Dois jornalistas turcos que passaram três meses na cadeia foram soltos na quinta-feira (25/02) por determinação do Tribunal Constitucional do país. O tribunal decidiu que os direitos de Can Dündar, editor-chefe do Cumhuriyet, e do chefe da sucursal do jornal em Ancara, Erdem Gül, haviam sido violados. Eles passaram três meses presos por terem publicado um artigo sobre o envio de armas da Turquia para a Síria. Agora, enfrentam a possibilidade de prisão perpétua no próximo julgamento.
Segundo o tribunal, a prisão por terem divulgado uma suposta transferência ilegal de armas da Turquia para a Síria é uma violação de seus direitos à liberdade e segurança, ao direito de se expressarem livremente e à liberdade de imprensa. Entretanto, os dois jornalistas – que estão em liberdade sob a condição de não se ausentarem do país – ainda enfrentam uma possível condenação perpétua num processo por terrorismo, que será julgado a 25 de março.
Can Dündar e Erdem Gül foram presos no dia 26 de novembro sob a acusação de fazerem parte de uma organização terrorista, de espionagem e de revelarem documentos confidenciais. O presidente Recep Tayyip Erdoğan, que considerou o texto do jornal Cumhariyet parte de uma tentativa para boicotar a posição global da Turquia, disse que não iria perdoar a matéria.
A prisão de dois jornalistas devido à sua atividade meramente jornalística provocou severas críticas por parte de organizações jornalísticas e grupos jornalísticos na Turquia e pelo mundo todo.
Quando Can Dündar saiu da cadeia para cumprimentar uma multidão que o esperava, ele falou aos repórteres: “Me desculpem por tê-los feito esperar tanto. Vocês sabem que amanhã, dia 26, é o aniversário do presidente Erdoğan e nós estamos felizes por poder comemorar seu aniversário com esta decisão de soltura.” Ele elogiou a decisão do tribunal constitucional, considerando-a “histórica”. Representa uma abertura, disse ele, “não só para nós, mas para todos os nossos colegas em termos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Não sentimos rancor nem estamos irritados, mas estamos determinados a lutar. Continuaremos a nos defender e nossas vozes soarão mais alto”.
Ele destacou que mais de “30 de nossos colegas estão presos. Espero que esta decisão judicial também lhes dê a liberdade”. Can Dündar também falou da matéria que os levou à prisão e que mencionava caminhões do serviço secreto turco indo para a Síria no início de 2014. “Quisera que essa matéria não tivesse ido para baixo do tapete naquela época e que a Turquia tivesse podido evitar o atoleiro [na Síria]”, disse ele.
Erdem Gül também deu uma curta declaração. “Nós fomos soltos, mas isso não significa que a questão de jornalistas presos tenha acabado”, disse. “Temos amigos atrás das grandes e nossa luta por eles terá que continuar. A partir de agora, essa unidade irá continuar diante das pressões que a imprensa vem sofrendo.”
Fontes: Hurriyet Daily News/Today’s Zaman
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Roy Greenslade é jornalista e tem um blog no jornal The Guardian