Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O ano do riso na televisão brasileira

“A televisão aberta está perdendo público jovem para a internet, a TV paga e, agora, a TV conectada, como Netflix. A TV tradicional aberta está virando uma mídia de tiozinho”, afirma o especialista em televisão Gabriel Priolli ao iG. Nesse cenário, não é mera coincidência a estreia de novas atrações humorísticas na TV, além dos já tradicionais “A Praça é Nossa”, do SBT, e “Zorra Total”, da Globo, e dos mais jovens “CQC” e “Agora É Tarde”, agora com Rafinha Bastos, da Band. 

As grades de programação das emissoras Globo, Record, SBT e Band lançadas recentemente provam que 2014 é o ano do riso na televisão brasileira. “Certamento esse conteúdo de humor – e de música pop também –, é o que mais agrada o jovem, e toda vez que se debate a questão: “precisamos falar com jovens”, o humor entra sempre em pauta porque é básico e, de quebra, ainda facilita essa integração com as redes sociais”, explica Priolli sobre a característica contemporânea da convergência de conteúdos e público da TV com a internet. “Sabe-se que quase a metade dos telespectadores tuítam em frente aos televisores ligados”, emenda.

Humor no SBT

Com a ida de Danilo Gentili para a emissora de Silvio Santos para comandar o “The Noite”, mais um programa foi criado na “TV mais feliz do Brasil”, como diz o slogan do canal. Soma-se ao grupo de atrações para fazer rir o “Okay”, de Otávio Mesquita, no qual o apresentador fará performances que pretendem ser engraçadas e vai reviver a drag queen Tábata Abusada nas madrugadas do SBT.

“Me sinto muito à vontade para falar sobre humor porque não sou humorista, sou bem-humorado. O cara já passa o dia a dia vendo coisa ruim, por que ele vai querer ver o Otávio Mesquita entrevistando um político sério? Não dá, não rola, então tem que ter brincadeira, o Otávio tem que estar bem-humorado. Também é por isso o sucesso do late show do Danilo (Gentili). O humor hoje é a fórmula do sucesso”, diz Otávio, negando que o formato comprometa o faturamento das emissoras.

“O sucesso comercial do ‘Pânico na Band’, por exemplo, é incrível. O Danilo já está com cinco consultas de patrocínio. Os programas estão indo bem”, revela, apontando entretanto que a falta de limite pode ser um problema para o humorista de televisão. “O ????Rafinha Bastos???? colocou uma crítica ao comercial da Friboi no Youtube mas aquilo era dispensável. É uma brincadeira que cabe no stand up, mas não cabe em uma rede pública porque tem interesses envolvidos, anunciantes e tal. Ele tem o direito de fazer, eu achei divertido, ri, mas foi no local e momento errados. O apresentador e o humorista têm que ter essa sensibilidade de saber se isso vai ser legal ou não, a liberdade dele é até a página cinco, ele tem que ter senso comercial e saber até onde pode ir”, alerta.

Globo prefere correr o risco

Também a Globo mostrou grande interesse pelo gênero ao inovar no lançamento de “Divertics” nas tardes de domingo, até então destinado aos programas de auditório, e planejar para o mês de abril a volta de Marcelo Adnet no comando de “Tá No Ar”, ao lado de Marcius Melhem, às quintas-feiras na faixa que já foi de “Amor & Sexo”, de Fernanda Lima. A intenção é satirizar os programas da emissora, formato que faz falta desde o extinto “Casseta & Planeta” – nos bons tempos.

“A Globo certamente não fez isso por impulso. A grade da Globo é muito engessada de certa forma tal a preocupação em não errar porque cada erro é um prejuízo muito grande. Por isso, quando a emissora lança uma coisa nova, não é por acaso. Geralmente, eles fazem programa piloto para testar com o público por meio de um grupo de discussão”, conta Priolli, que lamenta a pausa de Adnet após o fim do seriado “O Dentista Mascarados”, em 2013.

“Sinto falta dele porque, ao lado do Fábio Porchat, para mim, ele é o melhor de todos, mas foi abduzido pela Globo para ser neutralizado. Vamos ver o que ele tende a realizar já que a liberdade na emissora dificilmente será a mesma que ele tinha”, aponta.

Record aposta no bom humor de Sabrina Sato

Na linha de programas de auditório, a aposta da Record é na versatilidade e bom humor de Sabrina Sato aos sábados. Ela é carismática e costumava fazer o público se divertir quando ainda era da trupe do “Pânico”.

“Todos os canais estão investindo bastante no humor, acho muito bacana isso. Este é o momento do humor. As emissoras estão investindo porque está precisando, o mercado está pedindo porque está dando certo. Fico muito feliz com esse cenário, é um sinal de que todo mundo quer se divertir. E o humor brasileiro tem uma característica muito bacana porque é diversificado, tem aquele humor herdado dos talk shows americanos, mas sem perder a característica do humor brasileiro”, opina Sabrina.

O humorista e jornalista Rafael Cortez, que ficou famoso ao integrar o elenco do “CQC” por cinco anos, vai além. ”O humor produz serotonina, libera endorfina. O humor faz bem”, diz.

“Acho eficiente e muito oportuno que a televisão aberta esteja ampliando o humor por causa do ambiente político carregado deste ano eleitoral, bem mais do que estava em 2010. É uma grande responsabilidade estimular o humor e fazer as pessoas relaxarem nesse clima de tensão política que se estabelece na programação. O humor é a melhor forma de fazer as pessoas refletirem em ano eleitoral, é dando risada e relaxando que o público tem condições de pensar nas escolhas e decisões”, conclui Priolli.

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Patrícia Moraes, do iG Gente