Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Como as pessoas usam celulares para acessar notícias na Web

O texto que publicamos a seguir é um resumo da pesquisa realizada pela Fundação Knight sobre consumo de notícias via equipamentos móveis nos Estados Unidos.  Apesar dos dados serem relativos ao contexto norte-americano, decidimos reproduzir o documento devido à importância adquirida pela veiculação de notícias por smartphones e tablets também aqui no Brasil.  A análise dos números e tendências  pode servir de orientação para estudos similares na nossa realidade.

As rápidas mudanças na tecnologia deixaram as organizações jornalísticas brigando para administrar como as notícias são criadas, consumidas e distribuídas. As pessoas já haviam passado a acessar as notícias pelos desktops e laptops e agora o fazem pelo onipresente smartphone.

Desde 2011, o índice de proprietários adultos de um smartphone nos Estados Unidos aumentou de 46 para 82% e está chegando ao ponto de saturação entre alguns grupos etários. Apenas nos últimos dois anos, o consumo de informações por aparelhos móveis individuais cresceu com muita rapidez. Na realidade, 89% da população móvel norte-americana (144 milhões de usuários) acessam, atualmente, notícias e informações através de dispositivos móveis. Uma vez que as organizações jornalísticas procuram administrar de uma maneira melhor essa transformação digital através de plataformas, do envolvimento com sua audiência e mantendo-se competitivas, o que deveriam então compreender sobre a mudança de comportamento de suas audiências para o acesso à informação através de dispositivos móveis? E como estão essas variadas audiências abordando o acesso às notícias e informações por dispositivos móveis?

Este texto, dividido em duas partes e extraído de uma pesquisa personalizada realizada pela empresa Nielsen e encomendada pela Knight Foundation em setembro de 2015, começa por investigar várias descobertas importantes e, em seguida, analisa como grupos específicos de pessoas usam plataformas móveis distintas para acessar informações.

Eis o que mostram as descobertas:

– Existe uma audiência considerável para informações por dispositivos móveis. Quase toda a população adulta de usuários consome notícias nesses dispositivos móveis e um maior número de usuários passa parte de seu tempo em plataformas sociais.

– Embora, em média, os usuários de dispositivos móveis só passem 5% de seu tempo com o noticiário, esse tempo inclui notícias importantes sobre atualidades e informações globais, e não previsões do tempo e outros tipos de notícias “leves”.

– Os usuários de dispositivos móveis que acessam o noticiário através de apps passam mais tempo lendo o conteúdo, mas em seu total geral, a audiência para apps é pequena e, portanto, é fundamental saber quem são esses usuários.

– Os sites de redes sociais e de apps são fontes importantes de notícias para os usuários de redes sociais, embora a televisão continue sendo a principal fonte. No entanto, os usuários de redes sociais também dependem de amigos, contatos e pessoas que acompanham como fontes de notícias confiáveis, tanto ou mais do que dependem dos veículos jornalísticos.

– Os usuários de notícias acessadas por dispositivos móveis que são ativos nas redes sociais não se envolvem com o conteúdo da notícia apenas passivamente, mas também atuam off-line num contexto relacionado ao conteúdo.

Outros estudos sobre comportamento relacionado a dispositivos móveis dependem, em grande parte, de pesquisas de auto-referência, mas a Knight Foundation queria um quadro mais claro de comportamentos genuínos. Para obter dados sobre os usuários, a Knight Foundation trabalhou com o Painel Eletrônico de Aferição de dispositivos móveis da Nielsen, que fez uma análise das tendências de informações através de dispositivos móveis durante dois anos. O painel conta com um medidor dos dispositivos móveis que fica permanentemente ligado e monitora a atividade do usuário, tanto através de apps quanto por navegadores. A empresa Nielsen ainda realizou uma pesquisa complementar que avaliou o consumo de informações por apps em sites de redes sociais (por exemplo, lendo um artigo postado no Twitter ou no Facebook).

Tamanho da audiência e tempo gasto lendo notícias em dispositivos móveis

Existe uma audiência considerável para notícias via dispositivos móveis e muitos usuários passam o tempo do noticiário em plataformas sociais.

89% da população adulta norte-americana (144 milhões de pessoas) acessa notícias e informações através de seus dispositivos móveis. Embora a análise da audiência de notícias por dispositivos móveis mostre que ela cresceu 9% em relação ao ano anterior (ver Figura 3), esse aumento diminuiu recentemente, o que sugere que a audiência para notícias em dispositivos móveis pode estar chegando a um ponto de pouca ou nenhuma mudança.

