Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Democracia forte tem ligação direta a uma imprensa livre e atuante

(Foto: Microgen/Getty Images Pro)

No caminho da comunicação que traço na comunicação há uma regra que para nós, profissionais da imprensa é primordial: imprensa livre é sinônimo de democracia.

O último levantamento realizado pelo Atlas da Notícia, projeto de jornalismo de dados com objetivo de mapear os veículos produtores de notícias, mostra que 26,7 milhões de brasileiros estão sem acesso a notícias sobre o lugar onde vivem. Apesar de uma leve melhora neste indicador, incentivos para ampliar a atuação dos jornalistas se faz necessária e urgente em um país em que a liberdade de imprensa se encontra em baixa e indicadores revelam um nível democrático abaixo do desejável.

Quase metade dos 5.568 municípios brasileiros foram classificados, em 2023, como “desertos de notícias”.

Outro dado relevante mostra que 39 veículos de comunicação foram fechados, totalizando 942 organizações de comunicação encerradas nos últimos anos, no Brasil. Deste número, 532 jornais eram impressos que foram extintos.

O Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa de 2023, do Repórteres sem Fronteiras, que compara a falta de liberdade dos jornalistas e meios de comunicação a pressões políticas e econômicas em 180 países, mostrou que o Brasil subiu 18 posições, porém ainda está em 92º lugar, revelando que ainda estamos longe de sermos um estado democrático de direito que respeita o jornalismo como ferramenta de fiscalização dos poderes.

Outro indicador importante para medir o respeito de um país às suas instituições, especialmente a imprensa livre, é o V-Dem (Varieties of Democracy, variedades de democracia, em português), produzido pelo instituto de mesmo nome, localizado na Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Este estudo coloca o Brasil em 58ª no ranking de democracias, de um total de 179 países. Em sua análise sobre os resultados obtidos, o estudo conclui que o país se encontra entre os 10 maiores “autocratizadores” do mundo, ou seja, um país que centraliza o poder na figura do presidente (até 2022, segundo o relatório).

Os números apresentados demonstram que a polarização para mobilização, tanto pela democracia como pela autocracia, aumentou no período pós-pandemia e atingiu o pico durante a campanha de 2022.

O estudo ainda faz uma análise histórica e afirma que a extrema direita se mobilizou fortemente a favor da autocratização desde 2016, ano em que o Índice de Democracia Liberal (LDI) começou a declinar no Brasil. Fato que contribuiu para eleger o candidato que venceu as eleições em 2018, no país.

Protestos e movimentos em defesa aos direitos das mulheres e direitos ambientalistas contrastaram com os interesses da extrema direita, além da má gestão no período pandêmico daquele governo, polarizaram o país novamente. Nas eleições de 2022, indicadores como o índice de eleições limpas deterioraram-se, chegando a apresentar número negativo (-1.4).

Embora a polarização permaneça em níveis elevados e possa manter a desestabilização da democracia no Brasil, os dados apresentados mostram ligeiros sinais de melhoria.

Que esta tendência se consolide mais e mais. Como disse Winston Churchill, afinal, “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela”.

***

Rennata Bianco é jornalista e diretora de Comunicação Social da prefeitura de Ribeirão Preto. Atuou como redatora, repórter e apresentadora em veículos impressos e emissoras de televisão. Especialista em comunicação com foco em gestão de crises