A coleção Black Power, da Editora Mostarda, publicou três livros biográficos sobre jornalistas negros. Luís Gama, João do Rio e Glória Maria têm suas histórias de vida contadas em obras dedicadas ao público infantojuvenil.
As publicações integram a coleção que procura retratar o pioneirismo e a representatividade de personalidades negras em diversas áreas, como a literatura, o jornalismo, a política, as ciências, o ativismo social e as artes. Os três jornalistas figuram ao lado de biografias do geógrafo Milton Santos, do escritor Machado de Assis, do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, e da escritora Conceição Evaristo, entre outros mais de 30 títulos.
Luís Gama (1830-1882), além de jornalista, foi advogado e escritor, e participou ativamente do movimento abolicionista. Escravo até os 10 anos de idade e analfabeto até os 17, Gama atuou em vários veículos de comunicação e também foi fundador de jornais. Em vários veículos, assinou textos com o pseudônimo de Getulino, que, na década de 1920, batizaria um dos primeiros periódicos da comunidade negra do Brasil, fundado em Campinas.
A biografia de Gama é assinada pelo jornalista Francisco Lima Neto, também repórter na Folha de S. Paulo, e ilustrada por Leonardo Malavazzi e Kako Rodrigues.
João do Rio (1881-1921) é considerado o precursor da reportagem e da crônica no Brasil. No Rio de Janeiro da Belle Époque, ele foi o responsável por publicar textos memoráveis, fruto de esforço de reportagem nas ruas e que levavam para as páginas dos jornais personagens até então silenciados, como prostitutas, mãe de santos e estivadores.
A série de reportagens “As religiões do Rio”, transformada em livro em 1904, é considerada a primeira publicação a tratar da diversidade religiosa no Rio de Janeiro, logo após a Proclamação da República, que conferiu liberdade de culto aos brasileiros. João do Rio é até hoje o mais jovem a tomar posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), para a qual foi eleito aos 29 anos.
A biografia é de autoria do jornalista e professor do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fabiano Ormaneze. As ilustrações são de Douglas Reverie.
Glória Maria (1949-2023) foi a primeira repórter negra da televisão brasileira. Com uma carreira de mais de 40 anos na Rede Globo, ela protagonizou a primeira transmissão ao vivo em cores para o Jornal Nacional, em 1977, além de entrevistar artistas conhecidos mundialmente, como Madonna e Michael Jackson. Foi ainda introdutora da prática do repórter que conta as próprias experiências nas reportagens.
Glória também é lembrada por ser a primeira pessoa na história do Brasil a usar a lei Afonso Arinos, vigente na época em que o racismo era considerado contravenção penal e não crime, como é hoje. Também passou por racismo com o ex-presidente João Baptista Figueiredo, o último a ocupar o cargo na Ditadura Militar.
A biografia foi escrita pelo jornalista Duílio Fabbri Júnior, professor da Faculdade Cásper Líbero e reitor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal). As ilustrações são de Manoela Costa.
Redação Observatório da Imprensa