Nenhuma história vale a vida de um jornalista. A nota, estampada com destaque no site da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), traz um alerta e chama a atenção para uma realidade assustadora e inédita vivida pelos profissionais de comunicação. Noventa e quatro jornalistas a trabalhadores de mídia morreram em 2023. Dessa total, 72% na guerra entre Israel e o Hamas. Desde que a FIJ começou a registar o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, em 1990, este é o conflito mais mortífero para a profissão.
Desde 7 de outubro, mais de um profissional morre por dia, em Gaza. São 68 histórias abreviadas. Logo daqueles que têm tanto para falar. Um massacre que precisa de investigações minuciosas, ação global de proteção aos profissionais e medidas contra aqueles que ordenaram e executaram os ataques. Ainda assim, nenhuma ação será suficiente e capaz de recuperar o sangue que já foi derramado.
Apesar do entendimento de que como jornalistas fazemos valer o direito de acesso à informação a todos os cidadãos através do cumprimento do dever de informar, parece não estar claro para todos que os profissionais não são alvos, nem muito menos parte ativa da guerra. Jornalistas são civis que fazem um trabalho importante e em muitos casos, insalubre, em tempos de crise.
Shai Regev, jornalista israelense, foi sequestrada por seis dias pelo Hamas até que sua morte foi confirmada pela família. Salam Mema também foi alvo de um ataque em Gaza. Líder palestina entre mulheres jornalistas, a profissional foi resgatada dos escombros três dias após sua morte. Dezenas de escritórios de comunicação foram danificados e muitos profissionais já não possuem um lugar seguro para trabalhar. Ahmed Fattouh, Mousa Al Barsh, Ahmed Al-Qara e tantos outros colegas de profissão fazem parte agora da estatística. Irônico e triste. Logo os números e dados que tanto buscamos para embasar histórias e notícias.
As Forças de Defesa de Israel já informaram às agências de notícias Reuters e AFP que não conseguem garantir a segurança de seus jornalistas que operam na Faixa de Gaza. A Federação Internacional de Jornalistas faz alertas constantes sobre os perigos da cobertura jornalística. Então, chega não?
Não podemos nos acostumar com a ideia de que jornalismo é uma profissão arriscada. Intimidação, hostilização e perseguição não podem fazer parte da vida de um profissional de comunicação se já conquistamos como garantia do nosso trabalho a liberdade de imprensa. Por mais que o amor a profissão fale alto, a preocupação em manter o trabalho e até mesmo a adrenalina em busca da informação sejam latentes é preciso saber quando chega a hora de parar.
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Erica Pontes de Faria é jornalista e pós-graduada em Mídias Digitais. Atua há 15 anos na definição de estratégias e planejamento de conteúdo.