Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cinco livros indispensáveis para refletir sobre as redes sociais

Sou professor e pesquisador no Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA) na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Por dever de ofício, tenho que me manter atualizado sobre os livros que discutem diversos aspectos da internet e das redes sociais.

O maior desafio é a velocidade das mudanças. Como dizia McLuhan: na era das tecnologias, se funciona, já é obsoleto. Por isso, me incomodo muito quando vejo, sobretudo nas bancas de avaliação, estudantes empregando bibliografias desatualizadas e frequentemente inadequadas para a crítica dos fenômenos contemporâneos. A falta de boas referências costuma induzir a interpretações muito simplistas e idealizadas dos problemas estudados.

Isso me levou a selecionar um conjunto de obras indispensáveis para servir de ponto de partida para uma leitura crítica das questões do atual contexto das tecnologias da comunicação. Esta lista menciona as obras que eu costumo utilizar nos seminários da disciplina. São autores acessíveis não apenas a estudantes de Comunicação, mas a qualquer leitor interessado em compreender as implicações da vida digital. Ou seja: não se trata de livros acadêmicos com linguagem especializada, mas de obras de divulgação, direcionadas ao público em geral.

Brinco com meus alunos que, se fosse obrigatório tirar algum tipo de carteira de habilitação para “navegar” na internet, essa poderia muito bem ser a bibliografia básica. As obras oferecem um olhar crítico importante que todos deveriam conhecer. Naturalmente, não esgotam o assunto. Mas despertam reflexões indispensáveis.

O Filtro Invisível (2012)
Eli Pariser
Este livro de 2012 popularizou o conceito de “bolhas” e “filtros invisíveis” na internet. Ele descreve o modelo de negócio do Google e explica os problemas da personalização excessiva de conteúdos nas redes sociais. Para Eli Pariser, ao redirecionar conteúdos de que já estamos dispostos a gostar, os algoritmos restringem nossa experiência e prejudicam a criatividade, a inovação e o próprio convívio democrático com as diferenças. Ao final, ele aponta o que podemos fazer para melhorar nossa experiência digital.

Acredite, estou mentindo: confissões de um manipulador de mídias (2014)
Ryan Holiday
É um livro devastador. Ryan Holiday é um profissional de relações públicas que decidiu contar todos os truques sujos empregados para promover empresas, artistas e políticos através das vulnerabilidades do público, dos blogs e da imprensa. É um livro importante que nos faz perder qualquer ingenuidade diante conteúdos que parecem autênticos. Sua visão sobre as notícias que circulam nas redes sociais vai se transformar drasticamente depois deste livro.

Contágio: por que as coisas pegam (2014)
Jonah Berger
Analisa os fatores que favorecem a viralização de conteúdos. Não se trata de uma obra propriamente crítica. Ao contrário, Berger procura demonstrar as estratégias de marketing que tendem a funcionar no ambiente digital através de vários estudos de casos de sucesso. Mas é um livro importante para nos ensinar a interpretar as mensagens virais.

 

Trabalho focado: como ter sucesso em um mundo distraído (2018)
Cal Newport
Livro indispensável para as atuais gerações. Cal Newport firma uma crítica poderosa sobre as redes sociais, interpretadas como verdadeiras máquinas de distração que se apresentam como inevitáveis apenas porque lucram fortunas com a atenção dos usuários. Ele alerta para os problemas relacionados à falta de concentração nos estudos, no trabalho e nos relacionamentos. Um livro muito importante para todos, que não deve ser confundido com apenas uma obra de autoajuda ou um mero manual de empreendedorismo.

Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais (2018)
Jaron Lanier
Apesar da escrita displicente e redundante, é um manifesto que deve ser lido por todos. Você pode até mesmo discordar de Lanier e manter suas contas nas redes sociais, mas ler este livro vai deixá-lo menos ingênuo em relação às consequências de sua decisão. Lanier explica como o modelo de negócio das redes sociais se tornou prejudicial ao ponto de inviabilizar uma experiência genuinamente saudável e produtiva. Insisto: você pode até discordar de Lanier. Mas não é uma boa ideia apenas ignorá-lo.

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André Azevedo da Fonseca é professor e pesquisador no Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).