O julgamento secreto dos jornalistas turcos Can Dündar e Erdem Gül começou no final da semana passada (01/04/2016), em Istambul, cercado por violentas críticas internas e internacionais. Uma das vozes com mais autoridade para falar em nome dos jornalistas – a representante da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa, Dunja Mijatović – repetiu suas preocupações pedindo que a acusação fosse cancelada. Ela disse: “O encarceramento de jornalistas por divulgarem assuntos de interesse público nunca é aceitável. Além do mais, a responsabilidade pela proteção de segredos de Estado é das autoridades, e não de jornalistas.”
Can Dündar, editor-chefe do jornal Cumhuriyet, e Erdem Gül, chefe da filial do jornal em Ankara, enfrentam penas de longa duração caso sejam condenados pelas acusações de supostamente terem revelado segredos de Estado num artigo em maio de 2015.
Em fevereiro, o tribunal constitucional do país determinou a soltura dos dois jornalistas que aguardam julgamento afirmando que seus direitos à liberdade de imprensa e de expressão, assim como o direito à segurança pessoal, haviam sido violados. Mas, no dia 25 de março, um tribunal de Istambul determinou que seu julgamento começasse a portas fechadas, depois que um promotor disse que as provas a serem apresentadas incluíam segredos de Estado. Essa decisão foi condenada por grupos de direitos humanos e por 100 escritores internacionais, que assinaram uma carta exigindo que as acusações fossem canceladas.
Segurança do presidente maltrata jornalistas
Dunja Mijatović disse: “Continuo com a esperança que as autoridades turcas reconheçam a importância deste caso e o impacto que ele pode ter sobre a situação da liberdade de imprensa no país.” Ela também disse que ações judiciais envolvendo jornalistas “não deveriam ser julgadas a portas fechadas. A transparência deveria ser garantida pelas autoridades e deveria prevalecer o direito público à informação”.
Aguardava-se a presença do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, no tribunal. No momento, ele encontra-se nos Estados Unidos, onde seus guardas de segurança foram acusados de maltratar jornalistas que tentavam cobrir seu discurso em Washington.
Adem Arslan, um jornalista do jornal liberal Özgür Düşünce, disse que os guardas tentaram retirá-lo da sala de espera da Brookings Institution, um centro norte-americano de pesquisas [think tank]. Uma segunda jornalista, Amberin Zaman, ex-correspondente do semanário The Economist na Turquia, disse que um dos guardas de Erdoğan a chamou de “puta do PKK” [Partido dos Trabalhadores do Curdistão, de tendência esquerdista]. Um terceiro jornalista, Emre Uslu, que trabalhava para o Today’s Zaman, o maior jornal da Turquia – ocupado, no mês passado, pelo governo turco – mostrou aos repórteres uma ferida na perna que disse que fora provocada por um chute de um dos guardas.
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Roy Greenslade é professor de Jornalismo e tem um blog no Guardian