Figura 1 Consumo de noticias em equipamentos móveis na população dos EUA

Figura 2 Consumo móvel mensal por tempo gasto na rede

Mas as atividades que as pessoas desempenham em dispositivos móveis estão mudando. Os dados mensurados pelo painel da empresa Nielsen mostram que quem procura notícias pelos dispositivos móveis dedica, em média, 5% de seu tempo por mês (ou mais de duas horas) ao noticiário (ver Figura 2). Entretanto, uma análise das mudanças realizada de ano a ano (ver Figura 3) sugere que o tempo gasto diretamente com apps móveis e sites diminuiu ao longo do ano passado. Essa diminuição representa uma disparidade em relação à considerável atividade jornalística que ocorre nas plataformas das redes sociais.

Na verdade, 27% do tempo que se gasta com dispositivos móveis (mais de 12 horas por mês) é com sites de redes sociais e a pesquisa complementar da empresa Nielsen mostrava que metade dois usuários de redes sociais passava o tempo lendo notícias; 70% dos usuários do Facebook, por exemplo, visita o Facebook diariamente para ler notícias.

Figura 3 Variação do consumo de notícias em equipamentos móveis entre 2013/2014 e 2014/2015. (Vermelho= variação do tempo gasto /Azul = variação da audiência)

Atualmente, quase 90% dos usuários de dispositivos móveis leem aí as notícias, mas esse tempo de leitura pode estar passando para as redes sociais.

Embora as organizações jornalísticas de alcance nacional (ou internacional), estejam fazendo experiências ativamente com dispositivos móveis e plataformas de redes sociais, muitos veículos locais e regionais foram mais lentos para migrar para as capacidades necessárias para se tornarem operações “digitais antes de tudo” – o que significa que seu fluxo de trabalho (e o conteúdo que desenvolvem) prioriza a produção para plataformas móveis e online, e não para veículos impressos. Mesmo as grandes editoras e os veículos online estão brigando para conseguir distribuir conteúdo digital através de canais sociais, como o Instant Articles, do Facebook, e obter a melhor receita possível para esta grande audiência.

Por que desenvolver um app de notícias?

Quem busca a notícia, passa um tempo considerável usando apps, mas as organizações jornalísticas precisam compreender os usuários para maximizar os lucros.

 

Figura 4 – Audiência média mensal de noticias por aplicativo

Os dados da pesquisa personalizada feita pela empresa Nielsen entre os dez principais sites de notícias em dispositivos móveis mostram que embora a audiência de notícias utilize em grande parte os apps e os sites, a maior parte do tempo dos dispositivos móveis é gasta com os apps (ver Figura 5).

Fig. 5 Acesso total por noticias

Fig. 5 Tempo total gasto com acesso à notícias online, por aplicativo e por pagina Web

No entanto, de uma maneira geral a audiência é muito mais limitada entre os apps. Como demonstra o estudo da empresa Nielsen, a audiência de Flipboard (um dos principais apps agregadores de notícias) é a única que manteve um crescimento contínuo, enquanto outras audiências dos principais apps vêm enfraquecendo.

Todas as organizações jornalísticas vêm lutando contra este problema, tentando determinar uma proposta de valor para desenvolver um app voltado para ficar centrado num site de reação a dispositivos móveis. A audiência para apps tende a ser de usuários “fortes” ou fiéis, mas a audiência que usa sites de not[ícias em dispositivos móveis (e não, apps) pode ser bastante diferente. As Figuras 6 e 7 destacam a considerável diferença entre o tamanho da audiência e o tempo gasto por mês em apps importantes, por oposição a sites de dispositivos móveis.

Fig.6 Tempo médio gasto pelos usuários segundo o canal de acesso à noticias online.

Fig. 7 Tempo médio mensal gasto por usuário

Uma discussão que surgiu a partir do valor dos apps mostra que algumas editoras acreditam que as discussões sobre a estratégia dos dispositivos móveis são muito centradas nos apps e em se construir um app compensa em função do tempo e dinheiro gasto. Outros apostam que se um app for bem projetado e a audiência for selecionada, poderiam vir a ocorrer oportunidades de uma receita considerável. Embora a resposta possa parecer diferente dependendo da audiência da organização jornalística e seu comportamento, essa área ainda está bastante aberta a experiências.

O tempo gasto em apps é alto, mas as audiências são muito menores

 

Fig. 8 Distribuição media mensal de canais acessados por usuário.

 

Que tipo de notícias o conteúdo domina nos dispositivos móveis

O acesso dos usuários de conteúdo e como o fazem varia de acordo com a plataforma.

