Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Associação de correspondentes em Genebra denuncia Serviço de Informação da ONU

(Foto: Tiberio Barchielli/Palazzo Chigi)

A associação dos jornalistas correspondentes da imprensa internacional na ONU, em Genebra, se mobiliza e pretende encontrar o secretário-geral António Guterres para denunciar o que considera violação, por parte do Serviço de Informação da ONU, do artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos.

Criada em julho de 1928, junto à antiga Sociedade das Nações em Genebra, a APES — Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça — , é uma das mais antigas associações de jornalistas profissionais na Suíça. Com 92 anos de existência, sua sede inicial era no hotel Bellevue de Berna, mas acabou transferindo sua sede para o prédio do Palácio das Nações.

Até quando não se sabe, pois Alessandra Vellucci, a italiana diretora do Serviço de Informação, UNIS desde 1 de junho de 2016, já indagou ao francês Jean Musy, presidente da APES, quem lhe autorizara colocar o Palácio das Nações da ONU, em Genebra, como o endereço da sede da associação dos jornalistas correspondentes, APES.

Indagação que provoca perguntas — isso significa uma forte ameaça de despejo da Salle de Presse I e do uso da caixa postal da APES, no Palácio das Nações da ONU, onde recebe a correspondência? Isso também significa que a direção da APES não poderá mais fazer suas reuniões mensais da direção e as reuniões com os jornalistas correspondentes a ela filiados, em reuniões plenárias ordinárias e para a eleição de sua diretoria?

Em todo caso, as relações que sempre foram boas, entre o Serviço de Informação da ONU e a associação dos jornalistas correspondentes, parecem andar estremecidas.

Uma outra causa, é a informação de que a diretora da UNIS teria decidido diminuir o número de credenciamentos da ONU para jornalistas correspondentes residentes na Suíça, além de ter passado a exercer um controle severo sobre os correspondentes.

Esse controle chega a ser estranho, pois consiste em perguntar aos entrevistados, pertencentes ao quadro da ONU, quanto à qualidade e competência do jornalista entrevistador.

De onde teria partido essa nova orientação? De Nova Iorque ou de Genebra, indaga Jean Musy à diretora Alessandra Vellucci.

Musy quer também saber porque os correspondentes dos órgãos de imprensa Diva, da Inglaterra, e Efsyn, jornal grego, não foram devidamente credenciados e seus pedidos recusados.

A nova orientação afeta principalmente os jornalistas independentes, a maioria dos correspondentes na ONU.

Jean Musy se inquieta também quanto ao funcionamento do correio dos jornalistas dentro da ONU, citando o caso de um volumoso pacote de Vales de Reduções de Viagens para jornalistas, oferecidos pelo governo suíço e desaparecido dentro do Palácio das Nações, mesmo tendo sido enviado como pacote registrado pelo Departamento suíço de Negócios Estrangeiros.

O presidente da APES considera o controle do trabalho dos jornalistas dentro da ONU como “um atentado ao direito do trabalho dos jornalistas e à liberdade de imprensa” e pede uma imediata cessação desse tipo de controle sobre os jornalistas.

Depois de um encontro infrutífero com Alessandra Vellucci e na falta de uma breve solução para essas pendências, a direção da associação dos correspondentes na ONU, em Genebra, vai pedir a intervenção do secretário-geral da ONU, António Guterres, depois de tornar pública a situação.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.