem muitos servidores funcionando concomitantemente – e muitas cópias dos dados dos clientes para agilizar o acesso deles ao próprio histórico. Muitos servidores, muitas cópias e a ilusão de que o site é muito, muito rápido para quem vasculha a janela da loja, do outro lado do browser.


A essa altura, a idéia está clara. Ao fim de um ano, não é impossível que uma única compra numa loja virtual gere algo como um milhão de cópias distintas das mesmas informações pessoais. E, como já foi dito, quanto maior o número de cópias, maiores as possibilidades de que tudo seja feito público.


O raro ludita que por ventura leia cá este Link pensará consigo, ora pois, ‘ainda bem que nada compro online’. Só que evitar o uso da internet não adianta muito. Quem entra numa loja de departamentos, compra algo que gera uma nota fiscal e paga com o cartão de crédito terá gerado, simultaneamente, duas entradas em dois bancos de dados distintos. Um da administradora de cartões; outro no sistema da loja que produziu a nota. Se bobear, no caso de o computador comprado ter garantia, a mesma e única compra vai gerar informação para um terceiro banco de dados, da HP, Dell ou Apple da vida.


E, com isso, entram lá os backups, os sistemas de auditagem, os bancos de malas diretas – cartões de crédito geram malas diretas infinitas, todos o sabemos – fazendo com que, no fim, o mesmo milhão de cópias de informações pessoais tenha sido criado. Isso sem qualquer loja virtual no jogo.


(Não, deixar de usar cartão de crédito tampouco é solução. O cheque será devidamente computado no banco. Operar com dinheiro vivo e abrir mão de notas fiscais – nem sempre possível– e garantias– raramente aconselhável – é a única coisa que resolve.)


O jeito é convivermos com o mundo como ele é. Isso quer dizer, por exemplo, estar consciente de que não são apenas informações financeiras e relativas a endereço e identidade que são armazenadas em computadores. Inclua-se na lista, por exemplo, dados médicos – sejam do hospital ou do laboratório. Viagens de avião – idem.


Somos mapeados constantemente. Temos a impressão de que certos dados são particulares – mas isso é ilusão pura. Na verdade, nossos endereço, números de identidade e CPF, conta bancária ou cálculo renal são públicos, acessíveis por empresas várias usando métodos diversos.


Lutar pela privacidade? Besteira, ela não existe. Importante é estar ciente de como o mundo funciona.’


Rodrigo Martins


Em alto-mar e em plena internet


‘No meio do mar, a milhas de distância de qualquer sinal de terra, dois velejadores encharcados, a bordo de um catamarã, comunicam-se com o mundo. Abrem o notebook blindado contra quedas e água, posicionam a antena receptora de internet via satélite, e, tranqüilamente, batem papo via Skype com as suas respectivas namoradas, que ficaram em solo firme.


A cena pode parecer um tanto estranha. Mas não para os aventureiros Roberto Pandiani, de 50 anos, e Igor Bely, de 24. Amanhã, os dois darão partida a uma expedição que os levará, no veleiro Bye Bye Brasil, até a Austrália. Serão 9 mil milhas percorridas pelo Oceano Pacífico a partir do Chile. E tudo com muita tecnologia.


Os artefatos hi-tech vão desde localizadores GPS até iPod, notebook, celular e, vejam só, a comida. ‘A refeição será liofilizada (alimento em que a água é drenada). Ela fica com 30% do peso. Depois, é só jogar água quente para ter um frango cozido, por exemplo’, diz Pandiani. A água doce será obtida por um dessalinizador manual.


Quanto ao arsenal digital, ele não estará no barco à toa. ‘Tudo o que levaremos é essencial’, diz Pandiani. Toda a viagem poderá ser acompanhada pela web, TV e rádio. Pelo site www.yahoo.com.br/travessia, por exemplo, os dois publicarão, diariamente, textos, fotos e vídeos. Daí o notebook, a câmera fotográfica e a filmadora.


Bely é quem fará os cliques e os vídeos. Haverá uma fotógrafa e um cinegrafista profissionais em alguns momentos, mas em terra firme. ‘Farei cenas do cotidiano, como a preparação da comida e a subida do mastro.’


