Observatório da Imprensa – O relatório preliminar da CPI da Vale na Câmara aponta uma diferença de valor referente ao repasse da CFEM por parte da Vale de R$ 3 bilhões no período de dois anos. A Vale reconhece este valor?
Vale – Não. Por isso discute administrativa e judicialmente com o DNPM.
Segundo o mesmo relatório, a Vale teria usado suas subsidiárias para emitir Notas Fiscais em valores menores resultando em repasses menores em termos de royalties. O que a empresa tem a dizer sobre esta acusação?
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– Vale e minério dominam economia, mas cobertura é esparsa e burocrática;
Vale – Esta informação não procede. A Vale segue estritamente o que dispõe a legislação federal aplicável à venda a empresas ligadas e é constantemente fiscalizada pela Receita Federal. Esta questão foi apresentada pelo Município de Parauapebas, ao Ministério Público, que concluiu pela inexistência de irregularidades.
É verdade que a empresa está em negociação intermediada pelo DNPM para pagar esta diferença apontada pela CPI?
Vale – Não. A empresa efetuou recolhimento extraordinário de CFEM, em decorrência de consulta que apresentou ao DNPM, em 2014. A empresa propôs a adoção antecipada da jurisprudência do STJ, o DNPM concordou; a empresa efetuou o recolhimento devido e o DNPM se comprometeu a reduzir as cobranças excessivamente efetuadas, adotando os precedentes do STJ.
O que a Vale pretende fazer quanto ao trabalho da CPI?
A Vale vem fornecendo todos os esclarecimentos necessários à CEI, desde a sua instalação.
Vale – Depois da divulgação do relatório preliminar, os vereadores aprovaram uma prorrogação de 180 dias para finalização dos trabalhos, o que levará a CPI a um prazo de quase um ano de funcionamento e que coincide com as eleições municipais. Existe alguma relação entre uma coisa e outra?
Esta pergunta dever ser direcionada à Comissão.
A Vale pretende negociar estes valores de royalties cobrados pela prefeitura de Parauapebas como fez em Mariana e em outros municípios de Minas Gerais onde tem unidades de negócio?
Vale – Não. A Vale não negociou valores de royalties com os municípios mineiros. Os pagamentos extraordinários foram realizados a partir de janeiro de 2016, com base na consulta apresentada ao DNPM em 2014 e para todos os municípios em que empresa atua, inclusive Parauapebas (R$ 26,2 milhões, dos quais o município recebeu 65%)
Como é a relação da Vale com a imprensa local em Parauapebas?
Vale – A Vale mantém uma relação transparente, cordial e profissional com a imprensa de Parauapebas, buscando pautar os veículos sobre assuntos que despertam o interesse público e permanecendo à disposição para esclarecer fatos e temas relacionados às suas operações. Os contatos são diários. Regularmente, também realizamos visitas às redações dos veículos e da imprensa às nossas operações.
A cidade tem muitos veículos impressos e aos poucos surgem sites, blogs. Eles estão no radar da comunicação da empresa?
Vale – Sim. Todos os veículos de imprensa, sejam jornais impressos, sites, rádios ou TVs, recebem o mesmo tratamento da Assessoria de Imprensa da Vale. Nenhum veículo fica sem retorno. Do ponto de vista de publicidade, todas as mídias são consideradas no planejamento da empresa.
A Vale já teve algum problema ou mal-estar com a imprensa de Parauapebas ou com algum jornalista da cidade?
Vale – Não. A atuação da Assessoria de Imprensa é pautada pela ética, transparência e diálogo. Respeitamos o trabalho dos jornalistas, entendemos o papel estratégico da imprensa e procuramos atendê-los com rapidez e da melhor forma possível.
Em 2015, por exemplo, na Regional Pará, realizamos uma média de 110 atendimentos à imprensa por mês. Durante todo o ano, de janeiro a dezembro de 2015, mais de três mil matérias foram publicadas sobre a Vale no Estado considerando os veículos clipados.
No plano de negócios da empresa para a região, qual o orçamento previsto para anunciar nos veículos locais?
Vale – Essas informações são estratégicas, portanto não estão disponíveis para consulta.
Quais os veículos são prioritários?
Vale – A empresa considera todos os veículos em sua análise e planejamento de publicidade. No entanto, a empresa sempre leva em consideração o objetivo da campanha e o público-alvo.
Com a queda do preço do minério de ferro, a Vale deve ter diminuído custos. Houve algum impacto disso no investimento em publicidade nos jornais locais?
Vale – A situação de mercado influenciou, sim, o montante de investimentos da Vale em publicidade.
Revendo as edições de algumas publicações parece que Vale e imprensa estão sempre numa relação de amor e ódio. A oposição dos jornais está relacionada ao tamanho da verba em publicidade repassada pela empresa para eles? Ou não tem nenhuma relação?
Vale – A Vale entende que o bom jornalismo é aquele que leva em consideração a imparcialidade da notícia, que considera, por exemplo, ouvir todos os envolvidos em um fato, independentemente de anúncios e/ou verbas publicitárias. É importante ressaltar que os profissionais que trabalham na Assessoria de Imprensa da Vale não são os mesmos que atuam no processo de relacionamento com os departamentos comerciais dos veículos.
Com o novo projeto de Canaã dos Carajás, a imprensa de Parauapebas parece um pouco ressentida. A Vale tem noção disso? Como tem agido na condução destas duas unidades de negócio?
Vale – Primeiramente é importante esclarecer que o Projeto Ferro Carajás S11D faz parte do planejamento estratégico da Vale e é considerado o maior empreendimento da empresa e da indústria da mineração. Todo o material da empresa referente ao negócio – sugestões de pauta, press releases etc. – estão disponíveis para todos os jornalistas que procurarem a empresa ou que consultarem os nossos canais de comunicação (site, mídias sociais e Sala de Imprensa). A empresa também realiza visitas de jornalistas para conhecer o empreendimento sem qualquer distinção de veículo ou origem (local, nacional e internacional).
E por falar em Canaã dos Carajás, quando o novo projeto começa a operar de fato?
Vale – A previsão de início das operações do S11D é no segundo semestre de 2016.
Quantas pessoas atuam na área de comunicação da Vale na região? Qual a orientação no atendimento à imprensa local? Existe alguma diferenciação entre os locais e a chamada grande imprensa?
Vale – A gerência de Comunicação da Vale tem profissionais especializados em cada processo de comunicação – interna, externa, publicidade, visitas, eventos e patrocínios. Os jornalistas recebem atendimento dedicado feito por uma equipe de assessores de imprensa preparados para atender a todo tipo de demanda. A empresa não faz qualquer distinção entre jornalistas seja de origem ou tamanho do veículo.
Um jornalista entrevistado por mim afirmou que a Vale não toma conhecimento dos veículos locais. O que a empresa tem a dizer sobre isso?
Vale – Essa informação não procede. Além de não fazer qualquer distinção entre jornalistas, seja de origem ou tamanho do veículo, a empresa respeita os profissionais e procura colaborar da melhor forma possível para que o “consumidor final da notícia”, que também é um importante stakeholder para a Vale, seja beneficiado com informações claras e de qualidade. Nos casos de publicidade, conforme respondido anteriormente, a empresa considera todos os veículos no planejamento, no entanto, sempre leva em consideração o objetivo da campanha e o público-alvo.
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Carolina Marins, Cauê Félix e Letícia Fuentes são alunos da disciplina de Ética na Graduação em Jornalismo, na Escola de Comunicação e Artes (ECA) , da USP