Quase a metade do tempo gasto com notícias é naquilo que a pesquisa da empresa Nielsen classifica de “notícias de categorias múltiplas” e todas as atualidades e conteúdo de informações globais em sites e apps. No entanto, a previsão do tempo e sites referenciais e apps (inclusive sites importantes, como o da Wikipedia) são os mais populares em termos de tamanho de audiência e as atualidades e notícias do mundo vêm logo atrás. As notícias de categorias múltiplas incluem sites de notícias com várias áreas de conteúdo, como BuzzFeed, Mashable ou National Geographic. A Figura 8 mostra que o interesse dos leitores com dispositivos móveis (e uma quantidade considerável de tempo de noticiário nos dispositivos móveis) foi muito além daquele com informação referencial, ou “notícias leves”, como a previsão do tempo.

A pesquisa complementar no painel sobre redes sociais fornece dados sobre a frequência do consumo de notícias em apps sociais (ver Figura 9). As informações sobre a frequência sugerem que o tempo gasto coma leitura de todo tipo de notícia no dispositivo móvel é superior a 5% do tempo de rastreamento, considerando a predominância do uso do app.

Fig. 9 Frequência de uso de aplicativos de redes sociais parta busca de notícias.

O conteúdo de notícias acessado parece diferente nas redes sociais e entre as plataformas sociais. A pesquisa da empresa Nielsen também forneceu revelações do tipo de notícias consumido nas plataformas de mídia social. Como ilustra a Figura 10, as notícias de entretenimento predominam entre aquelas consumidas nas redes sociais e os padrões de consumo da notícia são semelhantes no Facebook, no Twitter e no Google+. No entanto, os padrões de consumo são diferentes no Instagram e no LinkedIn. O LinkedIn, por exemplo, é muito acessado por quem procura notícias para negócios tecnológicos ou financeiros, enquanto no Instagram prevalece o conteúdo relacionado ao estilo de vida.

 

Fig.10 Tipos de noticias consumidas por aplicativo

Como os usuários de dispositivos móveis se envolvem com o conteúdo da informação

Fig. 11 Fontes usadas para acesso às notícias

Quem procura notícias em dispositivos móveis envolve-se

online e off-line e confia no conteúdo compartilhado.

Os dados de comportamento e da pesquisa mostram que a audiência é muito grande para notícias em sites de dispositivos móveis e apps e continua crescendo nas plataformas sociais. Na realidade, os apps das redes sociais em dispositivos móveis e outros tipos de mídia competem como fonte de informação, arrastando não apenas a TV, mas puxando rádio, jornais e revistas para as redes sociais (ver Figura 11).

Além disso, foi perguntado às pessoas entrevistadas como elas recebiam as notícias em apps das redes sociais. Quem procura notícias depende de amigos, de contatos e de pessoas em quem confia como fontes de informação tanto ou mais do que depende dos próprios veículos jornalísticos.

Mas o que é que acontece depois que uma pessoa acessa a notícia e como é que ela se envolve com o conteúdo – tanto online quanto off-line?

 

Os dados da pesquisa personalizada encomendada à empresa Nielsen mostram que um grande número de leitores de notícias em redes sociais age após acessar as informações. Mais de 80% dos usuários do Facebook, do Twitter e do Instagram agem depois de acessar as notícias; a ação predominante é clicar em “curtir” (no Facebook e no Instagram) ou “retuitar sem comentário” . De maneira típica, os dados mostravam que as formas de envolvimento menos intensas são as mais comuns, mas formas de envolvimento de maior intensidade também eram notáveis. Por exemplo, 59% dos usuários do Facebook e 41% dos do Twitter revelaram que conversam sobre as notícias – pessoalmente e em outro lugar. Como os editores pensam sobre como gostariam que suas audiências se envolvessem com seu conteúdo, estas plataformas distintas oferecem revelações de oportunidades.

Conclusão

A primeira parte deste texto fornece um retrato das notícias por dispositivos móveis através de sites, apps e plataformas de redes sociais. Os dados mostram que ocorreu uma guinada fundamental no acesso às notícias via dispositivos móveis – e que o panorama continua a evoluir. Adaptar-se e alavancar oportunidades nestas tendências de audiências no comportamento da notícia é uma questão crítica para a sobrevivência de qualquer organização jornalística.

Para ler na íntegra o relatório baseado na pesquisa feita pela empresa Nielsen e encomendada pela Knight Foundation, visite o site: Mobile-First News: How People Use Smartphones to Access Information.