A viagem também renderá boletins para a Rádio Eldorado FM, gravados via celular, e reportagens para o Esporte Espetacular, da Rede Globo. ‘As pessoas poderão participar da experiência’, diz Pandiani. ‘Se ela não fosse registrada, seria como se não tivesse ocorrido. Ficaria só para mim, na memória.’


E para transmitir esse material só de um jeito: via satélite. A viagem terá longos dias em alto-mar, sem paradas em terra. Por isso, o notebook receberá o sinal da web via satélite. O celular também funcionará assim.


‘É a primeira vez que usamos a web a bordo’, diz Pandiani, que já faz travessias do tipo desde 1994. E há uma agravante: não há cabine no barco – eles ficarão expostos a Sol, chuva e água, muita água. ‘Será preciso um tempo de adaptação. No começo, acho que ficaremos enjoados ao usar o notebook.’


Além de mandar conteúdos, a tecnologia também será uma aliada na navegação. Pela web, eles terão acesso à previsão do tempo. ‘Se houver uma tempestade, é muito melhor saber quatro dias antes do que na hora’, diz Pandiani. E localizadores GPS – serão três, para não correr o risco de ficar sem por defeito – mostrarão a rota da viagem.


Haverá ainda um dispositivo de segurança, carregado por cada um dos dois no bolso da jaqueta. ‘Se houver um acidente, basta apertar um botão que a Marinha é automaticamente avisada para o resgate’, diz Pandiani.


E como ninguém é de ferro, eles também pensam em diversão. Serão 160 dias em alto-mar. ‘E sempre há momentos de tédio’, diz Pandiani. Por isso, levarão um iPod com 14.505 músicas. Com uma caixinha de som externa, ouvirão reggae, forró e música clássica.


Mas a água não irá danificar as traquitanas? ‘Usaremos caixas e malas estanques, que protegem os aparelhos’, diz Pandiani. ‘Os eletrônicos podem até cair no mar. Não entra água.’


Outro problema: como terão energia para alimentar os aparelhos? O barco contará com painéis de energia solar e um dínamo que, com o movimento da água, roda e gera corrente elétrica. Com isso, será possível carregar baterias.


Isso não significa dizer que poderão usar sempre os eletrônicos. ‘Como dependemos de elementos exteriores, como o Sol e a velocidade do vento, não temos como prever se conseguiremos sempre gerar energia. Em um dia nublado e sem vento, por exemplo, não dá’, diz Bely. ‘Fiz cálculos: vamos usar tantas horas por dia o notebook, o iPod, a câmera, etc., com a preocupação de poupar a bateria.’’


MÍDIA & POLÍTICA
Lauro Lisboa Garcia


Caetano reclama de Gil e critica FHC


‘SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO – Era para ser um ‘anticlímax’ a fala de Caetano Veloso, como ele próprio antecipou, no seminário Os Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e Salvaguarda, que marcou a inauguração da Casa do Samba, no fim de semana, em Santo Amaro da Purificação (BA), terra natal do compositor. No entanto, rebatendo observações do antropólogo Hermano Vianna, Caetano acabou atraindo maior atenção para sua participação, que encerraria o evento.


O filho de dona Canô, que estava na cidade principalmente para comemorar os 100 anos da matriarca da família Viana Telles Veloso, ocorrido ontem, criticou a pirataria, a entrevista do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à revista Piauí, a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (‘uma vergonha’), o projeto de nova reforma ortográfica da língua portuguesa. E terminou cobrando do ministro da Cultura Gilberto Gil, presente ao evento, um maior cuidado em defesa dos direitos autorais.


Caetano elogiou um dos aspectos da gestão do ministro – como o que ele chama de ‘licença alternativa’ diante das propostas novas decorrentes da evolução tecnológica, vista pelo ministro como um ‘conjunto de benefícios novos para divulgação’ de obras artísticas -, mas ressalvou: ‘É bacana, mas também temerário você afirmar isso como ministro, que é também produtor de cultura. Chega num ponto em que o ministério deveria agir nessa questão com mais cuidado. Porque o estímulo a esse negócio cria uma sensação de vale-tudo.’ Gil rebateu dizendo que está preparando ‘uma discussão profunda com a sociedade’ e organizando o Fórum Nacional do Direito Autoral.


