A péssima campanha que o Cruzeiro Esporte Clube realiza no Campeonato Brasileiro deste ano ressuscitou uma prática corriqueira durante a ditadura militar no Brasil: perseguição política a jornalistas que tecem críticas aos desmandos da gestão do presidente Gilvan de Pinho Tavares. A interferência do clube no dia-a-dia de jornais fez uma vítima recente no jornal O Tempo, um dos principais periódicos de Minas Gerais (http://www.sjpmg.org.br/2015/08/sindicato-denuncia-intimidacoes-a-jornalistas-pelo-cruzeiro-esporte-clube/). Sem dúvida, um gol contra a liberdade de expressão.
Para entender a demissão do repórter Guilherme Guimarães, torna-se necessário contextualizar como ocorreu o episódio envolvendo o repórter de O Tempo. O jornal pertence ao Grupo Sada, um dos grupos econômicos mais fortes de Minas Gerais e patrocinador do time de vôlei do Cruzeiro Esporte Clube, tricampeão brasileiro da modalidade. O presidente e fundador do Grupo Sada é o ex-deputado federal Vittorio Medioli. Ele e seu irmão Alberto Medioli integram o conselho deliberativo do Cruzeiro.
O responsável pela assessoria de imprensa do Cruzeiro, jornalista Guilherme Mendes, monitorou as postagens críticas que o jornalista de O Tempo fez em seu Twitter pessoal sobre o momento turbulento do time, que beira a zona de rebaixamento e luta para não ser rebaixado pela primeira vez à segunda divisão. Guilherme Mendes, então, procurou Alberto Medioli e pediu a cabeça do repórter. Motivo: as críticas legítimas a Gilvan de Pinho Tavares.
O pedido de demissão feito por Guilherme Mendes sequer foi contestado. Medioli entregou a cabeça de seu repórter depois do pedido feito pelo assessor de imprensa do Cruzeiro Esporte Clube. Num momento em que o mundo inteiro pede transparência no futebol, é inaceitável que um jornal censure seus profissionais a mando de um clube de futebol.
O episódio de O Tempo reforça como os donos dos veículos de comunicação em Minas Gerais jogam por terra os princípios de liberdade que sempre estiveram presentes na história do estado. O Cruzeiro, por meio de seu presidente e do seu assessor de imprensa, comete um lamentável gol contra.
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Fábio Militão é professor de Educação Física