Caetano emendou em seu discurso uma crítica a Fernando Henrique, que disse à revista Piauí não gostar de paradas cívicas porque os brasileiros não sabem marchar, sambam. ‘Achei um lixo essa entrevista, não gostei do tom dele, superior. É um tom chato que vem dessa área de São Paulo de se meter na política via intelectualidade. Na verdade isso ainda vem na eleição de Lula’, prosseguiu.


Criticou também a absolvição de Renan Calheiros. ‘Eu acho uma vergonha. Sou da classe média, filho de um homem honrado.’ Caetano disse que não gosta de dinheiro, mas também é contra os regimes comunistas (‘uma porcaria’). ‘Eles nunca passaram pela experiência que nós temos, que é a glória da liberdade.’


IMPRENSA


Caetano falou que pensa em parar de dar entrevistas, irritado com o fato de ser alvo de sites de fofoca e de insistentes câmeras fotográficas. E mostrou-se indignado com os excessos do batalhão de fotógrafos e câmeras de tevê, que não deram trégua a dona Canô durante a missa realizada ontem de manhã em homenagem a ela na Igreja de Nossa Senhora da Purificação.


Algo semelhante já tinha ocorrido em outra missa no sábado, quando chegou à cidade a imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente do padre Josafá Morais à cidade. As duas missas tiveram momentos de grande comoção, com a filha Maria Bethânia cantando Romaria, de Renato Teixeira, no sábado, e Maria, do neto de Canô Jota Velloso, ontem. Sempre sorridente, dona Canô foi homenageada também pelos Correios (numa estranha e inadequada cerimônia dentro da igreja), que vão lançar um selo comemorativo de seu centenário com uma foto dela.


Apontada por várias conterrâneas como exemplo de dignidade e bem-viver, ela permaneceu até perto de 13h30 numa tenda armada na frente da igreja para receber os cumprimentos da população que já vem há meses festejando a data antecipadamente.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Gays rejeitam trilha


‘Quando resolveu colocar personagens homossexuais na novela Caminhos do Coração, a Record já imaginava que enfretaria polêmica. Pois aí está ela: vários sites e blogs na internet ligados a grupo de gays e simpatizantes estão protestando contra a música escolhida na trama como tema do personagem gay Danilo (Cláudio Heinrich). A trilha em questão é Robocop Gay, sucesso dos Mamonas Assassinas.


O protestos seriam pelo tom caricato da música, que, segundo alguns, soa como ofensa sendo tema de um personagem de novela. As reclamações já chegaram à Record, mas o autor Tiago Santiago garante que são casos isolados.


‘Eu participei da escolha da música. Ela é engraçada, divertida, como tudo o que os Mamonas faziam, mas não é homofóbica nem preconceituosa’, defende Santiago. ‘A princípio, a música não deve mudar. Acho difícil alguém nos convencer de que ela é politicamente incorreta. É uma brincadeira. Sua presença na trilha homenageia o humor dos Mamonas.’


Tiago ainda espera que a novela alcance audiência entre 15 e 20 pontos. Caminhos do Coração registra atualmente 11 pontos de média.


entre-linhas


O novo programa de Xuxa deve estrear em janeiro e vai ao ar aos domingos.


A Globo montou operação especial para disponibilizar na Espanha uma assinatura temporária de 15 dias do canal internacional, em nome da visita do presidente Lula a Madri. Assim ele conseguirá acompanhar todos os telejornais em tempo real, além da programação esportiva e de outras cenas da TV Globo.


Como na Europa a Globo Internacional funciona como uma operadora, isto é, com decoder próprio, foi preciso acionar todos os agentes da Espanha para que a instalação no Hotel Westin Palace fosse realizada antes da chegada do presidente.


Já é certo na Globo que se audiência não subir, Toma Lá Dá Cá não vira 2008 no ar. O seriado estreou com 31 pontos de ibope, caiu para 26 e agora, não passa dos 23 pontos.


O GNT prorrogou as inscrições para o seu Pitching, concurso que seleciona novos programas para o canal. O prazo agora vai até o dia 21.


Janete Clair será homenageada no 5.º Congresso Mundial da Indústria da Telenovela e Ficção, em Madri, no mês que vem. Doutor em telenovela, Mauro Alencar fará palestra sobre a novelista, com foco em Selva de Pedra, que ele adaptou em livro.


Aliás, o livro Selva de Pedra foi alvo de negociação entre a Globo e a família de Janete Clair. Agora, está liberado.’


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